Necessidade e ambição porque eles, como o meu actual colega, e eu entendemos que um porto para uma ilha significa o mesmo que os pulmões para o corpo humano, que uma estrada ou caminho de ferro paia um centro populacional ou económico da metrópole.

Entendemos nós e entende toda a gente.

E entendeu também o Estado, que se não tem poupado a trabalhos no sentido de procurar a melhor solução para dotar a ilha Terceira com o seu porto de abrigo.

Fizeram-se modelos laboratoriais e realizaram-se ensaios na Suiça e no nosso Laboratório Nacional de Engenhara Civil. A obra seria demasiado grande e cara sobretudo quando vista sob o prisma da sua rentabilidade económica.

Os anos passaram os políticos e as populações compreenderam, mas não se conformaram com a ideia de que não poderia, nem deveria, ser encontrada uma solução.

E não se conformaram porque sofrem na sua (...) e na sua fazenda quando têm que embarcar ou desembarcar, em minúsculas Lanchas, em condições de mar narmalmente forte, das pessoas e dos bens.

Não se combinam porque sabem que a sua terra tem condições para ser rica enviando mais carne, mais manteiga, mais queijo, mais conservas de peixe e até mais leite industrializado, para os mercados da metrópole e do estrangeiro.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: E quando as condições naturais são excelentes e os esforços da técnica na criação de novas pastagens, progridem a olhos vistos lamenta-se que toda esta riqueza não possa ser capitalizada, e investida na melhor das condições de vida das populações do distrito.

Lamenta-se justamente.

E porque é justo e porque são passados, 40 anos de vida política ordenada, séria, extraordinariamente produtiva, todos os do meu distrito, que tenho a honra de representar nesta Casa, esperam e acreditam que o Sr. Presidente do Conselho, com a sensibilidade que todos lhe conhecemos, determine a satisfação desta aspiração pelo novo plano de fomento que se aproxima. E as populações do meu distrito, que nem uma só vez, durante estes longos 40 anos, (...) em duvida a justiça e a capacidade realizadora do Regime, saberão agradecer com alegria e confiança.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - O Sr. Ministro do Estado, coordenador directo do Plano de Fomento, o Sr. Ministro das Obras Publicas, a quem o meu distrito tanto deve e que conhece e em minúcia o problema de que estou tratando e o Sr. Ministro das Comunicações que vive com atenta inteligência os problemas das comunicações com os Açores, conhecem bem as reacções do distrito sobre esta matéria. De facto, pode dizer-se que todos os governadores civis, Deputados Junta Geral, câmaras municipais, comissões de turismo, grémios, organizações da lavoura, imprensa diária etc., todos desde há muitos anos a esta parte, têm constantemente solicitado a constituição de um porto de abrigo para a ilha Terceira.

Isto quer dizer que se trata de uma necessidade inadiável.

Disse que seria breve e por isso me dispensarei de (...) se mais profunda. Tentei fazê-la na legislatura anterior quando, na sessão de 19 de Março de 1962 falei o problema das comunicações com os Açores.

Agora apenas direi que a construção do porto representa uma necessidade tão grande e uma aspiração tão profunda que tenho razões para crer que a maioria da população já nem discute a sua localização se na capital do distrito Angra do Heroísmo, onde a obra parece ser mais difícil e por consequência cara, se na praia da Vitória, onde o aproveitamento do pontão existente, a que atracam navios estrangeiros de mais de oito mil toneladas mas não atracam navios nacionais sem se saber bem porquê, poderá facilitar a construção de uma obra mais barata.

A população aceita aquilo que foi técnica e financeiramente mais aconselhável porque compreende que as disponibilidades financeiras actuais do Estado são condicionadas pelo esforço da defesa para a manutenção da integridade da Nação.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado

O Sr Horário Silva: - Sr. Presidente. O facto de uma cidade portuguesa festejar 350 anos de existência não seria acontecimento extraordinário neste velho Solar Lusitano, sede da Pátria Portuguesa. Mas é-o sem dúvida no ultramar em África nessa África que certos grandes e pequenos paises movidos por interesses inconfessáveis - movidos por interesses que não confessam mas, saltam a vista como já uma vez aqui acentuei -, julgam ou fingem ter agora descoberto para a civilização.

Trata-se de Benguela Sr. Presidente e Srs. Deputados, a cidade que Manuel Cerveira Pereira fundou em 17 de Maio de 1617 na costa de Angola, a 12,5 de latitude sul, e a primeira cidade que na nossa grande província do Atlântico se fundaria depois da de Luanda (41 anos antes, por Paulo Dias de Novais).

Capital do imenso Remo de Benguela de outros tempos, deve-lhe a Nação o mérito de haver sido por entre menanáveis sacrifícios e antes de nenhuma outra aquela em que se estratificou e donde se difundiu aquilo a que Gilberto Frene chamaria o «luso tropicalismo» e não é mais do que o génio da colonização portuguesa em terras de África, como nas do Brasil e do Oriente.

Cidade do trabalho, outrora cidade comercial por excelência aos seus homens do comércio e da missões católicas - só mais tarde apoiados por alguma acção militar e pela acção governamental - deve-se algo mais na sucessão das gerações (e aqui cito trechos da palestra pública que proferi há anos), deve-se-lhe algo mais do que a satisfação que alguns negociantes alcançaram da simples ambição de riqueza de que eram portadores Benguela e o seu prestígio e (...) promoveram, de facto, além da obra de ocupação de vastos sertões que outrora constituíam o Reino de Benguela e se estendiam por milhar e meio de quilómetros, a fixação e o exemplo lusíadas que tornaram portuguesas para sempre largas imensidades geográficas em que só reinava a barbárie e são hoje e há bastantes anos admiráveis cidades e vilas de ci vilização ocidental, onde se vive por preferência e gosto.

Vozes: - Muito bem!