cios da instrução através do veículo da língua inglesa, pregam contra as vantagens dessa instrução, sem a qual teriam sido nulidades.

São verdades como punhos, pois os do Governo têm facilidades de obterem cambiais para mandarem os filhos para Oxford e Harvard, a fim de continuarem a governar a roça e representá-la cá fora. O Sr. Chagla, que de magistrado sabedor passara a sobraçar uma pasta ministerial, retirou-se da cena, demitindo-se.

Essa determinação governamental será extensiva a Goa, como já o foram várias outras, com manifesto intuito de fazer desaparecer a distinta personalidade dos Goeses, que causavam engulhes aos Indianos.

É uma jornalista indiana, Kamla Mankekar, que o afirma numa série de artigos, sob o título «Goa como eu II vi», publicados no jornal bomhaense The Indian Express, dizendo:

É um povo diferente, além de ser Goa um local de grande significado histórico. Durante séculos uma cultura se impôs sobre a outra. Aí existem algumas das mais antigas igrejas e templos.

Igualmente, ela confessa, que:

Agora, após a proclamada «libertação» e a badalada «democracia», aquela força cimentadora da união entre os Goeses já não existe e ainda as insignificantes divergências tendem a assumir uma cor comunalista.

E outro jornalista indiano proclama que o «comunalismo ergue a sua cabeça em Goa».

Os que conheceram aquela terra nos seus belos tempos devem ter verificado que essa pecha de comunalismo nunca existiu, dando-se todos fraternalmente -católicos, hindus e maometanos -, ele, na União Indiana, tem já causado rios de sangue e centenas de milhares de mortos.

Durante três dias esteve de visita a Goa o Sr. V. B. Chavan, ministro do Interior em Nova Deli, tendo dado uma conferência à imprensa. Foi crivado de perguntas, sendo uma delas sobre o resultado do opinion poli - consulta popular -, sabido como era o seu mais ardente interesse na integração daquele território no estado do Maharashtra. A resposta não satisfez aos jornalistas, pois disse que «o resultado foi anunciado e é de conhecimento de todos». Um deles insistiu, perguntando: «Qual é a opinião como Ministro do Interior sobre a finalidade do veredicto popular?»

Chavan retorquiu: «15 definitivo no que me diz respeito.» Isto é, lavou as mãos como Pilatos, pois, como se espera e como é do uso na União Indiana, em nome da pseudoliberdade, macaqueada democracia e ferrenho anticolonialismo, alteram-se a cada passo resoluções, coaretam-se as liberdades e u^ direitos e postergam-se as mais sagradas promessas.

Já ele apodara os Goeses de Black Portuguesa e, quando foi inaugurar o busto de Gandhi, em Mapuçá, após a estátua erigida na velha cidade de Goa - e, com certeza, não faltarão outras a Nehrti - declarou não valer a pena erguer monumentos, estátuas e bustos do Mahatma, mas havia necessidade de seguir os seus ensinamentos, porquanto na índia, depois de Buda, e no Mundo inteiro, depois de Cristo, não houvera quem se tenha imortalizado, harmonizando a pregação com a prática.

Sem dúvida, o Sr. Chavan falou acertadamente, porque o Mahatma é o espinho que espicaça os governantes indianos, e esse ministro maharashtriano não deve ter esquecido que foram os maharashtrianos que mataram o Mahatma moral e fisicamente.

Fisicamente, quando a bala traiçoeira do maharashtriano Naturam Godesê derrubou o corpo frágil do ídolo. Moralmente, quando depois de matarem Aniceto do Rosário, em Dadrá, as forças da Índia não violenta mataram alguns goeses nos seus postos de defesa na espectacular operação Vijaya de 18 de Dezembro de 1961.

Mahatma Gandhi, mesmo de mármore, cimento ou bronze, terá corado de vergonha ao ser apunhalado pelas costas e vilipendiado por uma corja miserável, que em catadupas cai sobre a inerme Goa como os abutres nas torres de silêncio de Bombaim a refastelarem-se nos cadáveres.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Esses intrusos, avaliados em mais de 2000, ocupam postos de chefia, polícia, amanuenses e ainda de carteiros e contínuos de repartições públicas.

Não há segurança nas casas, seja nas cidades como nas vilas e ainda nas aldeias - esses famintos roubam, pilham e matam sem a menor cerimónia e nunca são castigados, mas, ao contrário, a polícia entra pelas residências dos Goeses a qualquer hora do dia ou da noite, cometendo abusos inqualificáveis exercendo represálias.

Deste estado de permanente desassossego, os que conseguem ou podem sair da torra abalam pelas sete partidas do mundo à busca de paz e tranquilidade, enquanto as autoridades indianas, ao abrigo de uma lei draconiana, denominada «Lei das propriedades dos evacuados», que um intemerato advogado denominou «Lei de pilhagem dos bens dos evacuados», que dá ao Custodian a faculdade de vendê-los em hasta pública, proposta em carta fechada ou ainda por outros meios que achar mais convenientes. Já se viu uma monstruosidade legal como a que só acha investida uma autoridade fantoche numa terra conquistada com completo descanso da Carta da O.N.U.?

Sr. Presidente, Srs. Deputados: Da minha terra, num angustioso grito de alma, perguntam:

Por quanto tempo vai durar o cativeiro de Goa?

Seremos nós, os Goeses, perante os países livres, uma espécie de antigos judeus que não tinham pátria, errando por esse Afundo além?

Que é que faz a Comissão de Curadorias num caso destes, inventando, trapaceando e deturpando apenas tudo o que diz respeito às províncias portuguesas de África?

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Não lhe convém saber o que só passa em Goa?

Não sei como responder a caso apoio, pois estou certo, como até agora tem feito, o nosso Governo, por intermédio do Ministério dos Negócios Estrangeiros, em sua, vibrante nota já levou ao conhecimento das Nações Unidas o assunto da retirada da União Indiana do Estado Português da índia, e, por ela, os Goeses estão imensamente gratos. Mas agora aguardam quem lhe dará maior ênfase, esforçando-se por suavizar tanta dor, tanta mágoa e lágrimas. Assim o esperam, crêem e confiam.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Castro Salazar: - Sr. Presidente: Pedi a palavra para assinalar dois acontecimentos ocorridos após o