água das primeiras e maiores necessidades humanas, que estão sempre a crescer, segundo uma impressionante progressão geométrica.
Assim, está calculado que um habitante médio gasta 200 1 em 24 horas.
Em Paris, gasta já um habitante 4001 a 5001 por dia.
Mas, além da importância primordial que o precioso líquido apresenta sob o aspecto urbano, não é menos decisiva a sua relevância no progresso industrial do Sul do País.
Efectivamente, pode considerar-se que a água é hoje a primeira das matérias-primas para grande parte das indústrias, particularmente as que mais interessam ao Alentejo: transformação e acabamento dos produtos da terra.
As exigências da indústria em água são enormes, como se pode ver pela simples indicação destes valores:
Para preparar uma lata de conserva são necessários 40 l do precioso líquido.
Um quilograma de papel carece de 100 l.
Um quilograma de tecido gasta 600 l.
Já uma tonelada de cimento consome 3500 l.
E só uma tonelada de aço necessita de 20 000 l a 30 000 l.
Mas há mais. Como equilibrador das graves irregularidades climatéricas e como complemento e correctivo da depauperada economia de sequeiro, a água no Alentejo também não pode ser contabilizada por simples raciocínio de deve e haver!
Por tudo isto que acabo de aduzir, a água no Alentejo, que faz seca ou alagamento durante a maior parte do ano, é vital para os que teimam viver e mourejar na parte mediterrânico-continental do País, onde nalgumas sub-zonas caem menos de 400 mm3 de chuva por ano em média. Porque há anos de 300 mm3.
Negar a prioridade em se abastecer esta região, que é a mais sedenta da metrópole (até porque não dispõe de águas subterrâneas em quantidade apreciável), é o mesmo que lhe negar o acesso às condições mínimas de progresso, é segregá-la a todo o desenvolvimento futuro.
Um outro argumento para que não se possa pensar em substimar a realização deste plano de rega, para uma província que dispõe de uma área quase equivalente à da Bélgica, é o de que a cultura de tomate necessita cada vez mais de terrenos novos, virgens, para que o seu ritmo de produção se mantenha, se amplie mesmo.
Lembremo-nos que exportámos em concentrado de tomate:
Contos
Em 1964 ................. 380 000
(a) Com 80 000 t.
(b) Com 130 000 t.
Não é, portanto, de estranhar que seja crescente a procura de terrenos irrigados por parte das fábricas de concentrado para se garantirem de terras novas, renovadoras das que terão de ficar sujeitas agora a outro tipo de exploração.
Se atentarmos que já foram gastos cerca de 760 000 contos na 1.ª fase do Plano (Divor, Caia, Roxo e Mira), e sabendo-se que se seguirão mais 400 000 contos até 1968, compreendemos que é forçoso não perder este ritmo para que se atinja a rentabilidade máxima dos investimentos e, assim, terminado o Plano, as parcelas que o constituem funcionem sinèrgicamente.
Lembremo-nos que teve de ser antecipada a construção da barragem do Divor só porque as populações (entre as quais as de Évora) estavam fortemente ameaçadas de carências hídricas. Pois bem: esta barragem, para que possa realmente desempenhar as múltiplas funções para que foi concebida, carece de ser reforçada pelo importante canal emergente da grande barragem prevista em Alqueva, no Guadiana.
Isto quer dizer que frenar a execução do Plano de Rega do Alentejo poderá ser sinónimo de fazer restringir o perfeito aproveitamento das obras já executadas.
O Plano de Rega do Alentejo, com o seu importante canal de alimentação, à maneira de espinal-medula do desenvolvimento, é um conjunto encadeado, constituindo um redanho que não pode ser fragmentado.
Até a industrialização dos produtos obtidos no regadio do Alentejo, a partir das pequenas e médias albufeiras, só será viável se se dispuser da grande reserva hidráulica do Guadiana, que nos fornecerá a energia eléctrica a preço que tornará rentável a bombagem de toda a água que deverá alimentar o Divor, depois de galgar as terras com maior aptidão para o regadio.
Autêntico nervo motor do progresso transtagano, verdadeira infra-estrutura de primeira grandeza, o Plano de Rega do Alentejo, tal como o projecto do III Plano o concebe, será o grande arranque do Sul para o desenvolvimento integral que nunca ninguém ousou medir a escudos por hectare.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - A terceira parte do projecto do III Plano dá-nos a consoladora esperança, através de seis judiciosos capítulos, de que a Administração não descurará no futuro os problemas das desigualdades regionais.
Aguardamos com fé, e esperamos que não se perca mais tempo, pois muito há a fazer, rapidamente e em força, antes que tenhamos áreas na metrópole desocupadas e abandonadas.
Vencer a batalha das grandes diferenças regionais hoje existentes no País não é tarefa fácil, e mais complicada a julgamos nos domínios da mentalização e da reconversão de tantas ideias e preconceitos já discutíveis. Um novo sentimento comunitário, uma nova ética administrativa, em suma, uma nova filosofia de gestão da coisa pública, terá de instaurar-se com base numa cooperação e convivência nunca igualadas, devendo impregnar-se disto muitos sectores, quer privados, quer públicos, a alto como a baixo escalão.
Não se pense que a tarefa é simples e que a burocracia não irá reagir, refugiando-se no velho abrigo das competências, defendendo-se com o pesado escudo da legislação, empertigando-se com as roupagens de posições há muito tomadas.
É preciso ter-se a certeza de que fazer desenvolvimento regional não será sòmente regionalizar problemas e soluções, mas sim, e sobretudo, humanizar em dimensão local uma obra que deve ser concebida para o homem no seu meio e que, sendo para seus benefícios, logo lhe conquistará a simpatia e a adesão.
Há um ponto que me leva, em meditação, a algumas dúvidas: em que medida poderá vir a conciliar-se o objectivo número um do III Plano de Fomento «aceleração do ritmo de acréscimo do produto nacional», com a «correcção progressiva dos desequilíbrios regionais de desenvolvimentos» (o terceiro daqueles objectivos)?