se verifica: políticas desconcertadas, rotas diferentes e consequentes malogros dos principais objectivos a atingir.

Sr. Presidente e Srs. Deputados: Já aqui foi dito durante este debate que o Plano não deu a eminente posição que lhe era devida à criação dos técnicos que tanta falta nos fazem, e, se parece que ninguém duvida dessa carência, parece também que ninguém, a sério, trata de resolver tão instante problema.

Assim, verifica-se cada vez mais a falta de técnica capaz e adequada para servir a economia nacional, e já essa falta foi referida como razão fundamental de se não poderem ter cumprido algumas tarefas dos Planos que antecederam o que estamos apreciando. Nomeadamente a falta de técnicos de grau médio é confrangedora e apresenta-se mesmo com um desnível impressionante, como o denuncia o parecer subsidiário da Câmara Corporativa já aqui referido, e muito bem, pelo Sr. Deputado Prof. Dr. Nunes de Oliveira.

Referiu-se este meu ilustre colega de círculo, ao assinalar - o facto, à necessidade da criação de um instituto comercial e industrial em Braga, o que repetidamente aqui tenho advogado, e reclamou a criação de uma escola de regentes agrícolas no coração do Minho, o que viria facilitar a formação de técnicos agrícolas desse grau, indispensáveis a uma efectiva assistência à nossa lavoura e ao aceleramento da tão apregoada reconversão agrária e actualização de métodos.

Sobre a fundação do instituto comercial e industrial de Braga permito-me, mais uma vez, salientar aqui alguns passos da magnífica exposição que um grupo de pais de família fez chegar às mãos das entidades responsáveis:

s primeiros passos do ensino liceal ou técnico, industrial ou comercial, uma forçada limitação no aproveitamento das suas faculdades intelectuais, pois não poderão, jamais deslocar-se para Lisboa ou para o Porto, continuar, nos institutos de ensino médio, as carreiras que desejariam seguir e da conclusão das quais, frise-se, resultaria para o País um valioso património educacional com a, formação de novos elementos juvenis aptos para ocupar tantas das tarefas modernamente exigidas pelo surto de desenvolvimento

técnico-económico que esta empobrecida região necessita de encontrar rapidamente, para bem-estar dos seus filhos e maior riqueza do País.

Parece assim que, quando em todo o Mundo, e particularmente na Europa, se processa, em velocidade enormemente acelerada, uma modificação e ampliação dos sistemas de ensino, cultural ou técnico, chamando à sua frequência um número cada vez maior de alunos interessados, é legítimo pedir com a maior insistência, para satisfação breve, a instalação na cidade de Braga, como centro de influência da sua região, de estabelecimentos de ensino médio, nomeadamente dos institutos industrial e comercial, que presentemente só existem nas cidades de Lisboa e do Porto.

Posteriormente à entrega desta exposição, foi criado o Instituto de Coimbra, quanto a mim mal, porque vai de encontro à premissa posta de que o que se torna necessário é aproveitar as qualidades intelectuais de muitos que não podem deslocar-se para os grandes meios universitários, e assim se encontraria modo de aproveitar essas qualidades ao serviço da Nação e de as colocar no seu devido lugar.

Ainda, e sobre o mesmo assunto, mais uma vez me permito referir ao notável trabalho do então Deputado Dr. Martins da Cruz, que pediu, e muito bem, a criação de institutos desse género em Braga, Viseu, Castelo Branco e Évora.

De lá até cá, muitas águas correram debaixo das pontes, muitos organismos se criaram, cuja finalidade imediata não se descobre, ou pelo menos não se descobre a razão da prioridade que lhe foi dada, e, no entanto, o problema basilar da criação de técnicos, basilar para o desenvolvimento de uma «economia desguarnecida», que tem, quer queiram, quer não, de em breve se enquadrar num sistema mais largo, continua sem ser encarado de frente, como é de primacial importância que o seja. Porque, como muito bem disse o actual Ministro da Educação Nacional, Sr. Prof. Inocêncio Galvão Teles:

Não se pode esperar que a economia se desenvolva para só então fazer progredir a educação: a inversa é que é verdadeira, pois sem elevado nível educacional a economia está condenada a estagnar, à míngua de capital humano, o mais valioso dos capitais, não podendo a economia expandir-se onde escasseiam cérebros, inteligências, competências, pessoal qualificado, gente devidamente instruída, preparada para conceber, planear, executar, numa palavra, para produzir ou criar riqueza. São hoje os economistas os primeiros a conhecê-lo.

Se o problema da criação do Instituto Comercial e Industrial em Braga tem a relevância que é desnecessário acentuar, e repetidamente aqui tenho proclamado, pelo que agradeço ao Sr. Deputado Nunes de Oliveira o seu precioso depoimento, não é menor também o da criação de uma escola de regentes agrícolas no Minho.

A lavoura minhota mantém-se num confrangedor atraso técnico. De quem a culpa? Do pobre lavrador, reduzido por uma constante descapitalização - a que o tem conduzido uma política de preços que faz deste sector bode expiatório - e que continua agarrado a culturas ultrapassadas, porque ninguém ainda lhe possibilitou outras? Do pobre lavrador que, na generalidade, sabe aquilo que os bisavós ensinaram a seus pais, isto numa época em que as técnicas evolucionam de dia para dia? Não há dúvida de que é necessário dar ao lavrador uma preparação que só técnicos conscientes lhe podem ministrar e que só com a criação de novas escolas estes podem aparecer.

Essas escolas têm que surgir, e imediatamente, em meios diferenciados, para que os seus alunos desde logo se vão habituando ao ambiente em que vão desempenhar a sua acção e passem a usar mais a bota de atacado que o sapatinho de polimento dos salões de chá.