Trata-se, portanto, de perspectivas verdadeiramente notáveis. O respectivo programa foi objecto de exposição cuidadosa, salientando-se a enumeração das possíveis zonas industriais, as medidas de política (com o devido relevo para o financiamento mediante a criação de entidades especializadas e do mercado provincial de capitais) e apresentação do critério selectivo das indústrias transformadoras incluídas.

Convém fazer, desde já, algumas reflexões. A primeira é meramente processual. Se, como foi anunciado, se confirma a existência em Cabinda de vastos jazigos de hidrocarbonetos, então é necessário corrigir o reduzido investimento de 184 000 contos inscrito para o sexénio.

Mas a segunda levanta uma questão de fundo, relativa à programação de 140 500 contos para pesquisas e desenvolvimento mineiro por parte do Estado. A Câmara Corporativa deseja manifestar sérias dúvidas quanto a esta orientação. A lição dos países vizinhos - África do Sul, Rodésia, Zâmbia, Congo - e das próprias províncias portuguesas é muito clara: é da actividade privada de prospecção e exploração que têm surgido resultados tangíveis quanto a fomento mineiro. Mesmo em Angola e Moçambique, o ferro, o carvão, os diamantes, o petróleo, o manganês, o berilo, a columbite e agora a potassa - tudo isso resultou da iniciativa particular.

Parece, assim, que o assunto é suficientemente importante para merecer revisão, o que se sugere.

Passando agora das esperanças às realidades, o panorama mineiro é dominado (além dos diamantes) por duas iniciativas principais: o petróleo e o ferro.

O sector dos petróleos passou recentemente, em Angola, por profunda reorganização, de que se esperam bons resultados. Além dos jazigos em exploração no distrito de Luanda, da sua expansão nesse distrito e no Zaire, grandes perspectivas foram abertas no distrito de Cabinda, onde há largos anos actuava a Cabinda Gulf. A simultânea descoberta de jazigos de sais de potássio que se afiguram económicamente exploráveis mais vem contribuir para uma possível transformação da economia de Cabinda num prazo muito curto. Se juntarmos a estes produtos do subsolo mais os fosfates (ali e no Zaire), que desde 1958 são estudados e discutidos, e ainda o manganês, tem-se uma completa apreciação da situação e do que é possível fazer.

Por outro lado, o chamado «Projecto de Cassinga», para exploração de minério de ferro de boa qualidade, tomou proporções de enorme vulto e constitui presentemente um dos maiores empreendimentos em território nacional. Está dimensionado actualmente para a exportação de 5 a 5,5 milhões de toneladas, que representarão contributo importantíssimo para a balança de pagamentos da província. Exigiu a construção e melhoramento de infra-estruturas numa escala que não é habitual, incluindo a construção de um porto mineiro em Moçâmedes e a transformação e equipamento do caminho de ferro respectivo, além dá construção do ramal que serve as minas. Importa ao Estado, que garantiu grande parte dos investimentos realizados, que no mais curto prazo de tempo possível todo o esquema entre em operação eficiente.

Ainda no campo do minério de ferro, mas agora no Norte, em jazigos servidos pelo porto e caminho de ferro de Luanda, deve já ter-se chegado a conclusões quanto ao interesse económico da exploração de imensos jazigos de minérios mais pobres, mas susceptíveis de pelitização para uma exportação anual de 1 a 1,5 milhões de toneladas. Isso exigirá a melhoria da via férrea e seu melhor equipamento e a construção de um porto mineiro em Luanda, para o qual já existe possibilidade de financiamento externo.

Finalmente, para terminar este breve comentário à parte mineira do problema, não pode ser esquecido o cobre existente em Tetelo-Mavoio, com reservas da ordem dos 10 milhões de toneladas. O que se passa no mercado mundial do cobre e os reflexos políticos que o envolvem conferem singular acuidade a este projecto, para o qual entrariam capitais estrangeiros a associar à empresa concessionária. No que respeita à indústria transformadora, Angola assiste a uma verdadeira explosão, e o produto respectivo, que ,se situou na ordem dos 3 milhões de contos em 1965, parece ter tido no ano passado um aumento que excedeu todas as previsões - 15 por cento, contra 12 por cento de 1964 para 1965, ou sejam, 3653 milhões de escudos, para o conjunto de indústrias cujos elementos estatísticos são publicados pelos Serviços de Economia da província.

No programa formulado têm lugar de relevo as indústrias metalúrgicas de base

(1 390 000 contos), com a instalação do fabrico de ferró-ligas e carboreto de cálcio em Luanda e da electrometalurgia do alumínio, provavelmente no Doudo; as indústrias da alimentação, excluindo bebidas (956500 contos), com matadouros-frigoríficos, fábricas de lacticínios, moagem de trigo, etc., e sobretudo a fábrica de açúcar e actividades complementares, a situar provavelmente na zona de Mucoso-Lucala.

No campo das indústrias dos derivados do petróleo (300 000 contos), o investimento corresponde ao aumento de capacidade de refinação em Luanda e a uma nova . refinaria no Lobito. A evolução da situação em Cabinda é susceptível de melhorar ainda as previsões no sector.

Nota-se, a propósito das indústrias químicas, a falta de uma iniciativa referente a adubos azotados, paralela à que já está em marcha em Moçambique.

Têm ainda proeminência as indústrias têxteis (235 000 contos), sobretudo quanto à fiação e tecelagem de algodão (Malanje, Luanda e Novo Redondo), começando assim a remediar-se uma lacuna de dezena de anos, e a dos produtos minerais não metálicos, com uma nova linha de fabrico de cimento em Luanda, e a ampliação da fábrica de vidraria de Luanda ou a construção de uma nova.

A Câmara Corporativa regista com apreço este programa, na sua maior parte indicativo, e exprime a convicção de que venha ainda a ser notavelmente ampliado no período da execução do Plano. Melhoramentos rurais. - Neste sector devem caber, além da promoção sócio-económica das populações,