exigindo dos alunos uma excessiva memorização de conceitos e nomenclaturas difíceis e ininteligíveis para as suas mentalidades.

Haverá, pois, que se determinar nitidamente nos programas do ensino do português a matéria gramatical a exigir, unificando-se a nomenclatura e simplificando-se as noções gramaticais. Que se actualizem também os métodos do ensino da gramática, de modo que esta se torne verdadeiramente um precioso auxílio para o estudo do português e um meio para uma melhor compreensão da nossa língua.

O Sr. Veiga de Macedo: - V. Ex.ª dá-me licença?

A Oradora: - Com todo o gosto.

língua portuguesa, nesse portuguesíssimo território, não tivesse ainda a expansão exigida por iniludíveis e irrecusáveis imperativos de carácter nacional.

Por isso, aproveitei a oportunidade que então me foi oferecida para, publicamente, formular o voto de que, também em Moçambique, se vença, em plenitude, a batalha da instrução, e de que a língua comum, «a madre língua portuguesa», factor essencial de aglutinação nacional e expoente admirável e insubstituível de cultura, venha, em poucos anos, a ser falada por todos os portugueses, dos diferentes credos e raças, pois só dessa forma poderá avivar-se e frutificar o diálogo, permanente, construtivo e pacífico, da lusitanidade e do espírito cristão.

Pois é o mesmo voto que, de novo, me permito formular, agora, aqui nesta Assembleia. Desta forma, se pretendo dar voz a um grande anseio do meu espírito - que o é de todos nós -, quero também associar-me, em preito de homenagem, às oportunas e avisadas palavras que V. Ex.ª fez recair sobre um problema de fundo de flagrante actualidade e tão íntima e indissoluvelmente ligado ao da própria unidade nacional.

A Oradora: - Agradeço a V. Ex.ª as palavras gentis que me dirigiu e muito me honraram, porquanto elas valorizam o meu trabalho, vindas, como vêm, de uma pessoa que no campo da educação é realmente das primeiras do País.

Relacionados com o ensino do português estão os livros de leitura e as selectas literárias.

Embora esteja consciente da dificuldade que há de se encontrarem livros de leitura e selectas que satisfaçam cabalmente o ensino do português, não poderei deixar de chamar a atenção para a necessidade de se escolherem com o maior cuidado os livros de textos para o ensino do português, tanto para a instrução primária como para o ensino secundário, os quais devem estar adaptados à mentalidade dos alunos a que se dirigem, tendo em conta também os locais e ambientes em que estes vivem.

No ultramar, como já acima disse, procedeu-se, para a instrução primária, à elaboração de livros nas províncias de Angola e de Moçambique, não só para que se desse oportunidade a os professores do ultramar de se revelarem como autores, mas também para que, conhecedores do meio ambiente, pudessem escolher textos que melhor se adaptassem às crianças das escolas primárias do ultramar. Contudo, quanto a Moçambique, nem sempre se escolheram os melhores livros, devido à escassez d a autores e de obras.

Julgo que se poderia dar uma solução a esta crise de bons livros de textos, se estes fossem elaborados por um grupo de professores escolhidos para esse fim pelo Estado, os quais, recebendo uma justa remuneração, trabalhariam em comum na sua elaboração, pelo menos dos livros únicos. Penso que desta maneira mais facilmente poderiam produzir-se obras que satisfizessem e permanecessem por mais tempo nas escolas, evitando-se as despesas que as famílias têm de fazer com as constantes mudanças de livros, o que torna oneroso o ensino e é causa de grandes preocupações, sobretudo às famílias de menos recursos e com muitos filhos a estudar. Este problema, de resto, já foi aqui muito bem observado pela ilustre Deputada Sinclética Torres quando disse que «antigamente os livros passavam de pais para filhos e hoje nem de irmãos para irmãos».

Quanto aos livros únicos para os liceus da metrópole e do ultramar, que, na minha opinião, devem manter-se, em benefício da uniformidade e coordenação do ensino, terão, todavia, de ser feitos de acordo com os diversos ambientes em que os jovens vivem.

Os livros de Português, particularmente, deverão conter, não só textos bem representativos da cultura portuguesa, mas também trechos bem escolhidos referentes à metrópole e ao ultramar, aos seus ambientes próprios e à sua vida actual, para que os alunos, tanto os de cá como os de lá, tenham uma visão actualizada do conjunto português.

Vozes: - Muito bem!

A Oradora: - Além disso, os trechos deverão ser bem graduados quanto às dificuldades das ideias, da linguagem e da forma, pois que nem sempre os melhores escritores ou os notáveis oradores serão os mais próprios para os livros de textos dos primeiros anos dos liceus.

Para este aspecto da elaboração de livros, permito-me chamar a atenção dos responsáveis na matéria para que se façam livros que vão ao encontro das necessidades espirituais e dos interesses dos alunos para que se lhes desperte assim o gosto pela leitura e pela disciplina de Português, que, muitas vezes, aborrecem, porque os assuntos dos textos não lhes despertam interesse.

Reparo que voltei a ocupar-me demoradamente do ensino do português quando há tantos outros aspectos do ensino liceal que mereceriam a nossa atenção.

Vozes: - Muito bem!

A Oradora: -Mas porque a maioria deles foi aqui tratada largamente, eu não poderei acrescentar nem mais, nem melhor.

Quis dar à Câmara, tomando o ensino do português como exemplo, uma ideia das dificuldades que se põem ao professor do liceu no ensino que tem de fazer de extensos e pesados programas em escasso tempo.