externa é deliberadamente aceite ou até acentuada.

Também na repartição do investimento pelos grandes sectores, enquanto alguns países põem em evidência a produção, outros acentuam os serviços (nomeadamente os de carácter social) e ainda outros consagram percentagens muito importantes às infra-estruturas.

Igualmente o balanço entre o produto agrícola e industrial difere largamente de país para país. Existe bastante semelhança na produção atribuída aos sectores de energia, transportes e construção, aliás como resultado das necessidades geradas pelo aumento de investimento e produção da parte restante da economia. Mas na agricultura e minas, os objectivos de exportação comandam os planos, bem como, no primeiro sector, a finalidade da produção de alimentos para substituir importações.

Quanto ao sector externo, alguns países orientam-se decididamente para as exportações, mas a maioria aceita que o peso relativo destas diminua durante o período do Plano; igualmente, na maior parte, se aceitou ou procurou uma diminuição de valor das importações no abastecimento nacional, mas também há casos em que se admite aumento relativo nessa dependência das importações.

Uma tentativa de classificação da problemática do planeamento poderia levar ao seguinte agrupamento: Países visando aumento muito importante na participação da poupança interna no produto interno bruto:

Com redução da percentagem de dependência dos recursos externos - exemplos: Tunísia, E. A. U. e Senegal;

Com aumento da percentagem de dependência dos recursos externos - exemplo: Tanzânia. Países visando aumento ainda substancial da participação da poupança interna no produto interno bruto:

Com redução ou manutenção da percentagem de dependência dos recursos externos - exemplos: Quénia e Ghana;

Com aumento de percentagem de dependência dos recursos externos - exemplo Etiópia. Países visando manutenção ou apenas ligeiro aumento da participação da poupança interna no produto interno bruto:

Com redução ou manutenção de percentagem de dependência dos recursos externos - exemplos Nigéria, Sudão. Trata-se, é claro, de programações efectuadas, e não de resultados alcançados. Há, de facto, muito poucos elementos disponíveis sobre a realização e aqueles de que se dispõe não são animadores. Há aqui um contraste evidente com a realidade portuguesa, para a qual já foi posto em evidência o alto grau de execução dos planos. E, também nos objectivos, o planeamento português suporta favoráveis comparações: basta recordar as elevadas taxas de crescimento do produto interno bruto e sua capitação previstas no projecto do III Plano de Fomento para Angola e Moçambique. E nunca é de mais pôr em evidência o enorme esforço de investimento público efectuado pela metrópole no ultramar. Segundo o último relatório da O. C. D. E. sobre a repartição geográfica dos recursos financeiros postos à disposição dos países menos desenvolvidos, referente a 1965, a metrópole contribuiu nesse ano com 21,18 milhões de dólares, o que representa uma percentagem significativa do seu produto nacional. Mas o ponto que é fundamental registar aqui não é o da beleza formal ou das intenções dos planos, em África, mas sim as ilusões perdidas que os rodeiam. Um economista de renome (Andrew W. Karmach - The Economics of African Development, Pall Mall Press, Londres, 1967), não hesitou em escrever recentemente que «para a maior parte da África os planos pouco ou nada contribuíram até agora para o desenvolvimento económico». Porquê?

Em primeiro lugar, pela instabilidade política, e pela carência administrativa. Golpes de estado, guerras civis, perseguições raciais ou religiosas, conflitos entre Estados, desintegração interna, são o panorama corrente da África ao Norte do Zaire, do Zambeze e do Rovuma.

Por outro lado, a agricultura constitui ainda o sector dominante da economia desses países. O seu desenvolvimento e melhoria impõe-se; mas factores sociais e métodos de produção obsoletos não são elimináveis a curto prazo, e as produções agrícolas de exportação lutam con tra um mercado internacional cada vez mais desfavorável - nas cotações correntes e na concorrência movida por produtos sintéticos. Por sua vez, a industrialização é normalmente preferida pelos planeadores locais como símbolo do progresso e prestígio; mas a falta de quadros, de mão-de-obra especializada e, acima do mais, as reduzidas dimensões dos mercados internos, até como resultado do baixo poder de compra de uma população ocupada numa agricultura tradicional de subsistência, inutilizam ou amortecem os esforços neste sector. O recente relatório do Comité de Ajuda ao Desenvolvimento da O. C. D. E. (C. A. D./O. C. D. E.) vai ao fundo do problema. A planificação não funciona em países sem quadros, sem capitais, amarrados à produção de um número reduzido de matérias-primas. Aqui, o dirigismo económico conduz à ditadura política e esta, por razões de prestígio, lança-se nos empreendimentos sumptuários em prejuízo dos reprodutivos. Os conhecidos círculos viciosos abatem-se sobre as esperanças de populações famintas: o trabalhador não produz porque vive subalimentado e vive subalimentado porque não tem rendimento suficiente - e não tem rendimentos porque não tem onde trabalhar; a agricultura não liberta os povos da fome porque a sua produtividade é irrisória, com métodos seculares, sem máquinas nem adubos que o produtor não pode adquirir porque os preços internos e externos