Pequenos regadios já existentes entre nós confirmam o que acima se diz. Por exemplo:

Próximo do Crato, em Chança, foram construídas duas albufeiras que custaram ao seu proprietário cerca de 4000 contos. Elas tornam possível o armazenamento de 5 milhões de metros cúbicos de água para regadio de 1000 ha. Este armazenamento satisfaz também as necessidades em água de uma fábrica de concentrado de tomate com quatro linhas de fabrico.

Na margem esquerda do rio Douro, em Figueira de Castelo Rodrigo, foi construída uma albufeira por 350 contos, que torna possível o armazenamento de 310000 m3 de água para regar cerca de 100 ha de pomares e culturas horto-industriais.

Em qualquer delas se conseguiu armazenar a água por baixo custo e o capital investido começou a produzir no fim do primeiro ano.

No parecer de técnicos da especialidade, Portugal poderá regar em poucos anos e com imediata reprodutividade pelo tipo de obras referido mais de meio milhão de hectares.

Levar a efeito o aproveitamento e domínio de muitas das águas que anualmente se perdem e arrastam consigo a parte mais valiosa dos solos é para nós uma necessidade fundamental.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - No distrito de Vila Real foram já efectuados estudos preliminares ou reconhecimentos relativos a 39 obras de regadios colectivos cobrindo cerca de 7000 ha de áreas a beneficiar.

Algumas são de rentabilidade assegurada e de grande interesse local ou regional. A prioridade deve dar-se às que, tendo rentabilidade comprovada, satisfaçam fins múltiplos e sirvam a mais larga gama de interesses económicos e sociais.

A zona de Vila Pouca de Aguiar apresenta boas características em terrenos, água e condições sociais para regar uma área da ordem dos 1000 ha, de que resultarão um aumento apreciável de riqueza tanto agrícola como pecuária e ainda as condições para instalar a indústria adequada que valorize as suas produções.

O Sr. Sousa Magalhães: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Com todo o gosto.

O Sr. Sousa Magalhães: - Tenho estado a ouvir com todo o interesse as judiciosas considerações de V. Ex.ª sobre os pequenos regadios e não posso deixar de as apoiar vivamente no que diz respeito ao vale de Vila Pouca de Aguiar, que conheço muito bem, e que muito beneficiaria com uma pequena albufeira construída na serra do Al vão. Seriam, cerca de 1000 ha com alguns milhares de pequenos agricultores a receberem tão grande benefício.

O Orador: - Muito obrigado a V. Ex.ª pelo apoio que veio dar à minha intervenção.

A Junta de Colonização Interna, no meritório esforço que vem fazendo para melhorar os rendimentos e as condições de vida de muitos portugueses, considera o regadio colectivo do vale de Vila Pouca de Aguiar como um dos melhoramentos fundiários de primordial importância naquela zona.

A água pode ser obtida em boas condições construindo uma albufeira na serra do Alvão; com essa origem da água o esquema não requer bombagem, dada a configuração do vale e a cota de retenção da água.

O vale de Vila Pouca de Aguiar é bem servido de comunicações, sendo atravessado no sentido norte-sul pela estrada nacional n.º 2 (Chaves-Faro) e pela linha de caminho de ferro (Régua-Chaves), as suas freguesias têm progredido na electrificação, dispondo assim esta zona das principais infra-estruturas indispensáveis ao desenvolvimento.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Também na zona da Campeã há uma extensa veiga sita na serra do Marão, e que se distribui por cinco freguesias do concelho e distrito de Vila Real.

Pelos estudos preliminares, parece ser de interesse regar uma área da ordem dos 380 ha, obtendo a água necessária e em condições económicas por meio de três pequenas albufeiras de encosta estabelecidas nas três principais linhas de água que atravessam o perímetro, as quais levam abundante caudal no Inverno, devido às elevadas precipitações que incidem nesta região e até ao degelo, mas que no Verão quase secam.

A realização deste regadio colectivo trará aos seus proprietários um aumento apreciável de rendimentos, pela maior quantidade de produção agrícola e efectivos pecuários, contribuindo para eliminar as precárias condições de vida da sua população.

No distrito de Bragança, a Federação dos Grémios da Lavoura do Nordeste Trasmontano tem projectadas uma vintena de pequenas e médias albufeiras, com o fi m de levar ao regadio, num período que pode não exceder três anos, cerca de 15 000 ha, e tem reconhecimentos feitos que, só nesse distrito, julgam viável a rega de mais 30 000 ha.

Na Vilariça localiza-se uma das manchas de solos mais férteis do País, mas que está sujeita a forte deterioração erosiva, por falta de obras de conservação do solo e domínio das enxurradas.

Do plano geral para valorizar esta zona foram entregues pela Federação referida às entidades oficiais, entre Março e Dezembro de 1965, vários projectos: o referente à zona sul para beneficiar cerca de 2000 ha e os referentes à zona norte para a formação das sete principais albufeiras de encosta destinadas à defesa, conservação e rega de mais 3000 ha.

Se forem bem aproveitadas as condições naturais, a rega da zona sul pode ser executada em condições excepcionalmente económicas. O projecto apresentado tem já em conta a sua articulação com as realizações futuras (aproveitamentos da Valeira e da Quinta das Laranjeiras) e a obra, incluindo já a pequena distribuição, ficará pronta a regar com um investimento da ordem dos 10 contos por hectare.

Trata-se de um esquema simples, estabelecido em bases técnicas evoluídas para rega por aspersão, em que se poderá conjugar a rega com a adubação e os tratamentos fitopatológicos, poupando, em relação à rega tradicional, mão-de-obra e muita água; o esquema resume-se a uma estação elevatória do Sabor, um canal de nível de secção constante (facilitando a preparação mecânica de solutos homogéneos e bem doseados de fertilizantes, fungicidas, etc.), a rede de pequena distribuição de água e os aspersores.

Há já uma linha a 30 kV que corre paralelamente ao canal e a pequena distância deste.

O projecto foi entregue em 1965. Se até Maio próximo a Federação dos Grémios receber ordem de arrancar com as obras, já na Primavera de 1969 a Vilariça estará a ser regada e a transformar-se numa zona de prosperidade e riqueza.