Para tal tareia, basta que Serviços de Agricultura disponham de possibilidades financeiras que lhes permitam uma programação de ordem prática, pondo os seus técnicos a trabalhar no campo das realizações, abandonando a (...) de papeis em que vêm perdendo muito do seu precioso tempo, tão necessário no acompanhamento das tarefas de culturas nativas.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - O Instituto dos Cereais, que vem realizando várias experiências deste género na cultura de determinados produtos, pode já hoje avaliar das possibilidades, futuras no campo da agricultura nativa mecanizada.

A produção do milho, que, mercê de circunstâncias várias, baixou vertiginosamente nos últimos anos pode e deve constituir uma cultura de vulto. Embora sendo uma cultura relativamente pobre em cotação, ela pode ocupar lugar especial nas nossas produções se não para exportação, pelo menos para consumo interno, fechando desta forma as portas à sua importação, que em 1965 atingiu a elevada cifra de 83 000 contos!

O reparo do ilustre relator das Contas e o seu comentar sobre a importação de milho naquela província são bem claros e muito significativos, quando pergunta não poderemos nós fazei a cultura de milho em Moçambique paia as nossas necessidades?

Para esta pergunta temos de confessar que só encontramos uma resposta, e que esta é, com certeza, afirmativa.

Mas, Sr. Presidente, o aumento das exportações, que todos desejamos, não depende somente das culturas nativas.

Existem em Moçambique grandes propriedades de culturas permanentes que muito posam na nossa balança comercial e que muito contribuem para a entrada de divisas estrangeiras, tão necessárias a uma boa posição cambial.

Todas essas unidades, que tanto valorizam a economia de Moçambique, tem de ser olhadas com o maior carinho, receber o maior auxílio, porque elas representam, para além de grandes valores económicos da província, um verdadeiro estrilo na vida e economia doméstica de milhares de almas que naquelas plantações ganham o pão de cada dia, recebem assistência médica em hospitais privativos modelares, gratuitamente, para si e seus familiares têm escolas, cinema, desportos e vários divertimentos que estariam inibidos de usufruir se, por hipótese, por falta de auxílio e melhor compreensão de algumas autoridades administrativas menos conscientes, essas actividades económicas paralisassem.

Sem uma economia forte -e essa ideia firme tem de estar sempre na nossa mente -, todo o esforço que as nossas heróicas forças armadas estão dando para mantermos a nossa integridade territorial e protecção às nossas populações estaria condenado a um perfeito fracasso

É lógico concluir que sem uma economia alicerçada em bases sólidas nada pode subsistir.

Mas, Sr. Presidente, para conseguirmos os fins que neste sector pretendemos atingir, para alcançarmos a meta desejada que nos permita fortalecer toda a nossa economia é mister mentalizar as populações autóctones numa inteligente política de valorização do homem através do trabalho, elemento que considero básico para ajuda da nossa economia, cujos resultados vão a reflectir-se numa melhoria de vida das populações, que sempre vimos ensinando e elevando dentro dos princípios civilizadores que sempre nos têm orientado.

Sem trabalho, um trabalho acessível a todo o homem fisicamente válido - factor importante cujo interesse devemos, e persistentemente, despertar nas populações -, não é possível caminhar progredir e, consequentemente, avançar na ascensão social que tanto perfilhamos.

É essa vontade para o trabalho que temos de saber despeitar nas populações autóctones, através da instrução de uma política coerente, moral e activa que leve o indivíduo ao trabalho mais interessado, mais assíduo, paia seu bem e paia o bem comum.

Uma política que informe dos mais sagrados deveres morais, conduzida em moldes tais que seja bem compreendida pelas massas, terá os seus frutos, de que todos beneficamente, no presente e no futuro.

Ela deve funcionar como elemento de valorização humana e, como consequência, reprimir a vadiagem, que tanto prolifera nalguns pontos de quase todas as nossas províncias ultramarinas.

O autóctone é, por índole nalguns pontos, refractário ao trabalho. Cabe-nos a nós, como seus mentores, como seus protectores, libertá-lo desse mal.

Não encontro outra palavra que tão claramente traduza e defina a ociosidade, o desinteresse pelo trabalho, que vem sendo um vício consentido, nem me entenderia quem, por favor da imprensa, venha a ler estas palavras, se não chamasse às coisas pelo seu próprio nome.

A vadiagem é um mal que requer constante e especial assistência, e até amparo de ordem moral e espiritual, pois conduz a maus caminhos quem dela se deixa apossar, criando problemas à nossa administração e tendo por vezes reflexos de certa gravidade.

Assim o entendemos pelos ensinamentos e pela prática que temos granjeado ao longo de algumas décadas nas próprias terras e entre a própria gente com quem privamos, dando-lhes conselhos, auscultando os seus anseios e ouvindo os seus próprios queixumes, quantas vezes a transbordar de razão.

Assim o têm entendido também alguns novos estados africanos, onde uma política acérrima de «trabalho para todos» ocupa lugar especial na agenda desses estados.

Lembro-me a propósito, de certas afirmações produzidas já há anos por um grande chefe negro em representação de um desses estados novos africanos, num congresso mundial do trabalho. Dissertando sobre temas de trabalho, protecção ao trabalhador, etc , dizia, em tom de quem está senhor da matéria e em ar de quem dita leis ao mundo:

No meu país o trabalho é livremente obrigatório.

Perante tal paradoxo, logo nasceu a perplexidade em todo o auditório, mas o chefe negro, calmo e dominando o assunto pela velha prática adquirida, continuou afirmando:

Obrigatório, o trabalho para todos, livre, a escolha de trabalho ou da entidade patronal.

Exmo Sr. Presidente uma afirmação que me merece respeito pelo seu conteúdo humano, moral e até espiritual, que enobrece quem manda e quem tem que obedecer.

Que seria o homem se não fosse o esforço do seu trabalho e que sei iam os países se as suas populações não produzissem aquele coeficiente que dele se espera para um enriquecimento das nações?