desenvolvidos ou em vias de desenvolvimento, visando organizar e orientar a vida económica, social e cultural. Nos planos se incluem directrizes de progresso, desenvolvimento e crescimento, estipulando pormenores de acção futura., quando for caso disso. Já se vai notando alguma insatisfação no tocante a este aspecto, pois começa a entender-se que os planos sucessivos, para períodos de alguns anos, são insuficientes, e tanto especialistas como economistas e industriais mostram-se defensores de estudos a longo prazo, dada a complexidade e a interpenetração crescente dos empreendimentos.

Chegados aqui, a lógica teria de conduzir mais além, e a insatisfação subiu de tom, começando a pretender coisa mais ousada e mais aliciante. Em vez de se planear com vista ao futuro, por que não proceder, primeiro, a uma previsão meticulosa daquilo que será esse futuro?

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Assim, estabelecer-se-iam, tanto quanto possível exactamente, as condições sociais, culturais e económicas dessa meta distante, no tempo, e depois, depois sim, age-se noutro sentido, isto é, com base nesses dados, definem-se orientações à acção, para ir suprindo, com tempo e metodicamente, deficiências, anseios e necessidades. Deste modo, os Governos vão-se encaminhando do planeamento para a previsão. Tarefa extraordinária, esta, de desvender o futuro!

Um grupo de trabalho francês, dependente do Comissariado do Plano de Fomento, procedeu a uma tentativa cheia de interesso, u qual consistiu em pretender levantar o véu do futuro, detrás do qual se oculta aquilo que, desde já, seria útil saber sobre II França em 1985. O relatório, apresentado ao Governo em Outubro de 1964, foi tornado público há dois anos. Ao grupo de trabalho presidiu o Sr. Guillaumat e constiuíram-no personalidades do mundo económico.

Houve o cuidado de limitai1 voluntariamente as hipóteses, e assim puseram-se de parte as de conflitos generalizados ou de crises económicas especialmente agudas, não se encararam as grandes opções da política internacional, ou interferências em matéria de estruturas económicas e sociais, da duração do trabalho e da política sobre os rendimentos. Levaram-se em conta, porém, fenómenos como a expansão demográfica, a escassez crescente do espaço, da água e do ar, o desenvolvimento do urbanismo, o aumento das actividades que enchem as horas de lazer, a dependência adquirida em relação a economia mundial, a febre de motorização - tudo isto impondo consideráveis restrições na capacidade de escolha que o indivíduo ainda detém.

As conclusões revestem-se do maior interesse. Em 1985 haverá cerca de CO milhões de franceses numa nova estrutura de vida:

O mundo agrícola diminuirá em valor relativo e em valor absoluto, e a sua maneira de viver ir-se-á aproximando da vida urbana;

O mundo urbano irá crescendo de tal modo que atingirá quatro quintos da população; as cidades da França irão, em média, quase que dobrar de população nos próximos vinte anos;

Prevê-se que em 1985 haja 20 milhões de auto móveis, ou seja qualquer coisa como o triplo do número actual;

A falta de espaço far-se-á sentir em todas as esferas da vida - nas fábricas, nos escritórios, nos estabelecimentos de ensino, em moradias ou locais de férias e prazer;

De 100 franceses com a idade de 17 anos, cerca de 100 frequentarão as escolas, contra 28 em 1960 e provavelmente 42 em 1970;

Nos próximos vinte anos, o nível de vida será multiplicado por duas vezes e meia, ou seja, no espaço do uma geração aumentará muito mais do que em todo o século XIX.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Estas previsões, para se verificarem sem grandes sobressaltos, naquilo que dependa da atenção dos Governos, exigem vigília permanente, constante acção de reajustamento e esforço, pois só assim será possível atingir os objectivos com base no estudo feito.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Aos Portugueses não deixará de seduzir a ideia de pensar no que será este país, esta bela terra, a gente de Portugal, a economia e a política nacionais daqui por vinte anos.

Já puseram a vós mesmos as aliciantes interrogações:

Como será a vida portuguesa em 1988?

Quantos seremos, quantos automóveis haverá em Portuga], como será a vida em moradias, fábricas, escritórios, estabelecimentos de ensino, locais de férias e diversão?

mundo da agricultura irá diminuir, quer em valor relativo, quer em valor absoluto, diz o grupo francês. Entre nós;, a evolução será no mesmo sentido?

Em que medida crescerão as cidades portuguesas e qual será a proporção entre a população rural e a população urbana?

Como serão resolvidos, por exemplo, os problemas de trânsito?

Como será a vida ruis cidades e nos arrabaldes, na periferia?

Que feição apresentará a vida local?

Antes de mais, consideremos que um período de vinte anos corresponde- ao ingresso na vida activa de uma nova geração. Os que nasceram este ano estarão, entretanto, na vida aí por 1988; e os que frequentam agora as Universidades e os estudos secundários estarão nessa altura na idade mais actuante do homem, ou seja nos limites dos 40 anos. A minha geração, por exemplo, entrará na baliza dos 60 anos.

Em vinte anos, os problemas serão bem diferentes, quer no campo da indústria, quer no da agricultura, quer no tia organização social, o política. É de presumir que as dificuldades que nos criaram no ultramar as forças da subversão estejam nessa altura inteiramente esclarecidas e definido em termos de política constitucional e de estrutura económica aquilo que hoje está sob tutela da defesa e da diplomacia. Em que termos se processarão os vínculos entre a metrópole e o ultramar dentro de vinte anos? Não se apresentam em 1967 como em 1900, e não serão em 1988 aquilo que hão hoje. No caso lê Portugal conseguir sobreviver à onda actual - e há-de sobreviver! -, a vida institucional das províncias há-de passar por transformações inevitáveis, nos próximos vinte anos; a autonomia há-de prosseguir no sentido do desenvolvimento natural, os escóis hão-de apresentar-se ali com outro cariz, mais robustos em cultura e em técnica e a vida colectiva das províncias há-de revestir-se de carácter bem diferente do actual