O Orador: - Em carta publicada logo no dia imediato, o Dr. Rodrigues Cavalheiro não opôs desmentido à afirmação em referência, pois limitou-se a reportar-se ao depoimento de ou trem, que este supusera exacta.

Confesso, Sr. Presidente, que me regozijou pessoalmente o artigo do Diário de Noticias, por amor à verdade, por amor à justiça e porque a realidade histórica confirmou que razão assistira a José Luciano de Castro. E, vamos lá, regozijei-me também por motivo de parentesco afim, que a ele me ligava.

Até, por sinal, a propósito desta circunstância pessoal, é curioso narrar-lhes dois pequenos episódios ocorridos comigo, que revelam um pouco a maneira de ser do Chefe Progressista.

Assim, lembro-me de que, exercendo eu as funções gratuitas de secretário do Ministro da Justiça Prof. Doutor Artur Montenegro e tendo este saído do Governo, pretendi ser nomeado delegado do Ministério Público na longínqua comarca de Mogadouro.

Porém, José Luciano comentou: «O rapazinho tem pressa! ... Pois que espere...!». E eu esperei felizmente ...

Lembra-me também de certo dia, terem sido anunciados distúrbios quando João Franco regressasse de uma viagem ao Norte. Assim sucedeu com efeito, e, quando corri a casa de José Luciano para narrar-lhe o acontecido, ele troçou de mim por ingenuamente lhe ter dito que, para escapar das balas da esquadra do Rossio, eu levantara a gola do meu casaco!...

O Orador: - Sr. Presidente: Todos conhecemos a história dos lamentáveis acontecimentos posteriores ao regicídio e antecedentes da mudança do regime político. Seria, portanto, inútil renová-la; e nem as condições de saúde mo permitiam.

Basta recordar o facto de a queda do governo de João Franco ter redundado no regresso puro e simples do regime monárquico-liberalista, que repudiamos.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Da desordem e da anarquia dominantes até ao 5 de Outubro e das que lhes sucederam até 28 de Maio basta referir como exemplo, como repugnante exemplo, as romagens sacrílegas às sepulturas dos regicidas, sem sequer ter havido quem por todos os modos impedisse tal vileza demagógica!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mas há mais e pior! E muito vale também como sinal dos tempos.

São decorridos alguns anos desde o momento em que, transitando num dos grandes cemitérios de Lisboa após um funeral, deparou-se-me um espectacular jazigo, implantado ao centro da confluência de várias ruas principais, que ostensivamente se exibia à vista dos transeuntes, por mais desatentamente que seguissem o seu caminho.

E, por isso, também a mim não podia passar despercebido o espectáculo infame e revoltante que se deparava aos meus olhos.

A indignação que senti e a minha revolta foram tais que firmei logo o propósito de apresentar um protesto perante as autoridades e trazer o assunto à Assembleia Nacional; e assim fiz.

Do que se tratava, afinal?

Não é demasiado repeti-lo, até porque muitos são hoje os que não me ouviram e igual será o número dos que o ignoram ou mesmo esqueceram.

Aliás, é simples a discrição: da campa erguiam-se dois braços robustos talhados em pedra. A mão de um empunhava uma grossa corrente de ferro quebrada e a mão do outro erguia o facho simbólico tradicional.

O jazigo não indicava nomes, mas dos símbolos facilmente se depreendia que ele glorificava os regicidas. E o epitáfio gravado era este: «Aos salvadores da Pátria». Simplesmente assombroso!

Claramente, fiquei logo convencido de que o Governo da actual situação política ignorava completamente a existência daquela torpeza.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Protestei aqui e perante o Governo da Nação, mediante carta dirigida ao Prof. Doutor Carneiro Pacheco, por ser de todos os Ministros o que eu mais conhecia.

Desnecessário será acrescentar que o resultado foi eficaz: a sepultura dos regicidas foi retirada.

Mas, pensando bem e se ainda fosse possível, talvez houvesse utilidade em dar-lhe outro destino.

Existiu para aí, paredes meias com um estabelecimento creio que de ensino, um «Museu da Revolução». E pena que esteja extinto, pois, exumados os cadáveres, teria sido útil exibi-lo ali, como lição aos vindouros, de que é possível glorificar e consagrar pùblicamente o crime sob o signo de um regime demo-liberal ou demagógico.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Henriques Mouta: - Sr. Presidente e Srs. Deputados: Os problemas económicos, reconhece-se hoje mais do que nunca, são problemas humanos. Por isso, o interesse por eles alarga-se cada vez mais e nenhum responsável lhes pode ficar indiferente. Ora um dos sectores económicos nacionais em processo de desenvolvimento é o da pasta de celulose e de aproveitamento de partículas e fibras de madeira. A sua panorâmica actual, segundo elementos de origem, oficial, pode concretizar-se como segue. Fábricas em laboração: Caima, Cacia; Celbi e Socel, com ampliações já em curso ou previstas. Fábricas em construção ou em projecto: Vila Velha de Ródão, a concluir em 1969, e Cemil, no Minho. São unidades para fabrico de pasta celulósica. Para o aproveitamento de partículas e fibras de madeira: em laboração, Amarante, Porto, Souselas, Tomar, Nazaré e Lisboa é, para breve, Oliveira do Hospital; em projecto, três no distrito de Santarém e outras no Nordeste transmontano.

Já em 1966 saiu um despacho orientador que deve ter influenciado parte dos elementos da paisagem e perspectiva deste sector industrial. Entretanto, novos elementos de informação chegaram do recente inventário florestal. Revelou o inventário uma situação de equilíbrio entre a produção e o consumo de madeira de eucalipto e razoável margem de segurança entre a produção do pinheiro e o consumo da respectiva madeira e derivados. Não se perdeu de vista a conveniência e até possível necessidade do crescimento das unidades industriais, mesmo recorrendo à fusão delas. Pois o aumento da dimensão das empresas pode constituir condição de segurança para elas e até para a economia nacional em que se integram. E empresas com tais dimensões envolvem investimentos que se apro-