pudéssemos invocar a pouca experiência que do ensino técnico temos.

Por um lado, não sei por que devamos não o fazer, que ensino liceal e técnico tudo é ensino secundário; pelo outro, porém, não vale a pena recorrer a este, que, mesmo assim, também aquele nos oferece exemplos deveras flagrantes para o fim em vista. Porque assim é, para que havemos de ir a casa alheia se nos remediámos nesta nossa com aquela dúzia ou dúzia o meia de casos que, amavelmente, alguém nos comunicou, e outros que nós conhecemos?!

A mais insignificante. das aulas assenta na solução destes três quesitos: o que ensinar, a quem o ensinar e como o ensinar.

Não temos para o primeiro dados suficientemente abundantes que nos mostrem claramente a sua não satisfação, mas tal também não interessa sobremodo, sendo por de mais manifesto que só muito raramente estará por completo dentro da matéria que vai ensinar o professor - falamos, como facilmente se depreende, dos professores provisórios - a quem faltam dois ou três ou quatro anos para conclusão do seu curso (e são alguns, nos dois ensinos, os nestas condições) e que tão-pouco o pode estar aquele que vai leccionar disciplinas para as quais não teve a mínima preparação específica (como algumas vezes sucede, agora sobretudo no liceal).

Se passarmos ao segundo dos quesitos, o problema adquire, se possível, maior gravidade, porquanto, sendo cada aluno um caso particular - psicologia diferencial -, os 20 ou 30 ou 40 de cada turma hão-de, forçosamente, ser 20 ou 30 ou 40 casos, qual deles mais particular.

Antes de rasgar o caminho, procura o topógrafo conhecer o terreno sobre que se há-de marchar; aqui, o professor, que acima citámos, começa e termina as suas aulas, esta como aquela, a este aluno como àquele, hoje como ontem.

Não variando estilo, nem tom, fala uma vez, muitas vezes ... quando não dita apontamentos dali, da secretária, tudo ao jeito ainda do velho magister dixit, enquanto lá para trás se joga à batalha naval! E assim uma vez, duas vezes, incompreensivelmente, três ou quatro ou mais vezes até como nós fizemos e vimos fazer.

Simplesmente é outro nos dias de hoje o material bélico. A lança e a espada de ontem deram lugar à pistola-metralhadora, à granada de mão, ao morteiro. Quem se admira, pois, do deflagrar involuntário de uma ou outra bomba, ali, no meio dos soldados todos, no decorrer de operação de tão larga escala? E o pobre do inadvertido aluno, por exclusiva culpa da falta de conhecimentos pedagógicos do professor, não só1 perdeu a lição, como foi ainda para a rua, sem quaisquer contemplações, com falta de castigo.

Entramos, assim, no terceiro dos quesitos, que, dissemos, desde o primeiro momento se punham ao professor: como ensinar.

Tirado ao acaso, de entre os vários que nos foi proporcionado ver, reza assim o sumário, já arquivado, de um daqueles professores do ano lectivo findo: "Chamadas à matéria estudada". Certo, se não viessem logo estoutros: "Chamadas de revisão da matéria estudada", e logo "Chamadas" e, depois e ainda. "Chamadas" e "Chamadas" e "Chamadas".

A tanta chamada seguiram-se, não, por certo, as respostas que seria de esperar, mas novo ciclo durante o qual se "amontoaram" novos e muitos capítulos a ter que papaguear, porquanto cá estão os mesmos sumários do mesmo professor X do liceu Y: "Chamada escrita", "Correcção da chamada escrita" e logo "Chamadas", "Chamadas", cinco ou seis vezes "Chamadas".

Mudando de professor e de disciplina, novos exemplos encontraríamos, dezenas, se não centenas, por esses liceus fora. De alguns sabemos.

No final de cada aula, cujo diapasão de planejamento e execução será fatalmente o do curso, pôr-se-ão estes professores o problema do que aprenderam os alunos?

Na maior parte dos casos, acreditamos, sinceramente, que o façam. Acreditamos na sua boa vontade em acertar ou, melhor talvez, na sua preocupação de acertar. Mas II preparação literária a pedagógico-didáctica não é a que baste, e os erros surgem ...

Ser professor, porém, não é só isto. Muito longe, ser professor é mais do que ser conhecedor de uma disciplina e sobre ela saber dar aulas; ser professor é. principalmente, como dizia o prezado colega Dr. Martinho Vaz Pires, entregarmo-nos com toda a nossa alma e com toda a nossa inteligência ao convívio amigo dos alunos, dando-lhes - dizemos os agora - o amparo, a orientação, a dedicação, a justiça, a paciência, a simpatia de que carecem.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Ser professor é, sobretudo, isto, e isto é o que essencialmente é difícil, para mais no período crítico que os jovens atravessam do 1.º ao 5.º ano dos liceus: -ser professor é ficar na memória e no coração dos nossos alunos pela vida fora, quando eles foram nossos alunos dos 11 ou 12 aos 15 ou 16 anos.

Mas a que virá tudo isto?, perguntarão. Apenas para mostrar, como é evidente, nada como ver para crer, a pertinência do presente aviso prévio a procurar reconquistar para o professor o terreno perdido, anulando, assim, os erros de que os apresentados são uma pálida amostra.

De resto, do mais muito está feito e o que não está fácil é fazer-se. Umas centenas de máquinas, umas dúzias de novos empregados, tudo é fácil: difícil é apenas e fazer renascer o gosto pela profissão de professor, dados os encargos que, aceite a proposta actualização dos seus vencimentos, que é condição sine qua non, o caso necessariamente implica.

De qualquer das maneiras, ela