meia vida nas árvores e no solo está calculada em dezenas de anos) e a facilidade da sua detecção.

É um organofosforado que se usa, sem o melhor cuidado e sem a mais ligeira prevenção, no combate a pragas da agricultura, na conservação dos produtos agrícolas, na luta contra os insectos vectores de doenças e em múltiplas aplicações domésticas.

Vem desde a segunda grande guerra a sua difusão, pela descoberta destas acções, embora o produto se conhecesse desde 1874.

Foi o suíço Paul Muller que em 1939 descobriu a sua acção insecticida. e, como tal. foi-lhe atribuído o Prémio Nobel.

A ele se deve grande parte da vitória contra os agentes vectores do paludismo, do tifo exantemático e de tantas outras doenças e, portanto, a vida de muitos milhares de pessoas.

Hoje, porem, está considerado uma das mais perigosas ameaças à vida do homem, e já lhe foi atribuída a causa de muitas mortes.

A sua difusão e a sua meia vida muito longa fizeram com que hoje se encontre espalhado pelo inundo inteiro este resíduo pesticida. Os ventos, as chuvas, as correntes da água, os peixes e as aves de arribação espalharam-no por toda a parte. Chegou mesmo ao Pólo Sul, segundo recentes investigações.

Desde há seis anos, sabe-se. sem sombra de dúvida, qual o risco ecológico do D. D. T.

Foi num pântano do Long Island que as investigações de Woodwell provaram que o D. D. T. que havia sido aplicado contra as larvas dos mosquitos se conservou no Iodo, que os peixes ali existentes o continham em grande quantidade o que as aves carnívoras daquela zona o albergavam numa concentração 75 vezes superior à dos peixes e mais de 1000 vezes superior à dos organismos que estavam na base da cadeia.

Tem-se hoje como extraordinariamente, grave este risco, já que os resíduos do pesticida que os verificam em certos elementos intermediários das cadeias ecológicas, como certos animais, são extraordinariamente elevados e em certas aves carnívoras atingem "proporções catastróficas" (Woodwell).

As poeiras do D. D. T. são facilmente absorvidas pelas mucosas do aparelho respiratório e digestivo. Inaladas ou deglutidas, fixam-se em todos os órgãos que contem gordura, tais como as cápsulas supra-renais, os testículos e a tiróide, quantidades elevadas são depositadas no fígado, nos rins e na gordura dos epíploos. A fixação vai-se fazendo a partir de pequenas quantidades diária ou semanalmente, adicionadas, conforme as exposições ou a alimentação. Mesmo com doses parciais pequeníssimas, como o D. D. T. não se elimina nem se metaboliza, não serão necessários muitos anos para que se atinjam doses 100 ou mais vezes superiores e, assim, níveis tóxicos perigosos.

Experiências em animais têm demonstrado que apenas 3 partes por milhão de D. D. T. já, são capazes de inibir certa enzima de muita importância na fisiologia cardíaca: que 5 partes por milhão originam necroses hepáticas e que, para tanto, bastam 2,5 partes por milhão do dieldrina ou de clordano.

Pois bem: sabe-se, que indivíduos sem qualquer contacto com a aplicação de D. D. T., e só por via da sua alimentação portadora de resíduos, armazenam, em média, 5,3 a 7,4 partes por milhão: que os trabalhadores agrícolas armazenam 17,1 partes por milhão e que os que trabalham em fábricas de insecticidas podem atingir níveis de 648 partes por milhão!

Mesmo as mais pequenas taxas observadas já são superiores àquelas que a experimentação demonstrou serem lesivas do coração e do fígado.

Dois exemplos, entre muitos que se poderiam citar, marcarão o perigo do D. D. T.:

1.° caso. - A sua aplicação em campos de luzerna para extinguir certas pragas: só as galinhas debicam a luzerna conspurcada pelo D. D. T., este passa ao oviducto, aos ovos e ao homem que os come; se são as vacas que nela retoiçam, lá teremos o D. D. T. a passar à glândula mamaria e a aparecer no leite em elevadas concentrações: mais altas, porem, serão as da manteiga preparada com tal leite - aí a concentração pode ir até 65 partes por milhão.

Análises feitas pelo nosso Laboratório de Fitofarmacologia têm demonstrado a existência de resíduos de pesticidas organoelorados em leites, manteigas e natas nacionais.

Eles chegam ao leite através de tratamento do gado contra certos parasitas, do tratamento da forragem para a sua alimentação e do próprio tratamento dos estábulos com produtos organoelorados.

Todas as amostras tinham dois isómeros do D. D. T. e um seria metabolito (pp´DDE). mas, como é natural, em taxas mais altas nas natas e nas manteigas do que no leite.

São iguais às de alguns países, mas superiores às encontradas nos mesmos produtos na Inglaterra e na Dinamarca.

Sabe-se hoje que o pesticida pode passar da mãe para o filho. O D. D. T. foi já detectado no leite humano, e portanto. a criança ao sair podo já receber as primeiras doses de D. D. T., em pequenas, mas regulares adições. Parece, no entanto, que não é este o primeiro contacto.

Sabe-se, por experiências animais, que insecticidas com base no hidrocarboneto tolerado podem atravessar a placenta e atingir o feto.

2.º caso. - A aplicação do D. D. T. nas batatas armazenadas: o lavrador, com a preocupação de as proteger da traça, espalha largamente e sem cuidado o produto aplicado; logo ali. nessa operação, inala ou deglute uma quantidade apreciável de D. D. T., que se fixa nos seus tecidos; a essa vem juntar-se a que lhe será. fornecida todos os dias através da batata assada ou cozida da sua habitual alimentação.

A este respeito já furam feitas experiências no nosso Laboratório de Fitofarmacologia com pó do D. D. T. a 5 e a 10 por cento, com doses de l a 2kg por tonelada de batatas, em cada uma das concentrações.

As análises foram feitas com batata lavada e incidiram sobre cascas e sobre polpas, cruas e cozidas.

A lavagem com água corrente não foi suficiente para remover o D. D. T. Além disso, 131 dias após a aplicação, quer dizer, cerca de (quatro meses e meio depois, os resíduos da casca eram elevadíssimos. A cozedura também não destruiu o D. D. T., e a água da cozedura estava contaminada com o pesticida. Os valores das polpas, em certas modalidades. apresentaram taxas superiores à tolerância de uma polpa por milhão adoptada nos Estados Unidos da América para a batata inteira.