Pelo que diz respeito ao recrutamento de professores, queremos trazer a este debate uma observação, que pode apresentar-se como depoimento de quem procura aprender na escola da experiência. E só por esse facto um depoimento que pode interessar à discussão do problema em causa, pois que m(c) falha qualquer outra qualidade para o fazer.

Ninguém ignora que suo as Faculdades de Letras e de Ciências, dentro das nossas Universidades, aquelas que preparam o maior número de professores do ensino secundário liceal e técnico. Nem uma riem outra dessas Faculdades tom por missão exclusiva a referida preparação, uma vez que também habilitam para o exercício de outras funções estranhas à docência. Todavia, o maior número dos seus alunos é formado, sem dúvida, por aqueles que aspiram u seguir a carreira do magistério.

Para saber do cuidado posto na preparação dos futuros professores, bastará examinar os mapas estatísticos e colher aí a lição do confronto do número de diplomados com o daqueles que se inscreveram no primeiro ano do respectivo curso. Saber-se-á, então, das exigências e ainda da rigorosa selecção a que se procede, em ordem a só conceder o grau de licenciado ao aluno que dê provas suficientes da sua capacidade.

Impõe-se lembrar, pelo que diz respeito, de modo especial, às Faculdades de Letras, que raro é o caso de um dos seus alunos se sujeitar ao exame de licenciatura logo que finda o 5.º ano do seu curso. Obrigado a preparar uma dissertação para o mesmo exame, tanto o obriga a prolongar o curso, pelo menos, durante um ano. E ninguém deixará de reconhecer que ganhou, assim, em conhecimento - e logo em preparação.

Quando licenciado, o antigo aluno das Faculdades de Ciências e Letras está senhor da cultura geral e de especialidade que é necessária para o bom desempenho da função docente. Ministrou-lha a Universidade - e por ela se declarou responsável, ao conferir-lhe um grau. Para quê. então, outro exame, quando o diplomado quer ingressar no estágio que o habilite à docência?

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Para quê, se tal exame não visa outro fim que não seja averiguar dos conhecimentos do candidato?

Facultou-lhe a Universidade o conhecimento bastante, encaminhando-o para a tarefa da investigação ou da reflexão sobre um dado tema e ensinando-lhe, assim, a estudar com proveito. Variando o programa da cadeira a seu cargo, o mestre universitário adapta-se às realidades do nosso tempo e demonstra aos alunos que devem permanecer estudantes ao longo de toda a sua carreira e para além da formatura.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A cultura geral e de especialidade adquire-a, assim, o candidato ao magistério do ensino liceal na Faculdade que frequenta. Quando esta lhe confere o grau de licenciado - e amanhã, como se projecta, o de bacharel -, implicitamente lhe reconhece capacidade bastante para o exercício da função de professor. Complementarmente, virá a carecer o mesmo candidato de preparação e prática pedagógica: mas não deve depender a sua obtenção de qualquer prova preliminar que visa apenas saher da sua cultura geral c da especialidade. Exigi-la será sempre o mesmo que pôr em dúvida o próprio magistério superior, na sua finalidade e na capacidade daqueles que o exercem. Exigi-la corresponderá, assim, a negar, de alguma maneira, a missão da Universidade.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - As portas do estágio devem ser franqueadas a todos os licenciados que se mostrem inclinados à docência no ensino médio. Bem poucos serão eles, por muitas e variadas razões já enumeradas nesta tribuna. Por isso mesmo é que importa facilitar, em vez de dificultar, atraindo e não afastando.

Vozes: - Muito bem!

das Faculdades de Letras e Ciências. Façamos votos por que venha depressa a concretizar-se o que, ontem anunciado, agora começa a definir-se como projecto.

Ser-me-ia grato aditar uma palavra de apoio a quantas o autor do aviso prévio consagrou às condições materiais a que andam sujeitos os professores do ensino liceal. Ninguém pode negar fundamento sério às considerações feitas pelo Dr. Martinho Vaz Pires. Ninguém deixará de reconhecer que os vencimentos desses professores, não sendo suficientes, também não são atractivo para os novos, concorrendo assim para afastá-los da carreira docente. Mas a palavra de apoio que desejaria apresentar, essa vai endossada, não ao caso particular, mas sim ao geral.

Com efeito, desde o professor do ensino primário ao da Universidade, nem um só aufere, pelo exercício do seu magistério, rendimento bastante para enfrentar as exigências do custo de vida e manter uma sólida base material para a sua posição social.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - O problema, generalizando-se, abrange sectores diversos, e não apenas o dos professores do ensino liceal. Confiadamente, aguardemos a reforma, em estudo, dos vencimentos de todo o funcionalismo, para que seja feita inteira justiça aos professores portugueses.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Repetindo hoje palavras nossas dedicadas à apreciação do III Plano de Fomento, diremos agora, para atender à especialidade do aviso prévio, que a preparação dos quadros docentes do ensino secundário tem de ser distinguida com a prioridade, em relação a outras tarefas pertinentes ao novo surto de renovação. Se tem