ria da Igreja angolana, D. António Tomás da Silva Leitão e Castro, que foi bispo de Angola e Congo, escreveu uma carta ao então secretário perpétuo da Sociedade de Geografia, Luciano de Castro, a informá-lo de que:

As igrejas e capelas, numerosas em cada concelho, caíram todas em ruínas, e, assim, tanto os indígenas convertidos como os europeus o os seus descendentes católicos empalhados pela província se acharam todos sem templo, sem culto, sem um padre que os unisse pelo matrimónio, constituidor da família, que baptizasse os seus filhos e os instruísse na Fé e que na hora do passamento os reconciliasse com Deus e lhes lançasse, com a última pá de terra, a primeira bênção, crista sobre a sua sepultura.

E, se é certo que os Portugueses levaram a fé crista ao continente africano na ocasião em que o descobriram, pois a cruz era a sua espada, também é verdade; que essa tradição foi diminuindo consideràvelmente pelas contrariedades que surgiram na sociedade portuguesa, pela- política pombalina e por outras razões que emanavam da metrópole.

A Diocese de Angola e Congo, erecta em 1596, depois de ficar vaga de prelado durante muitos anos, só em meados do século XIX foi guarnecida, apenas com cinco padres, que pouco ou nada podiam fazer na vastidão daquele território.

No último quartel do século passado, embora sem a paz social e política de que necessitavam para fazer progredir aqueles povos nos campos intelectual, moral, educacional e religioso, lá estavam os Missionários do Espírito Santo na primeira linha de combate, a dar o seu contributo e «apoio aos grandes militares Artur de Paiva-Pereira de Eça, Pais Brandão, João de Almeida e a tantos outros na obra de pacificação e entendimento.

Em Junho de 1885, a sua missão no Cuanhama foi pilhada e os missionários massacrados pelos assaltantes, mas nem por isso deixaram de voltar na ano de 1900, e ali permanecem no seu trabalho árduo, como anteriormente.

Apesar de tantas contrariedades, os Missionários tio Espírito Santo continuaram a intensificar o seu trabalho, e hoje estão-lhes confiadas, em Angola e Cabo Verde, 62 missões; 28 paróquias: 6 seminários; o Colégio de Alexandre Herculano em Nova Lisboa, com 412 alunos; a Escola de Teófilo Duarte, em Cuima, com 185 alunos para habilitação de professores de postos de ensino; uma casa dos rapazes com 95 alunos; outra casa dos rapazes, em Luanda, com 150 alunos; a estação emissora, católica de Angola, Rádio Eclésia, fundada pelo P.e José Maria Pereira; o jornal bissemanário O Apostolado. A eles se deve ainda a melhor e maior igreja do toda a província, denominada da Sagrada Família.

Foram os pioneiros na investigação botânica, nas explorações etnogeográficas e na- experiência de novas culturas agrícolas naqueles climas, com os melhores resultados c proveito para todos, na época em que não havia ainda institutos especializados nem especialistas. E os nomes de alguns dos seus missionários são ainda hoje internacionalmente conhecidos e respeitados, no campo da investigação científica, entre os quais podemos mencionar o P.e José Maria Antunes, descobridor de uma planta que é hoje conhecida no mundo científico por Antunésia.

Tal como acontece com os nossos valorosos soldados nos campos de batalha, os Missionários do Espírito Santo ali têm estado sempre presentes, desde há 100 anos a esta parte, a praticarem, como aqueles, actos de heroicidade e de patriotismo, correndo os mesmos riscos e com idênticos sacrifícios.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sem menosprezar a acção apostólica de outras organizações missionárias, designadamente a dos Capuchinhos e dos Jesuítas, e dos grandes vultos da Igreja que foram o prelado D. António Barroso e Mons. Alves da Cunha, os Missionários do Espírito Santo, que constituem hoje os mais sólidos pilares da cristandade em Angola, evitaram que o catolicismo se perdesse nessa província, por falta de clero, no período mais difícil da sua história missionária.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - As suas prósperas e eficientes instalações da Lunda, Cuamato, Cuanhama, Cubaugo, Cabinda, Lucula, Huíla, Lândana, Malanje, Dembos, Nova Lisboa, Libolo, Mussuco, Macombe, Zaire, Ambrizete e tantas outras espalhadas por toda aquela parcela de Portugal são verdadeiros centros de evangelização e de promoção social dos povos angolanos, que querem, com toda a justiça e em sinal de reconhecimento, erigir um monumento a tão heróicos missionários.

Converteram ao catolicismo mais de 1 milhão de almas; ensinaram e civilizaram com a Fé; espalharam o bem corporal na assistência aos doentes em toda a parte onde se encontrassem, praticando assim a grande virtude da caridade.

A sua acção tem como principal finalidade dar verdadeira alma apostólica a todos quantos dela necessitam, pois assim ficarão mais perfeitos, mais civilizados e mais portugueses ainda.

Mais tarde, em 10 de Dezembro de 1887, fundaram uma escola agrícola em Sintra; em 1891 um colégio em Ponta Delgada; em 1892 a Procuradoria das Missões em Lisboa; em 1906 um curso de Teologia, em Carnide, etc.

E, quando tudo parecia continuar em franco progresso, surgiu a revolução de Outubro de 1910, de que resultou o encerramento das suas casas e a confiscação dos seus bens.

Mas os missionários não desanimam com as derrotas; pelo contrário, aumentaram a sua fé, na esperança de melhores dias, e venceram as maiores dificuldades, ressurgindo das cinzas a que os haviam reduzido.

O reverendo padre missionário Duparquet, depois de várias diligências junto do então Ministro da Marinha, visconde da Praia Grande, e Ministro dos Negócios Estrangeiros, conde de Casal Ribeiro, seguindo o propósito formulado anteriormente pelo venerável Libermann, resolveu fundar na metrópole portuguesa uma casa destinada a preparar missionários para o nosso ultramar. E assim aconteceu.

Em 3 de Novembro de 1867 fundava-se em Santarém a Casa do Congo, depois na Roma portuguesa que é a cidade de Braga, onde tomaram de arrendamento uma casa na Rua do Carvalhal, passado um ano na Quinta das Hortas, até ser construído um edifício próprio ao cimo da Rua de S. Vicente.

O Sr. António Santos da Cunha: - V. Ex.ª dá-me licença?