um juízo critico e pessoal, de um sentido religioso e moral.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A contrapor ao tempo-vertigem dos nossos dias conviria, porventura, regressar ao latim, língua disciplinadora do pensamento e da palavra, ou mesmo aos rigores da lógica e da crítica, em que se precisam os conceitos e se disciplina o raciocínio e se tempera o fio de aço de uma dialéctica que penetra até à medula das coisas.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Os compêndios de Filosofia actualmente adoptadas regurgitam de psicologia - espécie de terra de ninguém onde todas as incursões duvidosas são possíveis e onde o rapaz ou a rapariga pode ser cobaia de psicologias experimentais de qualquer.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mas, Sr. Presidente e Srs. Deputados, importa, em todo o processo de formação do aluno do liceu, que se mantenha unidade de ensino e de comportamento, convergência de pensamento e acção, para não se desorientar, diminuir, distorcer e deformar o espírito, o coração e a personalidade do jovem estudante.

Cumpre, Sr. Presidente e Srs. Deputados, denunciar abertamente à consciência e ao Governo da Nação toda a sub-repção vermicular de ideologias deletérias, de insinuações malévolas, erros e calúnias que se acumulam na impunidade e se disseminam sem receio em certas aulas de Filosofia, História e Literatura, em certos textos utilizados. A traição que deste modo se comete é multíplice. É traída a confiança do Estado; traída a confiança da Nação; traída a confiança da Igreja; traída a confiança dos pais, que tranquilizaram a sua consciência na competência e idoneidade dos mestres e na vigilância das entidades responsáveis. É traída a inocência de uma juventu de em que a Pátria deposita as suas esperanças. E o pior é que se trata de traição impune e traição remunerada. Remunerada com dinheiro de todos nós. E há quanto tempo? ...

Quando a simples omissão injustificada da função docente seria fraude, que dizer da distorção malévola do múnus sagrado de cultivar e formar a juventude de uma Pátria em guerra? ... Meus senhores, as anomalias e abusos referidos por vários oradores ilustres, nesta mesma tribuna, são verdades surpreendidas na história de todos as dias, verdades dolorosas e humilhantes. Verdades que reclamam verdade de pensamento e de acção. Verdades que reclamam humildade de serviço à Pátria. Verdades que reclamam coragem de medidas prontas e eficazes, para salvaguardar o futuro de uma Nação gloriosa que desafia todas as tempestades da História.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Hirondino Fernandes: -Sr. Presidente, Srs. Deputados: Não há muito tempo ainda, dizia alguém com larga experiência da vida e alguma desta tribuna, que não era sem certo receio que subia os degraus que acabámos de subir.

Tomámos o caso como modéstia, e era-o da sua parte; nós, porém, não sei como chegámos ao cimo. A menos que, e aí está por certo a razão a contrabalançar o peso da responsabilidade estivesse, como estava, como está, a leveza do nada que temos a dizer.

Por que nos não teríamos calado, estarão VV. Ex.ªs para pensar. Antes que o façam, esclarecemos: sómente porque as qualidades de inteligência e de carácter e de trabalho do Dr. Martinho Vaz Pires moralmente nos obrigam a lançar uma faúlha que seja, e por bem minúscula que possa ser, para a causa da fogueira que entende e pretende atear.

Somente por isso, que, de resto, do ensino liceal apenas conhecemos aqueles magros pontos em que com o técnico, que desde sempre abraçámos, se entrelaçam.

Também não é necessário que de outro modo suceda: o autor do aviso prévio em questão, bem como os ilustres colegas que nos precederam, e, sem dúvida, os que se hão-de seguir, com superior competência e invulgar brilho, tudo deixaram dito.

A ser assim, nós apenas queremos, embora correndo o risco de repetir ideias já defendidas, dizer duas palavras, sem nexo talvez e descoloridas por certo, sobre a quinta das alíneas do aviso prévio em discussão: o professor.

Gostaríamos de falar também do plano de estudos: sua duração, disciplinas que o constituem e respectivos programas, interligação das mesmas. Mas, por outro lado, não sabemos onde as coisas vão parar com os ciclos unificados e, pelo outro, tal facto requeria uma não total adesão ao técnico, que inteiramente nos absorve.

Sem embargo dos sete anos passados pelo liceu, alguma coisa ficou ainda viva hoje ou mais viva ainda mercê de comentários múltiplos de professores, de alunos, de encarregados de educação: o problema de certo joio a empanar a beleza e riqueza da farta seara que, apesar de tudo, a todos levanta para a vida.

Visto este joio pelo prisma do concreto, citem-se para não falar noutros, inúmeros problemas de história e geografia e ciências naturais, por exemplo, que nunca mais na vida será necessário saber e, bem assim, outros, por exemplo, também de português, que a tudo conduzem menos àquilo que em nosso fraco entender devia ser preocupação exclusiva de tal disciplina: criar gosto pela leitura - pela "página impressa", como diria o grande pedagogo Sebastião da Gama -, levar os alunos a bem falarem e bem escreverem a língua de Camões.

O Sr. Veiga de Macedo: - Pelos vistos, não é fraco, mas bem forte, o entender de V. Ex.ª

totalidade dos alunos, venham eles donde vierem.