Sr. Presidente: Ao terminar este breve apontamento, não temos outras palavras, breves também, para exprimir a nossa gratidão, que não sejam as que profundamente sentimos na nossa alma, e aqui nos permitimos dirigir-lhe:

Bem haja, Santo Padre, e que Deus esteja sempre convosco, para bem da humanidade e para a construção de um mundo melhor.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Vai passar-se à

O Sr. Presidente: - Continua em discussão na generalidade a proposta de lei para a elaboração e execução do LIE Plano de Fomento.

Tem a palavra o Sr. Deputado André Navarro.

O Sr. André Navarro: - Sr. Presidente: 1.-Palavras prévias. - Difícil é começar labor oratório quando nos propomos analisar, concretamente, objectivamente, nesta Assembleia política, todo um inundo de ideias fomentadoras do crescimento, nos domínios do económico e do social, sínteses de numerosos e valiosos volumes de projectos elaborados à base de muitas centenas de trabalhos parcelares, acompanhadas ainda de doutos pareceres da Câmara técnica.

Planear uma intervenção parlamentar nestas difíceis condições, agravadas, ainda, pelas apertadas fronteiras do tempo regimental, é tarefa que muito me ultrapassa.

Procurar dar, sou de dizer, uma meia arrumação neste mare magnum de preciosas informações para análise objectiva de sistemas e de métodos que levem, de facto, quando realizados, a acrescer o bem-estar da Nação, é assim labor de largo tomo.

E digo ainda, e acrescento já sistemas e métodos algumas vezes a brigar com a actual estrutura do edifício onde- vivemos e que não poderemos, certamente, modificar, o curto espaço de um sexénio - e apenas, talvez, quando muito, e é muito, reforçar os alicerces, dando-lhe a solidez necessária para aguentar, num futuro próximo, o aumento da altura da cércea.

Direi, assim, plagiando Vieira e encostando-me à sua alta figura mental para que ela me sirva de sombra protectora, mas não à laia de sermão, pois aceitarei toda a controvérsia em qualquer momento do discurso, que, tendo de ser longo nesta fala, será, contudo, breve, deixando pelo caminho, prometo, todos os atalhos e procurando, apenas, as grandes áleas para o meu difícil trilho.

E após estas palavras prévias, justas premissas do que passo a dizer, vou começar o planeado discurso que se segue.

2. Estamos, de facto na era dos planeamentos. Esta uma verificação que todos podem fazer.

Planeiam-se obras materiais e espirituais à escala de um continente, de um grupo de nações ou de uma nação, de uma empresa ou de grupos de empresas, e agora, até se julga indispensável prever, para bem da humanidade transbordam e, o planeamento da própria família, e este imposto pela comunidade, admitindo-se, porém, em jeito de contemporização, quanto a esta célula, que ela seja ainda, apenas, autoplaneada para não ofender os sagrados princípios da Criação.

Planeia-se a paz, como também se planeia a guerra, e esta pode ser planeada para curto, médio e longo prazo, com ou sem pré-aviso. E para melhor e mais rápida execução, fazem-se demolir todos os edifícios do direito que governava as relações entre os povos.

Seja como for, o novo mundo da indústria, nascido entre minas de hulha e de ferro no século passado, e que gerou, no seu tempo, o edifício gigantesco da tecnocracia industrial, apoiado em profundos alicerces do saber, acabou por criar, também, em poucas décadas, um monstruoso colosso daliniano, que ultrapassa tudo o que é concebível pela inteligência humana no domínio do espaço e do tempo.

Logo que o homem lucubrou a existência, em cada partícula da matéria, de um número infinito de novos mundos que, no limite do infinitamente pequeno, se transformava, como por encanto, no infinitamente grande da energia, a sua ânsia de conquistar o incomensurável tornou-o desejoso de subir, sem desfalecimento, à procura de lugar cimeiro nessa enganosa escalada que tem conduzido tantas civilizações à ruína.

E, assim, hoje as notícias correm céleres pelo espaço, assiste-se-a essa corrida de civilizados e de incivilizados, aliados hoje, inimigos amanhã, acotovelando-se aqui, cumprimentando-se acolá, ofendendo-se hoje e bajulando-se amanhã, subindo degraus para logo os descer, espionando e sendo espionados, e tudo na mira de vencer, ia dizendo, de vencer essa corrida pelo lugar cimeiro do poderio mundial.

Mas direi, como já disse noutro momento e noutro lugar:

Assim nasceram e caíram, para novamente nascerem, impérios; libertaram-se, tolheram-se e libertaram-se de novo, liberdades; sucederam-se, alternando, aristocracias, democracias, ditaduras de poucos ou de muitos, na governação das gentes; nivelaram-se e desnivelaram-se degraus que formam a estrutura das sociedades; batalhou-se para se conseguir a paz, fonte de novas guerras; despertaram-se, a todo o momento, migrações dos povos, para se estabilizarem depois, gerando novos movimentos; forjaram-se laços e alianças, logo destruídos, para se formarem novos elos. E neste vaivém contínuo que é a história da existência humana, onde os quadros se vão sucedendo, repetindo-se, de onde a onde, e às vezes com renascimentos imprevistos, talvez por imperfeita visão de quem vê. E quando o homem, olhando em redor, sentiu ao seu alcance vidas de outras vidas, aniquilou a seu belo talante, na mira de ajudar a nascer. Assim foi sarando chagas para poder continuar a produzir fendas e, valha-nos Deus, na sua ânsia de dominar os elementos para difundir o seu bem, sonhando com mundos em que o labor fosse menos penoso, julgou-se senhor dos seus próprios destinos. Mas sempre, o mesmo fim, princípio de novos fins, o fatal regresso ao ponto de partida - o reino de todos os remos, o das forças eternas que Deus criou. Então, o homem recomeçará a sua dura faina, ficando poucos documentos a atestar o que foi a idade finda, por terem secado grande parte das suas fontes. Apenas ténues reminiscências darão, no futuro, pálida ideia do passado. A velha China, antigas civilizações do Novo e do Velho Mundo e tantas outras realidades, que o foram, são hoje apenas cinzas, fumegando variadas e fantásticas lendas.