Penso que é menos fundada a afirmação do projecto do III Plano que minimiza as possibilidades turísticas dos Açores. E uma falsa ideia, de quem talvez só conheça as ilhas pelo boletim meteorológico ...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Clima, paisagem, mar e praias, hospitalidade do povo, artesanato, património cultural e artístico, de tudo oferece o arquipélago. Mais do que isso, há as atracções inéditas da natureza insular, do vulcanismo, da riqueza hidrológica, dos contrastes naturais e, até, do interesse científico.

O desenvolvimento turístico dos Açores exige a resolução de alguns problemas-base relacionados com os transportes do exterior, o equipamento portuário, os aeródromos, a circulação entre as ilhas, o alojamento hoteleiro e o abastecimento público.

Constituída uma sociedade de economia mista para o fomento turístico e resolvido satisfatoriamente o problema dos transportes, encarar-se-iam ainda as duas questões fundamentais para o esquema de arranque: rede hoteleira base e propaganda turística das ilhas no continente e no estrangeiro.

Creio não ser difícil descortinar fontes turísticas na população do continente, nos emigrantes açorianos (ou seus descendentes) que residem na América, do turismo americano que se dirige à Europa ou nos próprios europeus que hoje visitam o continente português. As virtualidades, já referidas, fundadas na atracção do repouso, das estâncias termais, dos desportos submarinos ou até da paixão científica permitirão mesmo desenvolver modalidades de turismo para ricos.

Sr. Presidente: No seu parecer sobre o plano do Mondego, a Camará Corporativa foi bem explícita ao escrever:

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Esta possibilidade imediata do aproveitamento do Mondego para fins múltiplos conjuga-se com a actuação noutros sectores que igualmente se identificam como elementos base do desenvolvimento de toda a região: a valorização da Universidade de Coimbra, com a restauração ou criação de novas Faculdades (Teologia, Farmácia, Engenharia, Agronomia, Economia e Sociologia); a construção da 2.º fase do porto da Figueira da Foz; o desenvolvimento do turismo de montanha (serra da Estrela, barragem de Santa Luzia, etc.), da beira-mar (além da Figueira da Foz, impõe-se atender à praia de Mira) e termal; o repovoamento dos perímetros florestais (nomeadamente o da serra da Estrela - 20 500 ha) e trabalhos de correcção torrencial; a grande correcção da estrada da Beira (de Coimbra à fronteira), a construção ou grande reparação das vias de penetração na serra da Estrela, das estradas n.ºs 343 e 344 e da n.º 2 (de Alvares ao Zêzere); a instalação de umas tantas indústrias-base no ei xo Coimbra-Figueira da Foz ... Acresce a valorização, como centros de actividades terciárias, da capital regional (Coimbra) e dos outros relevantes núcleos urbanos ou administrativos (Viseu, Guarda, etc.). Um exemplo: para lá da imperiosa construção do Hospital Escolar de Coimbra, não será também conveniente prever no III Plano, em vez de quinze hospitais regionais, mais um, a localizar também em Coimbra, complemento natural dos hospitais sub-regionais e elo de ligação entre estes e o central?

Sr. Presidente: Vou terminar. Quando de muita parte pretensos amigos ou declarados inimigos levantam obstáculos aos nossos anseios de paz e progresso, o III Plano de Fomento constitui uma resposta serena, o testemunho de confiança nos destinos da Nação.

Estou certo de que o sucesso da sua boa execução reforçará mais aquela segurança de fazer durar indefinidamente a nossa resistência a que há dias, em discurso memorável, se referia o Sr. Professor Oliveira Salazar.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Armando Perdigão: - Sr. Presidente: O projecto do III Plano de Fomento (1968-1973) constitui um prestimoso e extraordinário trabalho que muito honra o Ministro de Estado, Dr. Mota Veiga, e a vasta e activa equipa que colaborou com ele neste magnífico documento.

Enalteça-se também a competência e o labor despendidos pela Câmara Corporativa e a notável actividade da Comissão Eventual, que nos deram precioso contributo para o melhor exame do monumental projecto.

E não quero perder o ensejo para também referir a flagrante utilidade que ostentou a vinda até nós de alguns membros do Governo, provando-se uma vez mais quão frutuosa é esta modalidade de trabalho parlamentar.

A enorme sorte de temas abrangidos pelo projecto, aliada à complexidade dos mesmos, torna praticamente impossível aqui intervenção sistematizada sobre tão abundante como importante material analítico. Por outro lado, competentes e autorizadas vozes já se referiram praticamente a toda a matéria em discussão.

Resta-nos assim a apreciação dos pontos que mais tocam a nossa peculiar atenção e que nos merecem portanto algumas considerações.

Começarei pela rega do Alentejo, que é objecto de particulares considerações no projecto do III Plano; e, dada a transcendente importância do problema, ele bem merece alguns momentos de meditação.

Aqueles que, no desejo louvável de avaliarem o custo da obra prevista no Plano de Rega do Alentejo, expressam em escudos por unidade de superfície regada, e se encontram desde logo perante números que não hesitam comparar com os calculados para outras regiões do País, cometem um lamentável e grosseiro erro de apreciação, indirectamente até cometem uma injustiça, pois esquecem que a água para o Alentejo é também, e em grande medida, água pana beber, água para matar a sede às populações.

Se as leiras secam durante intermináveis meses, mais atroz é a sede dos homens e dos animais! E eu penso que não há consciência recta que ad mita ser mensurável, e muito menos discutível, o direito à água de beber, à