pode parecer. Não havendo ensinança de nenhuma língua viva no curso complementar e devendo este ser, democraticamente, tão extensivo quanto possível, ele será no ultramar motivo de discriminação, pois os seus normais utentes serão os nativos, aos quais fica vedado o acesso ao ensino secundário por carência de uma disciplina que, nas pequenas localidades, poderá não haver quem a leccione ou então o faça de maneira onerosa e, portanto, impossível.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Problema secundário? Talvez, mas nesta matéria creio não haver pormenores despiciendos e julgo que se encontrará solução justa e adequada, tanto na metrópole como no ultramar, mas parecendo-me que no ultramar o caso se reveste de aspectos políticos que não podem ser esquecidos nem desleixados.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: Os meus colegas do ultramar estarão nesta matéria bem mais esclarecidos do que eu (não apoiadas), mas apraz-me render aqui homenagem à emoção pedagógica, à clarividência dos altos responsáveis dirigentes e dos serviços e à cristalina consciência que, no Ministério do Ultramar, existe e se demonstra em relação aos problemas educativos.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - «O futuro das pátrias depende essencialmente dos educadores», disse-o há dias o Sr. Subsecretário de Estado da Administração Ultramarina, e acrescentou:

Temos feito um esforço enorme na valorização e divulgação do ensino no ultramar e continuaremos a procurar resolver os mil problemas criados por aquilo a que já se chamou, com propriedade, a explosão da educação.

E o Ministro, que é um mestre, um pedagogo, um homem de acção e de trabalho incansável e imperturbável, fazendo há tempos um sintético balanço da actividade do seu Ministério no sector da educação, disse:

Prosseguiremos tendo sempre presente que não podemos perder tempo e que a nossa obra será defeituosa se não obedecer à preocupação de dar à juventude uma formação integral, dotando-a dos conhecimentos necessários para a luta pela vida, mas formando-lhe também, o carácter à luz dos princípios da moral, insuflando nela as virtudes cívicas, robustecendo-lhe o corpo, para fazer de cada criança, de cada jovem, um elemento útil e consciente da comunidade portuguesa.

Eu sei, Sr. Presidente, que divaguei por longe dos limites do aviso prévio, mas quis de propósito desprender-me de uma possível deformação profissional e quis falar em termos de política da educação sob alguns dos seus aspectos que tenho por fundamentais.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - Já disse, e repito agora, que dou todo o meu apoio e franca anuência às linhas directivas e às soluções tão conscientemente traçadas e propostas no lúcido trabalho do Sr. Deputado Vaz Pires. Aqui tem o meu ilustre colega, na Câmara e no professorado, a camaradagem de uma voz envelhecida, o acordo de sentimentos de quem já viveu os mesmos problemas, a solidariedade um tanto céptica de quem já teve as mesmas ilusões.

Estou desde há muito convencido de que o povo português não tem nem cabeça nem alma pedagógicas. E individualista, errante, aventureiro, imediatamente interessado, dócil mas impaciente, lírica e sensualmente amoroso, mas socialmente humorista e crítico. Ora, a pedagogia é amor, é sentido de comunidade, é acção e paciência, é dádiva e sacrifício, ansiosa na idealização mas lenta nas formas de agir, é, enfim, uma coisa séria que para o ser não precisa de abdicar do bom humor nem da alegria constante de ter sempre confiança em si mesma e sempre esp erança no aperfeiçoamento espiritual, moral, intelectual e físico daqueles a quem se aplica e para quem trabalha.

O Sr. Veiga de Macedo: - Muitíssimo bem!

O Orador: - O povo português é ansioso e rápido, não tem empenho nem paciência para esperar muito tempo e isso, que tem sido por vezes fonte de grandes virtudes, é, em matéria de educação, um defeito regressivo e os resultados, penso eu, estão aí bastante bem à vista. Um povo que vive de esperança e não sabe esperar, que criou o mito sebastianista e não há modo de convencer-se de que o trabalho escolar é duro, longo, perseverante e totalitário, no sentido nobre e perfeito do termo, isto é, exige a confiança, a esperança e a paciência de todos, o trabalho exaustivo de todos.

Num recente discurso, o ilustre Ministro da Educação Nacional, Prof. Galvão Teles, disse ao País:

Decerto, senhores, se continuará a trabalhar, estudando e realizando, porque assim o exigem os altos desígnios em que se está empenhado de dar cada vez mais ensino a mais portugueses.

Muito bem, Sr. Ministro, nós só acrescentaríamos, com a devida vénia e respeito, a tão altos desígnios, uma pequenina anotação que é, aliás, um grande mandato imperativo de quem superiormente nos governa: Mais ... e melhor!

Por aqui nos podíamos quedar, sem excesso de pessimismo e sem optimismo real e imediato. Mas já seria injustiça descabida e omissão imperdoável não referir a notável comunicação ontem feita pelo Sr. Ministro da Educação Nacional aos órgãos de informação, a propósito dos problemas da educação no III Plano de Fomento. Pomos de lado os aspectos financeiros, administrativos, de obras públicas e de fomento material. Tudo isso só obriga nos aspectos externos, mas pode não resolver nada nos aspectos internos do problema em causa.

Retemos, porém, alvoroçadamente, duas afirmações substanciais do Prof. Galvão Teles. Uma: a de que «... em breve serão anunciadas as actividades extraordinárias de carácter pedagógico, científico e cultural». Outra:

Os investimentos devem concretizar-se sobretudo em pontos estratégicos, definidos em conformidade com critérios prioritários. Entre estes avultam estudos de planeamento e sobre a definição dos grandes princípios orientadores da política educativa, em geral, e da política científica, em particular, revisão e aperfeiçoamento das infra-estruturas técnicas e administrativas de natureza educacional, formação, actualização e aperfeiçoamento de professores e in-