da província é uma sombra escura, onde a produção de leite não existe, a não ser num ou noutro caso esporádico.

Existem assim três centros de produção leiteira, constituídos pelos núcleos das bacias de Lourenço Marquem e da Beira e do colonato do Limpopo, este localizado em Lionde. No que se designa por «bacia leiteira de Lourenço Marques» está incluída a produção do distrito de Gaza, a qual é quase toda canalizada para o consumo da população daquela cidade e industrializada na Cooperativa de Criadores de Gado. A da Beira inclui a produção do Chimoio.

No período que decorreu entre os anos de 1957 e 1965. notou-se um grande esforço da parte dos criadores de gado leiteiro no sentido de melhorar as manadas e aumentar a produção. Esse esforço acentuou-se sobretudo pela importação de vacas leiteiras da República da África do Sul, tendo naquele período o efectivo registado um aumento de 97,8 por cento. Porém, o esforço mais saliente foi o dos criadores do distrito de Lo condições económicas da população.

Por aqui se vê o longo caminho que há para percorrer no campo do aumento da produção leiteira, no qual podem tomar parte activa as populações autóctones, cujas mãos detêm cerca de 70 por cento de todo o efectivo bovino.

Nos estudos efectuados em Moçambique aparece, pela primeira vez, como medida prevista para execução do Plano, o aproveitamento do leite das manadas dos autóctones, prevendo-se que esse aproveitamento possa atingir uma produção anual de 1 milhão de litros.

Concordo que é tempo de se pensar seriamente em facultar ao criador autóctone o rendimento, regular e certo, do leite que possa obter das vacas das suas manadas. Mas também neste campo há um longo caminho a percorrer em medidas sanitárias e zootécnicas, em cuidados, em conselhos e em vigilância.

Vejo com preocupação este esquema, pelos riscos que envolve, embora esteja convencido de que, não obstante a amplidão que se lhe dá no anteprojecto do Plano, o bom senso dos técnicos - e até as dificuldades - o reduzirão certamente a proporções que não encerrem perigo.

O autóctone, detentor de um mercado certo para a colocação do seu leite e seduzido pelos resultados do seu rendimento, apressar-se-á a tentar produções cada vez maiores, com grave prejuízo da alimentação dos vitelos. Isto exigirá um serviço de fiscalização tão apertado que tora fatalmente de falhar, conhecida como é a debilidade de meios de que enfermam os serviços a cargo de quem ficaria essa fiscalização.

Penso que os serviços serão prudentes nas medidas a tomar, limitando inicialmente a experiência a uma área restrita, na qual possam exercer um controle absoluto. Mas não é isso que se deduz do anteprojecto do Plano, por nele se prever a instalação de postos para a recepção de leite da pecuária tradicional em toda uma vasta extensão compreendida pelos concelhos do Maputo, Namaacha, Marracuene, Manhiça, Sabié, Magude, Guijá, Chibuto e Baixo Limpopo. É um p osto em cada concelho, o que tornará ainda mais difícil a fiscalização e, sobretudo, a recolha e coordenação dos elementos que conduzam à efectivação prática de uma exploração leiteira da pecuária dos autóctones. Parece-me que se compreenderia melhor, como primeiro passo neste campo eriçado de dificuldades, que se começasse pela experiência num único concelho, no do Maputo, por exemplo, no extremo sul da província, partindo-se depois para as regiões mais ao norte.

Acredito nos resultados das experiências que se fizerem e acredito, até, que o leite da pecuária tradicional, resolvidos os problemas da sua produção (zootécnicos, sanitários e de higiene na mungição e transporte), seja uma fonte de riqueza, não só para a província, como para os próprios autóctones, melhorando as suas condições de vida. Mas sejamos prudentes.

E, falando de prudência, veja-se que se indica a Manhiça como um dos concelhos onde se pretende instalar um dos postos de recepção do leite. Ora é precisamente na Manhiça que se encontra generalizado um dos mais graves focos de tuberculose bovina. A mungição para fins comerciais do gado desta área não viria contribuir para o seu mais rápido definhamento?

O leite para consumo em natureza ou para industrialização só pode ser proveniente de vacas submetidas à reacção da tuberculina.

Como se faria, portanto, sob este aspecto, o controle do leite mungido das vacas da Manhiça? Tuberculizando todas as vacas de uma larga zona onde existe um foco de tuberculose generalizado? E quem pagaria as indemnizações devidas aos donos das vacas que tivessem que ser eliminadas? Com certeza que seria o Fundo criado para esse efeito. Mas a quanto se elevaria o montante dessas indemnizações?

São tudo perguntas a que é difícil responder.

Pode ser que os meus receios sejam infundados, as minhas observações, inoportunas. Deixo-as aqui, pedindo que me desculpem se porventura errei.

Mas o aumento da produção de leite em Moçambique abrange outros aspectos previstos no Plano que são pertinentes e merecem todo o meu apoio. Está neste caso o fomento de regiões onde se prevê o povoamento com vacas leiteiras, criando-se nelas centros de produção.

Vê-se do anteprojecto do Plano que a acção incidirá, por aumento dos efectivos, no colonato do Limpopo e na zona mesoplanáltica de Manica-Chimoio. Excluíram-se, portanto, zonas onde a bovinicultura de leite pode ter um grande desenvolvimento. Menciono, por exemplo, os vales dos rios Maputo, Umbelúzi, Incomáti, Save, e toda a área de João Belo, onde existe uma boa densidade bovina.

O povoamento bovino previsto no Plano compreende a importação de 2500 fêmeas e no touros, que serão distribuídos do seguinte modo: 1500 fêmeas e 60 touros para o colonato do Limpopo; 1000 fêmeas e 50 touros para a zona de Manica-Chimoio.

Trata-se, como se vê, de um programa bastante modesto, que perdeu completamente de vista o elevado consumo de lacticínios da província e a grande incidência que o mesmo tem na sua balança comercial.