que creio válidas

1ª Encontramo-nos colectivamente tão atrasados que um substancial aumento da produção agrícola é possível em muitos ramos da actividade,

2ª Para tanto, é necessário melhorar técnicas e assegurar rentabilidade,

3ª Mas a rentabilidade não pode ser somente fruto da técnica - para a concorrência a dimensão conta, assim como o custo de suprir artificialmente deficiências naturais, como é o caso da rega,

4ª Temos pois de aceitar e fazer incutir nos espíritos que muitos dos produtos primordiais ficam necessariamente mais caros criados cá, mas desta criação depende podermos adquirir ao estrangeiro outros bens.

Detenho-me um instante e penso que estou a fazer perder tempo com truísmos.

Vozes: - Não apoiado!

O Orador: - mas estas verdades vejo-as a cada passo tão esquecidas, quando não negadas, já nem sei se de boa se de má fé, que não me arrependo de as proclamar, uma vez mais, e quantas e onde puder.

Produzir aos preços internacionais é um escopo ainda correntemente recomendado à agricultura, nos mesmíssimos lugares, onde se cala a distância a que deles anda tanta industria - e da mais moderna e bem equipada.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Apesar de dolorosa e não fomentadora, foi provavelmente justificada, no sentido do equilibro interno, a política de manter a agricultura tantos anos constrangida a preços insuficientes e fazê-la entreter mal paga e mal comida a maioria da população, designada a matar os corpos nos campos onde nascera por não saber de mais para onde ir. O mesmo circulo vicioso gerava os baixos consumos e as parcas remunerações, tomando sobremodo temidos os excessos invendáveis da produção.

Mas ultimamente tudo mudou. Sob a influência dos factores bem conhecidos, a terra e o País foram aliviados de gente, o nível de vida subiu de facto a população quer comer mais e melhor, escasseiam os géneros- e relativamente mais os outrora quase superabundantes. Aumentou o mercado dos produtos agrícolas, mormente o dos mais rendosos. Como lucidamente observa o Sr. Dr. João Cruzeiro que não tenho a honra de conhecer, mas com quem grandemente me encontrei de acordo em artigo recente da revista Análise Social lançando ideias que ainda não vi muito seguidas, mas me parecem aceitadas e oportunas, há agora lugar para uma política activa no domínio alimentar, porque o volume e o ritmo de acréscimo do rendimento nacional constituem um potencial de solução do problema da sua melhoria que se não deve ignorar e manter desaproveitado.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E de tal política resultará a melhor via para uma expansão satisfatória do volume e dos rendimentos da produção agrícola, que se pode encaminhar para os ramos mais lucrativos. Considero internamente de subscrever e apoiai esta frase do mesmo autor.

a expansão do consumo interno de produtos agrícolas constitui a única determinante significativa para se poderem alcançar, a curto e médio prazos, ritmos de acréscimo no rendimento que satisfaçam os agricultores nacionais.

Assim se satisfarão também acrescento eu ao mesmo tempo as donas de casa e os políticos, preocupados com a escassez de matéria tributável e o desequilíbrio da balança comercial.

Aliás, é bem sabido que pela Europa fora os agricultores têm crescido tanto mais quanto mais se têm podido dedicar as produções ricas da pecuária e da horto-fruticultura. E se sobre a primeira ainda se projectam quanto a nós, algumas sombras, sobre as segundas brilha o sol a que todos Os países meridionais procuram aquecer os seus rendimentos.

É, pois tempo sobejo de instaurarmos nova política agrícola, sacudindo critérios já excedidos e respondendo aos novos apetites para servir as necessidades de sempre. E esta tem de ser uma verdadeira política alimentar, preparada para encontrar os modernos equilíbrios e até para os provocar. Basta olharmos para toda essa tragi-comédia do bacalhau, alimento gostoso mas fraco, desprezo dos países mais prósperos, para perguntarmos se não seria grande ensejo para lançar uma hábil campanha