assente numa produção perigosamente pouco diversificada, sujeita a grandes e inesperadas oscilações de preços nos mercados externos, deveriam ter merecido um cuidadoso enquadramento nos objectivos que se pretende alcançar através do Plano.

Ora o quenafe reúne essas condições e qualidades, mas, como disse, figura no Plano apenas por memória. Não se apresentou projecto para o desenvolvimento da sua cultura; fazem-se apenas recomendações. Mas explicam-se os motivos. E é aqui, precisamente, que discordo do conformismo que se adoptou.

O desenvolvimento da cultura do quenafe em Moçambique diz-se no relatório sectorial da agricultura] constitui uma aliciante hipótese a considerar no esquema geral de desenvolvimento da agricultura de Moçambique e só não se aconselha o seu imediato fomento em larga escala por não estar totalmente resolvido o problema da maceração.

"Ë este problema da maceração que me leva a fazer alguns comentários, tanto mais que dele depende o desenvolvimento de uma cultura que, como acima se diz, é vista como uma aliciante hipótese no esquema do desenvolvimento da agricultura da província.

Sabe-se que a maceração pelo actual processo biológico é demorada, e dispendiosa, obrigando ao transporte de grandes massas vegetais para os lugares onde se processa a operação: lagoas, represas ou rios. Este factor torna limitante II produção do quenafe. Mas estudos efectuados recentemente parece terem demonstrado ser viável o processo da maceração em poucos dias. ou mesmo, segundo se acentua, até em poucas horas. E necessário, porém, proceder a experiências para o ensaio do novo processo, com recurso à montagem de uma instalação piloto.

Toda a questão gira, portanto, à volta dos meios financeiros para a montagem desta instalação destinada a fins experimentais. Calcula-se o seu custo em cerca de 1200 contos. ÏÍ esta, pelo menos, a verba que estranho não ver inscrita no Plano, para que se montasse a dita instalação piloto, se fizessem as experiências necessárias e se chegasse a uma conclusão acerca do novo método.

Não sou eu que digo que o valor económico do quenafe pode ter as incidências mais favoráveis no desenvolvimento da província. E de um relatório sectorial que serviu de base à elaboração do próprio Plano que resultam estas conclusões. Consideram-se nesse relatório praticamente ilimitadas as suas possibilidades de exportação, depois de satisfeitas as necessidades de consumo interno - consumo que tem tendência para aumentar no fabrico de sacos para o acondicionamento de produtos.

Pré vê-se a hipótese de Moçambique poder incrementar a sua produção até um limite vizinho das 100 000 t anuais, cujo valor seria da ordem dos 600 000 contos.

Moçambique e Angola poderão consumir cerca de 14 000 t por ano de fibras moles. As necessidades da metrópole andam à roda das 30 000 t anuais; as da República da África do Sul e da Rodésia são de 70 000 t; e só a Europa consome 500 000 t por ano.

Estes números convencem e justificariam plenamente um pequeno investimento de 1200 contos necessários para a montagem da instalação piloto a que me referi. Faço, por isso, votos por que as complicações burocráticas e, por vezes, certos critérios erróneos não impeçam que a dita instalação se monte com brevidade e que os seus resultados permitam o desenvolvimento da cultura do quenafe.

Deveria deter-me ainda na apreciação de outras culturas que também figuram no Plano. Mas, se. o fizesse, esta intervenção tomaria proporções que não caberiam no tempo regimental. Terei, portanto, que limitar os comentários que desejaria fazer sobre a matéria. Direi, no entanto, que me parecem também restritos outros investimentos inscritos no Plano para o fomento de algumas culturas, a pena, por exemplo, que não seja mais amplo o projecto para o fomento dos citrinos, para os quais os distritos de Lourenço Marques e a região do Chimoio possuem óptimas condições de cultura; que não sejam mais enérgicas as medidas tendentes à solução do problema do tabaco, cuja cultura poderia representar uma apreciável riqueza se se conseguissem remover obstruções que dificultam a sua exportação para a metrópole e para o estrangeiro; que se não provejam medidas e investimentos para o melhoramento e aumento da produção do amendoim, o qual já pesou fortemente na balança económica da província.

Há indícios de que esta oleaginosa vai entrar numa fase de recuperação. Foi, sobretudo, o aviltamento dos preços pagos ao produtor que o levaram a desinteressar-se da sua cultura.

Mais uma vez, como em muitos casos conhecidos, se tem a prova de que o preço razoável é o melhor impulsor da produção. Pague-se o preço justo, que o agricultor produzirá. Impõe-se a instituição de uma política de preços em Moçambique como incentivo para a produção, não apenas do amendoim, mas de muitos outros produtos agrícolas.

Durante muito tempo os preços pagos ao produtor foram prejudicados por estar impedida de extrair óleo desta oleaginosa uma fábrica instalada precisamente no centro da maior zona de produção. Por este motivo, o amendoim produzido, por exemplo, no distrito de Moçambique, isto é, no Norte da província, era industrializado em Lourenço Marques, ou seja no Sul. Isto quer dizer que o óleo destinado à exportação ficava sujeito ao encargo de uma despesa supérflua: o frete de cabotagem, que ó, por vezes, tão dispendioso como o próprio frete oceânico. Era um freto inserido à força no custo de um produto que teria de competir no mercado externo com a concorrência de outros óleos ou mesmo do próprio óleo de amendoim. Esta anomalia teria forçosamente de ter repercussões no preço a pagar pela matéria-prima destinada à industrialização. Era o agricultor, por conseguinte, a primeira vítima de uma descoordenação de que ele não tinha culpa. E a produção, naturalmente, teria de baixar, levando-o a interessar-se por outras culturas mais rendosas.

Esta situação modificou-se, mas há ainda outros aspectos que precisam da atenção das entidades competentes e de serem resolvidos, se desejarmos, de facto - e penso