Como se vê, o sector primário encontra-se numa degressão que confrange, e a tendência é para o descaimento, maior havendo que ter em conta a «lei do mínimo», ditando que «o progresso de qualquer sector em expansão é sustentado pelo atraso dos demais».

Werner diz que «não há progresso sem indústria, nem indústria sem agricultura».

A autoridade do nosso Presidente do Conselho assim o afirma igualmente: «está generalizada a ideia, que supomos errada, de que todas as sociedades humanas podem começar o seu desenvolvimento económico pela industrialização».

E nós ajuntamos - indústria sim, e tão crescida quanto possível, mas agricultura também, e acima de tudo.

Mas quem dera que a vontade dos planificadores, do acréscimo de 3 por cento para o sector, seja plenamente atingida, e até ultrapassada.

Desta maneira mitigaríamos a nossa fome, que felizmente não é a total, nem sequer de subnutrição, como a que campeia pelo Mundo, mas tão-só a chamada «oculta ou es pecífica», que, aliás, «constitui uma calamidade dos grupos humanos mais civilizados».

O que temos é uma alimentação desequilibrada, com excesso de hidratos de carbono e carência acentuada de proteínas.

A fome proteica que sofremos, que não por rebaixamento grande do teor global, pois não o temos muito afastado do mundo evoluído, é, sim, expressa por nítida fraqueza da proteína animal.

O nosso total proteico médio diário, de 70 g - na Europa oscila entre 80 e 100 g -, contém apenas 38 por cento de proteína animal - 26,9 g -, quando a percentagem nunca devia cair abaixo de 50 por cento.

Na quantidade indicada dos 26,9 g diários já se contam 14,6 g de pescado, alimento de que temos um dos mais elevados consumos mundiais.

Anote-se que a proteína do peixe apenas contém 45 por cento dos aminoácidos essenciais, e de todos os produtos da cultura animal é aquele que tem o valor calórico mais caro.

Para que atinjamos a metade do todo proteico, preciso é, portanto, que tenhamos uma pecuária não só altamente qualificada, como ainda largamente mencionada.

Torna-se por conseguinte necessário um esforço grande, e tanto da pesca como da pecuária, para situarmos a nossa dieta em nível ajustado.

Mas aos nossos gados, para além desse esforço exigido pela alta pressão demográfica, a melhoria acentuada do nível de vida, a maior cultura, donde a racionalização alimentar, e a indústria turística em crescendo, há ainda que os expandir para o estancamento da sangria abundante de divisas por importações maciças de produtos de origem animal e também para socorrer uma terra como a que temos, a empobrecer-se dia a dia.

É máxima incontroversa que «sem pecuária, e pecuária de qualidade, não há agricultura que valha».

O grande director-geral que foi Morais Soares entendia que «os gados são a principal condição de vida e prosperidade dos povos», e assim é que defendeu «o seu aperfeiçoamento, por isso significar o progresso geral da agricultura».

Mas, infelizmente, a pecuária não pode deixar de reflectir a terra que a sustenta, e porque a nossa é pobre, também ela tem uma condição de pobreza.

No projecto do Plano diz-se que «se espera que a pecuária seja um dos ramos dinamizadores do sector agrícola». E pode sê-lo se o quisermos, mas é preciso que o queiramos.

Já hoje temos muito melhores gados. A nossa ovinicultura foi levada a nível elevado de valia, e no tocante à massa bovina, além de acrescentada nos últimos quinze anos em mais de 50 por cento a de casta leiteira, e grandemente melhorada, para a de carne conseguiu-se marcada qualificação; o parque avícola teve nos últimos anos crescimento e melhoria verdadeiramente espectaculares. Só a população suína, já a caminhar em franco progresso, teve relevado declínio, devido à rudeza do golpe desferido pela terrífica peste africana, que quase a dizimou.

E a «sanidade animal», se não fora este vírus calamitoso que a ensombra, e por enqua nto sem remedeio, pode dizer-se que subiu a alto grau de eficiência.

Mas se foi possível melhorar os efectivos existentes, minguados é certo, não fomos capazes de os acrescentar suficientemente, nem seremos, enquanto não tivermos uma política forrageira perfeitamente definida. Ainda hoje há muita incerteza e controvérsia sobre a rentabilidade da erva semeada. E, na ausência da política e do saber das forragens, as verbas dotadas no Plano para a experimentação e fomento, que não pequenas, tememos que não resultem beneficamente.

Nos países evoluídos a superfície cultivada entregue à fruticultura vai para cima de 30 por cento; no nosso país é apenas de 7 por cento. Na Bélgica eleva-se a área pascigosa a 47 por cento, e por isso é que este país, com um terço da nossa área, dispõe de um efectivo bovino duas vezes e meia superior..

Nós não podemos continuar com a pecuária que nos serve, nesta míngua em que vive. São milhares e milhares de contos que a voragem da m 23,2 e 76,8 por cento, a Dinamarca, com 15.9 e 84,1 por cento, a França com 36 e 64 por cento.

O homem mediterrâneo parece sofrer este desacerto, «supondo-se que as censuras feitas à sua aptidão para o trabalho, em relação à dos europeus do Norte, derive da insuficiência de alimentação na primeira infância, bem como o seu temperamento nervoso».

A nossa estatística referencia uma área de prados apenas de 40 000 ha, quando para os efectivos actuais, bem alimentados, se precisava da cultura forrageira em cerca de 1 milhão de hectares.

Ainda hoje, muito raramente, a cultura de forragens entra nas rotações, e o gado só se alimenta das magras ervas espontâneas dos pousios, dos restolhos, cada vez mais pobres, por uma mecanização intensa e eficiente, e das palhas, de nutriência menos que medíocre.

Contudo, nós podemos, e devemos, atenuar bastante a insuficiência dolosa do meio hostil. Israel, país que igual-