O Sr. António Santos da Cunha: - Eu peço licença a V. Ex.ª para o interromper. Já ontem tive a tentação de o fazer quando, sobre o mesmo assunto - a que V. Ex.ª se está referindo com o maior brilho -, falou o Sr. Deputado Sebastião Alves, que aqui confessou nobremente o que pessoalmente devia à benemérita Congregação dos Padres do Espírito Santo.

É que eu conheço perfeitamente a notável acção missionária dos padres do Espírito Santo e o seu amor e dedicação à Pátria e à Igreja.

Em Braga, como V. Ex.ª acaba de referir, reavivou-se essa obra secular depois do vendaval de 1910, que não poupou sequer o grande Colégio do Espírito Santo, um dos maiores do País, onde os beneméritos padres se dedicavam à educação da juventude e que constituía uma das mais importantes bases da economia local. Recordo-o que a Roma portuguesa sofreu com a afronta que lhe foi feita ao ver leiloar publicamente o que restava dos saques a que os bens do Colégio estiveram sujeitos. Recordo a tri steza da gente da minha terra, e a alegria dela ao assistir mais tarde, dentro dos muros da cidade, ao reacender da obra - julgo que, sem dúvida, a maior ainda hoje em extensão e em profundidade - missionária da benemérita Congregação, que bem merece o carinho, auxílio e respeito de todos os portugueses. Creio que, se as famílias portuguesas fiéis à nossa vocação histórica tivessem alimentado com os seus filhos a obra missionária, não teriam agora de, através deles, pagar o seu tributo de sangue para que possamos continuar nas nossas províncias ultramarinas. Se tivéssemos tido mais missionários, não precisaríamos agora de tantos soldados.

A todos os beneméritos padres do Espírito Santo, aos esforçados obreiros do passado e do presente, eu saúdo reconhecido, lembrando um morto e um, graças a Deus, vivo: o grande padre Clemente e o arcebispo ré signatário de Luanda, D. Moisés Alves de Pinho. Peço muita desculpa da interrupção, mas confesso que era imperativo da minha consciência dizer o que disse.

O Orador: - Obrigado fico eu a V. Ex.ª pela sua valiosa intervenção. E porque também eu, desde há 25 anos, venho seguindo de perto a obra realizada pela Congregação, é que entendi que não devia deixar passar este ano do centenário da sua instalação na metrópole sem dizer aqui uma palavra a esse respeito.

Em Braga, fundaram o Colégio do Espírito Santo, onde funciona hoje o liceu daquela cidade.

No Porto, fundaram o Colégio de Santa Maria, que é hoje o de Almeida Garrett, e ambos eram dos melhores do País.

Vozes: - Muito bem!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A obra era demasiado grande para quem, como a Congregação, não dispunha de dinheiro para a Levar a efeito; o seu custo era, nessa data, de 14 000 contos.

Foi Sua Eminência o Cardeal Patriarca de Lisboa, D. Manuel Gonçalves Cerejeira, que benzeu a primeira pedra lançada para a sua construção, a cuja cerimónia tive a honra de assistir, e lembro-me de o ter ouvido, e pelas razões apontadas, pronunciar estas palavras: «Atrevimento não lhes falta.» E assim pensávamos também nessa ocasião, mas foi-nos dado verificar, com muita alegria, que em Outubro de 1952 foi possível instalar, na, parte já então construída, o curso de Teologia.

Entretanto, em 1953, D. Agostinho de Moura foi sagrado bispo de Portalegre e Castelo Branco, onde a sua acção tem sido igualmente meritória, como o havia sido na Congregação do Espírito Santo, e aquela obra foi depois continuada, com igual dignidade e eficiência, pelos seus colaboradores desde a primeira hora, os grandes missionários Revos. Pes. José Felício, Augusto Maio e outros que vivem no anonimato da sua modéstia.

As casas de formação missionária na metrópole, com os seus seminários de Fraião, em Braga, de Godim, na Eégua. de Silva, em Barcelos, de Viana do Castelo, o Seminário Maior de Teologia e Filosofia na Torre da Aguilha, com as Residências em Coimbra e no Porto, e o Provincialato e Procuradoria, em Lisboa, e a rede missionária nas províncias ultramarinas de Angola e Cabo Verde, são uma realidade de factores que muito têm contribuído para o progresso das populações e para a elevação do seu nível social.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Há ainda a salientar os óptimos resultados obtidos dos Encontros Missionários do Professorado Primário e das Escolas do Magistério, que se têm realizado anualmente e desde o ano de 1961, nas cidades de Viana do Castelo, Guimarães, Guarda, Portalegre, Tomar e Coimbra, por iniciativa do director da Liga Intensificadora da Acção Missionária, o grande organizador e impulsionador que tem sido o Rev.º Pe. José Felício, a quem já me referi, que sabe, como ninguém, remover todos os obstáculos para atingir a sua sempre benéfica e bem intencionada finalidade de servir os interesses da Nação Portuguesa por intermédio da Igreja Católica.

Durante os seis dias que é costume utilizar em cada uma dessas grandes reuniões anuais com o professorado primário, em que são apresentados vários temas e correntes, vivem-se horas altas de alegria, de compreensão, de estudo e de meditação, que muito vão influir na boa formação cristã das crianças das escolas primárias, e até nos seus professores.

As autoridades civis e as populações das cidades onde eles se realizam vivem também os mesmos problemas e sofrem a influência benéfica dessas magníficas sessões de estudo e de civilização cristãs.

Nelas intervêm e delas fazem parte muitas das maiores competências da Igreja e do laicado.

Através das suas conferências, dos seus discursos, das suas homilias, dos seus diálogos, numa palavra, da sua linguagem falada ou escrita, todos aproveitam em ensinamentos, em atitudes, e até nos problemas da vida quotidiana que anteriormente se julgava de difícil solução.

São reuniões de grande valia para o aperfeiçoamento do nosso espírito e da nossa civilização, especialmente na época conturbada de imoralidade que o Mundo atravessa, em que é necessário, como nunca, sermos mais compreensivos, mais humanos e mais santos.

Louvemos, pois, os missionários do Espírito Santo, que têm colaborado, como ninguém, com o Governo da Nação Portuguesa na pacificação e ci vilização dos povos africanos, dando tudo quanto podem, até ao sacrifício das suas próprias vidas, para o progresso de Portugal em África e ma metrópole.