Se há territórios susceptíveis de sentir imediatamente e em alto grau o efeito de depressões económicas e abalos políticos em países vizinhos, Moçambique ocupa um dos primeiros lugares. Em parte esta vulnerabilidade é devida à sua posição geográfica, sobre o Índico, numa longa faixa da costa, com os portos que drenam uma grande parcela do tráfego da antiga Federação das Rodésias e Niassalândia, hoje países independentes ou desejosos de o ser, na verdadeira acepção do termo, sem o conseguir.
A delicadeza e vulnerabilidade desta posição geográfica e as cobiças, ódios e ambições que se desencadeiam em seu redor impõem uma administração cautelosa e firme, serena e imparcial, que em certos momentos pode não se ajustar ao progresso da província.
O exame das contas não pode esquecer estes condicionamentos, que afectam indirectamente todos os territórios nacionais, solidários na abundância e na sobriedade. Eles são, no fundo, inerentes a uma Nação multirracial espalhada pelo Mundo.
Os condicionamentos, derivados da posição geográfica de Moçambique firmam-se em grande parte nas actividades dos transportes terrestres, através dos seus caminhos de ferro o portos, que drenam uma percentagem muito alta do comércio externo de países limítrofes.
A influência deste serviço prestado a zonas do interior, já foi maior do que agora na economia da província. Mas ainda assim as receitas provenientes do tráfego dos caminhos de ferro os portos atingem cerca de um terço das receitas totais. O desenvolvimento nos últimos anos, da economia interna tem diversificado a origem das receitas, pela criação de matéria tributária. Mas a produção precisa de ser muito melhorada, em volume e em qualidade, de modo a reduzir os efeitos de crises em países vizinhos e a orientar o processo económico numa base mais estável, que não esteja tanto à mercê de acontecimentos internacionais. O déficit do comércio externo está a avizinhar-se do nível perigoso de 2 milhões de contos. Parecia, pelos números dos últimos anos, que o saldo negativo da balança do comércio se estabilizara em cifra muito inferior e que seria possível, com um esforço construtivo na produção, reduzi-lo gradualmente para cifras mais baixas. Os resultados de 1965 desvaneceram esta expectativa. Há certamente razões que explicam o surto degressivo, há sempre razões para tudo, mas o problema subsiste e convém encará-lo de frente.
Comércio externo
Desta desfasagem derivou o déficit de l 873 898 contos, mais 425 816 contos do que no ano anterior.
A economia da província não pode continuar a suportar os déficits crescentes dos dois últimos anos - l 448 082 contos, em 1964, com o aumento de 266 996 contos (cifras corrigidas), e l 873 898 contos, em 1965, com um aumento de 425 816 contos. Em dois anos o acréscimo aproxima-se de 700 000 contos.
Este problema tem de ser ponderado com o firme propósito de o resolver, porque se reflecte na balança de pagamentos e de um modo geral na actividade provincial.
A seguir indicam-se as importações, exportações e saldos dos últimos anos
Foi o grande aumento nas importações que agravou o déficit. Já o ano passado o aumento ultrapassara 400 000 contos. Nos dois últimos anos as importações tiveram acréscimo superior a 900 000 contos.