diferente em iodos elos, o que levam inevitàvelmente a flagrantes injustiças.
De um professor sei eu que, tendo sido encarregado da tarefa de apreciar provas em determinado ano, usou de critérios de tal modo extravagantes e destruidores do trabalho dos alunos que nunca mais foi nomeado.
Não compreendo, na verdade, a não ser que se utilizem computadores electrónicos, o que me parece difícil, quando há que apreciar determinadas aptidões que ainda não cabem no domínio da máquina, que se possa distinguir mesmo um critério relativo entre um 7,4 que elimina o aluno e o 7,5 que permite a sua passagem à prova oral.
Não estará em tudo isto mais uma das causas da crise do ensino liceal?
E muito mais se poderia alegar em desfavor do actual sistema de um estatuto com mais de 30 anos, mas não devo alongar-me em outras considerações que talvez tivessem pertinência.
Formularei, todavia, mais as seguintes interrogações:
Estará o ensino liceal mal orientado?
Por que se apresentam os alunos deficientemente preparados?
Serão os programas vastos, si custa de matérias sem interesse, na formação de uma cultura geral e de uma preparação pré-universitária?
O sistema de exames errado?
O aviso prévio há-de necessariamente responder a estas perguntas e a outras já formuladas ou a formular no desenvolver do debate.
Quero terminar com palavras que não são minhas. Será maneira de fazer com que adquira algum mérito esta intervenção na debate.
São palavras de um homem que tam como poucos o sentido exacto da prioridade dos problemas nacionais.
Escreveu o Prof. Leite Pinto, no seu notável despacho de 21 de Novembro de 1959, relativo ao Projecto Regional do Mediterrâneo, estas palavras de antologia:
Alimentar, albergar, vestir, educar, lançar uma população crescente na produção é sinónimo de aumentar a produtividade do trabalho. Este aumento só é possível enriquecendo a Nação com gente válida, física e intelectualmente.
Uma nação vale mais pelos seus homens do que pelas riquezas naturais.
Pois que da colaboração do Estada com a família para a formação e aperfeiçoamento das personalidades, através do ensino e da educação dei nossa juventude, por vezes tão mal compreendida, possa sair gente válida física e intelectualmente para continuar a Pátria.
Tenha dito.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.
O Sr. Marques Teixeira: - Sr. Presidente: Ao trazermos a pequenez do nosso contributo à matéria em debate, apraz-nos e é um acto de justiça exprimir sentimentos de homenagem ao ilustre Deputado avisante, prezado colega Dr. Vaz Pires, pela oportunidade da sua feliz iniciativa, que logrou concretizar por forma deveras brilhante.
A problemática da educação é e nunca deixará de ser plena de actualidade, e, portanto, constitui ou deve constituir preocupação primeira do pensamento e móbil constante da acção de quem sinta e viva as grandes causas da comunidade nacional.
Há fundamento para se afirmar que esta Câmara, sensível, como lhe cumpre, à ideia da análise e do estudo dos instantes problemas que estão na base da existência e engrandecimento da Nação, repetidas vezes tem revelado possuir o maior interesse e dedicado a atenção mais desvelada à essencialidade do que, no plano das necessidades irredutíveis da vida do homem, anda associado à do pão - e educação.
E por essa facto verdadeiro e consabido é que se lhe faz natural referência com o à-vontade que resulta da reminiscência de nela ter sido humilde a nossa participação, ainda que, sublinhe-se, é motivo pessoal de desvanecimento, prazer e expressão de justiça poder testemunhar-se, em consciência, a densidade e a qualidade das intervenções feitas e depoimentos produzidos por tantos Srs. Deputados, cujos nomes não mencionamos individualmente apenas por virtude do receio de cometermos a fealdade de qualquer omissão. Repetimos: intervenções de sinal mais, como sói agora dizer-se, pois que na verdade, notáveis ao mais alto nível moral, intelectual e cívico, porque determinadas pelo objectivo estreme de bem servir o País.
Sr. Presidente: O aviso prévio de que, por forma chã, nos vamos ocupar, ainda que considerado nos exactos moldes com que foi apresentado, aponta curial e necessàriamente para o fulcro da temática geral em que se enquadra, e daí acudirem-nos à mente, por via dele, pontos de doutrina, expressos pela elevação, nobreza e saber de tantos espíritos de eleição, dos quais, como paradigma e modelo, distinguimos e escolhemos o de V. Ex.ª Sr. Presidente.
Recordamo-nos de ter V. Ex.ª declarado que a educação, antes de para problemas de ciência, aponta para problemas de sentido. Se bem anotámos o alto pensamento de V. Ex.ª, julgamos ter acrescentado: é claro que não podemos dispensar-nos de fornecer à juventude as noções e os métodos que a ciência naturalmente proclama e de que carece. Mas a ciência não resolve o problema da vida: a ciência o que procura fixar é a estrutura do universo.
A ciência com que se entretém é com os problemas do ser, não é quando se fixa a estrutura do universo ou dos corpos, quando se determina exactamente o que é ou o que foi, que se resolve o problema do sentido da vida. Há uma passagem intransponível entre o que é e o que deve ser; há um salto para o qual não se encontra ponto de ligação entre o indicativo e o imperativo. A ciência, diz-nos o que é e importa que a nossa juventude seja munida de métodos mais perfeitos para determinar, para averiguar, o que é, para se desempenhar daquilo que, como cultura da ciência, deve desempenhar-se, para estudar as questões da estrutura do universo.
Mas isto é tudo o que a ciência pode dar; o que a ciência não pode dar é uma norma para a vida. O que pode dar uma norma para a vida não é a resposta a esta pergunta: que é o universo?, mas estoutra: qual o sentido do universo, qual o sentido da vida?
Quando se põe um problema de educação, no fundo o que se põe é um problema de sentido da vida. Como é preciso orientar a vida? Que concepção devemos ter da vida? E é precisamente a concepção que nós tivermos do universo ou da vida - e não a ciência - o que marca o nosso caminho na vida.