do último Governo democrático. Era constituída por dois pequenos e velhos cruzadores e alguns antiquados contra-torpedeiros e submarinos, cujas reparações sucessivas e praticamente inúteis pesavam fortemente no orçamento e não lhes asseguravam qualquer valor militar.
Era, pois, evidente o «zero naval», revelador de uma impressionante incapacidade administrativa dos governos e do desprestígio a que estes haviam conduzido a armada nacional - uma verdade que era do conhecimento de toda a gente, principalmente daqueles que serviam a nossa Armada - e, até, como dizíamos, o último Ministro democrático, o comandante Pereira da Silva, chegou a afirmar pùblicamente:
Na verdade, a marinha de guerra portuguesa, como força naval, não existe; é apenas representada por um amontoado de navios velhos.
Após o 28 de Maio, coube ao Ministro Jaime Afreixo a ingrata e difícil missão de iniciar a profunda reforma, que conduziu a nossa marinha a uma posição que deu jus a que voltasse a ser lembrada como suporte da grandeza da Nação nos tempos em que nos lançámos na epopeia das descobertas, que transformou a face do Mundo. Mas a precariedade das finanças públicas não permitiu àquele distinto oficial pôr em prática tudo o que desejava.
Mais tarde, quando se começou a sentir o equilíbrio das finanças e a estabilidade governamental, pôde o Ministro Magalhães Correia executar o primeiro programa de renovação, ao qual foi dado o seu nome e que incluía a construção de 2 cruzadores, 12 contratorpedeiros, 12 avisos, 10 submarinos, 1 transporte de hidroaviões, 1 navio apoio de submarinos e 2 canhoneiras de fiscalização da costa. O custo global atingiu 12 milhões de libras.
Tão ambicioso programa, aliás, inteiramente de acordo com as realidades e necessidades da defesa nacional, foi aprovado pelo Governo, que resolveu dividi-lo em duas partes. E imediatamente se iniciou a execução da primeira, que compreendia a construção de 4 contratorpedeiros, 2 avisos de 1.ª classe, 4 avisos de 2.ª, 2 submersíveis e 1 transporte de aviões. O Ministro seguinte, que era o então capitão-tenente Mesquita Guimarães, preferiu, à construção do transporte de hidroaviões, a de mais 1 contratorpedeiro e 1 submersível.
Sem o recurso a qualquer empréstimo externo - política que haveria de manter-se sempre para prestígio e glória da Administração -, os 14 navios programados foram construídos e entraram ao serviço nos prazos previstos.
Ninguém pode esquecer esse grande dia 1 de Abril de 1933, em que chegou ao Tejo o primeiro navio novo, o aviso Gonçalvo Velho, nem o memorável discurso que o Prof. Oliveira Salazar, já então Presidente do Conselho, proferiu com muito calor e patriotismo:
Este pequeno barco entrou nas águas portuguesas antecipadamente pago, integralmente pago, com dinheiro todo de portugueses. A Armada começou a renovar-se nos mesmos anos em que o País colhe a todo o pão para comer. Os políticos do acaso encontrarão nisto uma simples coincidência; mas eu afirmo que está aí a base fundamental e a razão deste custoso empreendimento. Nós não teríamos ouro para o pagamento imediato da nova esquadra se, pelas campinas, não houvessem lourejado, abundantes, as searas. Para que pudessem sulcar os mares navios portugueses, foi preciso que a charrua sulcasse mais extensamente, e melhor, a terra da Pátria, poupando à Nação largas somas de ouro.
E noutro momento dessa oração:
Não há, senhores oficiais e valentes marinheiros, que esconder a face, mas que erguer altivamente o rosto; é nessa Pátria renascida que vós representais, cercada do prestígio que lhe granjearam o seu esforço próprio e os seus processos do Governo.
E já não me custa agora, a mim, falar na alta estirpe dos marinheiros portugueses, porque sinto fortes os vossos ombros para levar a sua pesada herança.
Meus senhores: Ainda hoje calam bem fundo no coração de muitos marinheiros aquelas palavras pronunciadas há 34 anos pelo Chefe do Governo. Outros portugueses - felizmente poucos - preferiram esquecê-las e tudo têm feito para destruir a unidade nacional que conduziu o País à prosperidade em que se encontra. Nunca, porém, o conseguiram e jamais o conseguirão.
Vozes: - Muito bem!
se alheou da renovação da Armada, pois logo encomendou mais alguns navios e deu início à transferência do Arsenal da Marinha para o Alfeite. Vencendo uma das maiores dificuldades que a Armada tinha tido até então, esse homem encarou, com muita oportunidade e coragem, a transferência do Arsenal da Marinha para o Alfeite, a instalação da base aérea naval no Montijo e a construção da Estação Naval e da Escola Naval do Alfeite, zona onde se instalaria a nova base de submersíveis, tornando assim possível uma importante reorganização de superstruturas.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Instalado o Arsenal na outra margem do Tejo, ali se construíram vários navios, entre os quais o navio hidrográfico D. João de Castro, o primeiro petroleiro português, o Sam Brás, que tão relevantes serviços prestaria durante a guerra. Esse foi um período de vida intensa e dura para a nossa armada. Tendo tomado posse do cargo de Ministro da Marinha em princípios de Setembro de 1944 o então capitão-de-mar-e-guerra Américo Rodrigues Tomás, enfrentou logo e resolveu o problema do restabelecimento da soberania portuguesa em Timor. Isso e muitos outros trabalhos de organização da armadura naval não o impediram de dar mais um largo passo na expansão do poder militar naval.
Estávamos no período de pós-guerra e nessa altura debatiam-se problemas e opiniões sobre a necessidade de a defesa nacional se fazer em tenra e no mar.