rica, podem classificar-se de extraordinárias as possibilidades de expansão económica já reconhecidas e assinaladas, além de outras de não menos relevância de que apenas há indícios ou esperanças. Angola e Moçambique têm, de facto, todas, as condições para assumirem no panorama económico da Nação portuguesa lugares da primacial relevo. É, infelizmente, mais vulgar do que seria lícito admitir a suposição de uma identidade entre as economias angolana, e moçambicana. Daí o risco de uma geometrização de soluções e medidas no campo económico que postula essa falsa identidade.

Certo é que há, como não podia deixar de ser, pontos de semelhança. Mas convém ter presentes as diferenças, que são várias e significativas.

Assim, quanto à população, a densidade média é, em Angola, de apenas 4 habitantes por quilómetro quadrado, com cerca de quatro quintos dos autóctones dispersos por um interior vastíssimo e pouco valorizado. Em Moçambique, a densidade sobe aos 9 habitantes por quilómetro quadrado, com os valores mais elevados junto à costa ou nos férteis vales dos grandes rios. No triângulo compreendido entre Nacala, Nampula e António Enes essa densidade atinge mesmo 40 habitantes por quilómetro quadrado. Por outro lado, este mesmo triângulo, juntamente com as cidades de Lourenço Marques, João Belo, Inh ambane, Beira e Quelimane, é habitado por mais de metade da população total da província. Registe-se que a população de Moçambique apresenta vastas diferenças étnicas e sócio-culturais em relação à de Angola e acusa a influência dos contactos processados ao longo da história com povos de origem e culturas muito- diferentes e com os comerciantes árabes, persas, indianos e chineses. Acrescenta-se, ainda, a inegável influência da emigração temporária. Parece ser também notavelmente superior a Angola a percentagem da população activa que produz para o mercado ou que se ocupa em plantações e nos sectores de transportes e de prestação de serviços.

Em ambas as províncias é nítido o dualismo da estrutura da produção; mas em Angola é mais acentuada a separação entre o abastecimento próprio e a produção para o mercado.

Além disso, em Angola verifica-se a pulverização de fracção apreciável da produção agrícola por agricultores europeus estreitamente vinculados à terra - por vezes há várias gerações -, que constituem, por isso mesmo, importante f actor de estabilidade e defesa. Em Moçambique, pelo contrário, assiste-se à marcada preferência do imigrante europeu pelas actividades comerciais ou de prestação de serviços, com a única excepção significativa dos que se fixaram nos colonatos ou nalgumas regiões tradicionais (Chimoio, Ribaué, Malema, etc.). Empresas agrícolas de grande vulto, muitas vezes cora instalações e direcção modelares, concentram a produção no sector destinado à exportação, com excepção do algodão e do caju, este pela sua espontaneidade. Entretanto, ao longo dos grandes rios encontram-se terras fertilíssimas e com imensas possibilidades de rega, em contraste com as terras mais pobres dos planaltos, embora de clima mais favorável. Por sua vez, assiste-se em Angola à importância económica crescente dos sectores mineiro e das pescas, aquele assente em três produtos principais, que em futuro próximo podem provocar a aceleração de todo o desenvolvimento económico da província: os diamantes, já tradicionais, e, mais recentemente, o minério de ferro e o petróleo. Em Moçambique há indícios e esperanças, apenas, quanto a certos sectores, e aqui focamos outra diferença intrínseca entre as duas estruturas: base na produção, agrícola e mineira, em Angola, e na prestação de serviços (nomeadamente no comércio, transportes, emigração e turismo), em Moçambique. Isto constitui uma fraqueza intrínseca que necessita correcção, notoriamente quanto às deficiências de produção. Valeria a pena avançar ainda nesta linha de análise, documentando com a citação dos vários indicadores económicos o que fica dito e procurando extrair lições mais completas e pragmáticas do que as que resultam dos dados, aliás muito valiosos, constantes do projecto do Plano. Mas a falta de tempo não autoriza a satisfação dessa orientação. Por isso, passar-se-á, sem mais delongas, à análise dos programas sectoriais propostos para cada província. O programa proposto para Angola encontra a sua expressão numérica nos quadros X e XXXI, este a seguir apresentado, cifrando-se num total de 25 044 960 contos.

Programa de Investimentos proposto pelo Governo

Resumo por sectores