No entanto, ainda há no Mundo grandes espaços que aguardam apenas o seu aproveitamento adequado para que as respectivas possibilidades se revelem na sua exacta dimensão. Em Angola, pelo menos, é assim. Ali, a agricultura é presentemente explorada - quando o é - segundo processos mais do que rudimentares e grandes extractos do seu território estão totalmente inexplorados. Além disso, desconhece-se, em grande parte, a natureza dos solos e a sua aptidão agrícola, faltam infra-estruturas suficientes e ignoram-se ou não se aplicam as novas técnicas de exploração agrária. Acresce que as grandes massas de população rural, atàvicamente agarradas a uma agricultura de subsistência, que lhes vai satisfazendo as necessidades primárias, mostram acentuada relutância em se adaptar às novas concepções, que não chegam a compreender por carência de um mínimo de cultura que lhes crie e desperte novas necessidades a satisfazer. Acresce que a agricultura do mercado em Angola incide praticamente sobre meia dúzia de produtos, feita geralmente em regime de grande propriedade. O café, o sisal, o algodão, o milho e o tabaco, que, presentemente, conhece relativo incremento, constituem, além de poucos mais, os produtos que a terra nos dá.
Todavia, as potencialidades agro-pecuárias de Angola são enormes, mercê da diversidade de climas, da diferenciação dos solos e da variedade de zonas de alta aptidão agrícola. Por outro lado, a exploração da terra, feita quase exclusivamente em regime de monocultura, é altamente prejudicial e pode revelar-se extremamente perigosa, com graves incidências na economia geral, na medida em que, sendo a sua produção essencialmente destinada à exportação, se expõe aos riscos resultantes da flutuação do mercado externo e às oscilações internacionais de preços. Haja em conta o que actualmente sucede com o sisal, cuja cotação não chega para cobrir as despesas de exploração, e daí as enormes dificuldades que atravessa o respectivo subsector, dif iculdades que parecem pôr em perigo a sua própria subsistência.
É, assim, urgente a adopção de uma política dinâmica que altere em profundidade o panorama agrário da província, com vista à extinção gradual, mas segura, de uma indesejável agricultura dualista e à obtenção de uma franca diversificação de culturas. Exigem-no necessidades de natureza estritamente económica e reclamam-no, sobretudo, exigências étnico-sociais de completa integração das diversas etnias que constituem a Nação.
As medidas de fomento agrário previstas e preconizadas no Plano parecem tender à realização deste objectivo fundamental. Efectivamente, o esquema de empreendimentos programados, de entre os quais avultam diversas obras de hidráulica agrícola; campanhas fitossanitárias; trabalhos de defesa contra a erosão; abertura, à margem, do plano geral rodoviário, de vias secundárias de comunicação que facilitem o escoamento e drenagem dos produtos da terra; instalação de parques de ferramen tas e alfaias agrícolas utilizáveis mediante empréstimo ou mesmo arrendamento; tratamento e fornecimento gratuito, em condições favoráveis, de sementes seleccionadas; campanhas de esclarecimento sobre a utilidade da aplicação de fertilizantes e eventual fixação de diferenciais beneficiadores da lavoura, para efeitos de utilização de adubos; construção de armazéns e de redes frigoríficas para guarda e conservação de produtos e apoio técnico ao agricultor - constituem medidas que terão de ser levadas a efeito, por mais pequena que seja a rentabilidade dos respectivos investimentos. A par destas medidas, é necessária, porém, uma persistente c profunda modificação dos hábitos das populações rurais autóctones, com vista a fazê-las evoluir social e economicamente, de forma a compreenderem as vantagens de uma agricultura que não satisfaça apenas necessidades primárias da vida.
Afigura-se-me ainda ser de interesse primordial, ou mesmo prioritário, o lançamento imediato de grand es infra-estruturas que possibilitem o aliciamento de elementos mais evoluídos, que definitivamente se fixem à terra e constituam a verdadeira ossatura de uma indispensável burguesia rural, que será o ponto de partida para um real e significativo povoamento europeu, de forma a atingir-se o equilíbrio demográfico, tão necessário à segurança e tranquilidade internas c ao definitivo plasmar da verdadeira fisionomia da comunidade portuguesa.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - De outra forma, isto é, se as preocupações do planeamento forem exclusivamente de índole económica, determinadas por alta rentabilidade a curto prazo, é possível que venhamos a enriquecer apressadamente uns tantos e a criar um alto padrão de vida para uns poucos mais. mas receio bem ver frustrados os mais sérios, reais e permanentes interesses do País e temo que não alcancemos realizar as mais belas aspirações do nosso espírito civilizador e missionário.
Vozes: - Muito bem!
quantos estão em condições de a eles recorrerem. Se pensarmos, por outro lado, que nos princípios da década de 60 aqueles estabelecimentos não iam além de uma dezena, forçoso é reconhecer que é imenso o caminho percorrido ao longo destes últimos seis anos e, fazendo sereno exame de consciência, concluir que a obra realizada é justo motivo de desvanecido orgulho e índice revelador das nossas reais possibilidades.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - A Universidade, fundada em 1962 e tendo iniciado as suas actividades em 1963, tem realizado obra fecunda, não só através da ministração do ensino aos seus alunos, como ainda na colaboração prestada aos institutos de investigação científica, alguns dos quais dela dependem directamente. Com os seus cursos de Medicina. Veterinária, Agronomia, Engenharia e Ciências Pedagógicas, aos Estudos Gerais de Angola cabe a nobilíssima missão de preparar e formar as elites técnicas e científicas de que a província tanto carece. As provas já dadas, com insuficiências facilmente compreensíveis e próprias de quem dá os primeiros passos, são penhor seguro de que os Estudos Gerais de Angola cumprirão