Esta evolução afigura-se correcta, dado que o tipo de estrutura existente em Portugal era 1953-1954 era nitidamente característico dos países em vias de desenvolvimento, pois se destinavam ao consumo privado cerca de 75 por cento do produto. Apesar de se poder considerar esta percentagem relativamente elevada (os países em vias de desenvolvimento destinam ao consumo privado, em média, 74 por cento, e os industrializados, apenas 66 por cento), na sua apreciação deve ter-se em conta a capitação daquele consumo. O nível desta capitação justifica que se não tivesse alterado a estrutura de 1953-1954 em favor de uma posição relativamente mais elevada da parcela destinada ao investimento, a fim de não sacrificar o teor de vida da população.

No período de vigência do II Plano, verifica-se que o investimento evoluiu a taxa superior à do consumo total (9,4 por cento e 5,6 por cento, respectivamente), conduzindo à melhoria da posição relativa do primeiro que no início do período representava 14,1 por cento do produto, e no final, 17 por cento. Apesar disso, os números mostram ter havido a preocupação de garantir uma elevação efectiva do nível de vida, visto se destinarem ao aumento do consumo privado cerca de 51 por cento do acréscimo do produto (quadro XIII), donde resultou o crescimento anual da capitação do consumo privado de 4,1 por cento.

O factor que permitiu, simultaneamente, destinar ao investimento maiores percentagens do acréscimo do produto e garantir o crescimento razoável do consumo privado e público, em 1958-1959, foi a reduzida taxa de aumento da população registada nesses anos (0,7 por cento ao ano), inferior à dos países industrializados (0,8 por cento) 1.

1 A taxa de crescimento da população foi idêntica no decurso dos I e II Planos. O facto de no primeiro período ter sido necessário retirar 14,4 por cento do aumento do produto e no segundo essa percentagem se ter reduzido para 8,5 (quadro XIII) resultou de em proporção, o aumento do produto em valor absoluto ter sido maior que o aumento do produto da capitação pelo acréscimo de população.

Repartição dos aumentos do produto interno bruto utilizado no País

Outro aspecto a salientar, numa óptica de repartição, é a importância dada no decurso do II Plano ao aumento das despesas em consumo do Estado e em investimento do sector público, que cresceram à taxa média anual de respectivamente, 10,2 por cento e 14,5 por cento (contra 4,1 por cento e 7,8 por cento no decurso do I Plano). Esta evolução é nitidamente mais acentuada do que a das restantes rubricas, com excepção da variação das existências, o que revela actuação nó sentido de se procurar elevar o nível de satisfação das necessidades colectivas. Deve, contudo, ter-se presente que estes índices globais são apenas indicadores de uma acção de promoção social, e de redistribuição, mas a sua concretização só pode ser avaliada através da análise das aplicações.

Comparando as estruturas da aplicação dos recursos nacionais no início e no fim do período, ou seja em 1953-1954 e em 1963-1964, com as estruturas características dos países em vias de desenvolvimento e industri alizados (quadro XIV), verifica-se que a primeira é típica dos países em desenvolvimento, enquanto a segunda se aproxima da dos industrializados. Um dos factores que permitiram esta alteração foi a taxa de crescimento populacional, que, como já se referiu, possibilitou uma repartição dos acréscimos dos frutos do desenvolvimento económico no sentido de aumentar o investimento sem sacrificar demasiadamente a parcela destinada ao aumento do consumo per capita (quadro XIII).