para uma zona de penumbra pelos resultados espectaculares alcançados na orbitadas chamadas «ciências exactas». As ciências sociais [...] merecem igual protecção, igual carinho, porque têm por objecto o homem e, portanto, inclusivamente, condicionam o próprio esforço que este despenda em prol das ciências da natureza e devem criar as condições da sua adaptação às transformações por este operadas no mundo económico e físico. São imprescindível factor de espiritualidade, que deve acompanhar e comandar as conquistas de ordem material» (Temas de Educação, p. 393).

É uma advertência justificada e oportuna.

Certo numero de ramos do saber -engenharia, química, física, matemática, geologia e agronomia- estão mais directamente relacionados com a exploração dos recursos económicos do País, e os resultados dos investimentos que aí se façam podem ser mais facilmente objecto de avaliação quantitativa, em termos económicos. Mas também sob este aspecto é pertinente a recomendação internacional: «seria grave erro [...] basear-se uma política de apoio à investigação apenas nos projectos com promessa de aplicação imediata» (La recherche fondamental et la politique des gouvernements, O. G. D. E., Paris, 1966).

Não se trata de reivindicações competitivas, resultantes da inevitável diversidade dos ângulos de visão que resultam da diferença das formações, mas das implicações de uma visão globalística da cultura. Não teria o menor sentido perguntar se o progresso europeu na Idade Moderna deve mais ao Discours de la, Méthode, se à instit uição do Jardim des Plantes, se aos estudos jurídicos sobre a liberdade dos mares e o direito das gentes.

O que pode dizer-se é que as ciências exactas, para usar a linguagem dos economistas,- correspondem a investimentos mais directamente reprodutivos; esta afirmação é significativa quanto ao prazo em que os efeitos podem fazer-se sentir, mas nada exprime quanto à essencialidade ou ao grau de importância de tais efeitos.

A mentalidade dos quadros superiores da vida nacional, a definição de uma atitude quanto à importância e critérios do ensino, a adaptação dos estatutos jurídicos à expansão económica, são três bons exemplos de como a cultura não técnica pode condicionar decisivamente o processo do desenvolvimento económico. E, quanto ao prazo que medeia entre a intervenção e o resultado, deve introduzir-se no cálculo um factor que muitas vezes esquece: o de que as ciências humanas são as que mais directamente se referem aos aspectos nacionais. A falta de fomento do país interessado dificilmente encontra neste campo o suprimento fornecido pela investigação internacional, e, por isso mesmo, os efeitos da falta de promoção podem fazer-se sentir de modo mais imediato, traduzindo-se numa descida do nível da cultura, que depois é difícil remediar. Os problemas actuais, da investigação ligada ao ensino estão equacionados com brevidade, mas com suficiente clareza, no capítulo X do projecto: pequeno número de investigadores, falta de condições materiais que facilitem o seu aumento, insuficiência dos centros e das respectivas instalações, falta de coordenação do que já se vai fazendo apesar de todas as dificuldades. A estas considerações de nível sectorial poderia apenas acrescentar-se que uma programação da actividade investigadora como peça integrante do conjunto de um plano de fomento está condicionada pela prévia determinação do volume e natureza dos novos empregos resultantes ou exigidos pela própria aplicação do Plano. A investigação pura e aplicada aparece referida como pressuposto necessário do acréscimo da eficiência produtiva, mas é evidente que o papel que a tal respeito poderá desempenhar depende do sentido em que for orientada. Não é apenas preciso investigar mais; é igualmente indispensável saber quai s deverão ser os alvos desse aumento de investigação, para poder orientá-lo no sentido de remediar as faltas que podem ter efeitos mais graves. No relatório base referente à investigação ligada ao ensino oferece-se um mapa dos encargos do Ministério da Educação Nacional nesta matéria. A sua análise comprova sobejamente o que se diz no capítulo. Dele extraímos os elementos seguintes:

Este mapa refere-se apenas à investigação ligada ao ensino e, dentro desta, unicamente à participação do Ministério da Educação Nacional. Não abrange, portanto, a acção dos mais importantes centros de investigação nacionais que não estão dependentes daquele departamento do Estado. Também se omite a obra, extremamente notável, tanto sob o ponto de vista das proporções que assume como sob o da lucidez dos critérios que lhe presidem, da Fundação Calouste Gulbenkian; os números apresentados não exprimem, portanto, senão parte dos custos da investigação a cargo do Estado - a parte que fica a cargo do Ministério da Educação Nacional. Eles servem, porém, para documentar a completa falta de organização deste domínio. O número dos investigadores não excede 675, dos quais 88,2 por cento se dedicam às ciências exactas e 11,8 por cento às ciências humanas. Estas não aparecem discriminadas, mas o inquérito realizado pelo Centro de Estudos e Planeam ento da Acção Educativa fornece os elementos seguintes: história, 34 investigadores; arqueologia, 9; ciências sociais, 2; direito, 1; línguas, 17; filosofia e psicologia, 21. Talvez se devessem incluir na história os 4 investigadores de arqueologia naval, porque esta matéria, apesar da designação, é capítulo da história da técnica, e não da arqueologia. Os investigadores seriam assim 38 em história e 5 em arqueologia.