Sabendo-se como o povo português conserva a batata, como a coze e com que frequência a consome, fácil será calcular a taxa de D. D. T. que terá acumulada nos seus tecidos e em órgãos essenciais.

Já alguém esclareceu a população sobre estes perigos? O que tem feito a assistência técnica à lavoura neste particular?

Já foi proibida a aplicação do D. D. T. na luta contra a traça da batata, como elemento de protecção na armazenagem deste tubérculo? Ou já alguém informou o lavrador do perigo que correm tanto ele como muitas outras pessoas pela maneira como utiliza o D. D. T.?

O Sr. Ubach Chaves:- V. Ex.ma dá-me licença?

O Orador: - Faça obséquio.

O Sr. Ubach Chaves: - Nada tenho a objectar à matéria de fundo versada nas considerações que V. Ex.ma vem produzindo, mas confesso a minha incompreensão por ver eleito especialmente o D. D. T. como exemplo de toxicidade quando são tantos os pesticidas usados em que fenómenos de toxicidade são porventura mais relevantes. Considero, por isso, desajustada a referência a um pesticida, uma vez que as suas considerações parece dirigirem-se a todos os pesticidas e fungicidas em geral.

O Orador: - A referência por mim foi feita ao D. D. T. não significa que seja apenas este o pesticida nocivo à saúde pública. Simplesmente, utilizei-o como exemplo por ser este de entre todos o menos tóxico e o mais conhecido. Alias, mais adiante, como V. Ex.ma poderá verificar, faço alusão à nocividade de outros pesticidas, alguns, sem dúvida, do maior perigo para a saúde pública.

Mas o perigo não está somente nestes produtos da nossa alimentação.

No Verão de 1965 foram analisadas muitas amostras de frutos dos mercados de Lisboa. Vinte delas continham resíduos de pesticidas. Embora os valores encontrados sejam inferiores às tolerâncias estabelecidas nos Estados Unidos da América, muito judiciosamente se afirma no relatório do Laboratório de Fitofarmacologia que são indesejáveis quaisquer resíduos de pesticidas clorados, mesmo que inferiores ás tolerâncias estabelecidas.

Nos anos seguintes prosseguiram as análises, e os resultados foram idênticos. Numa das amostras de tomate havia uma elevada taxa do fentião (uma parte por milhão), o que leva a admitir que o agricultor não respeitou o intervalo de segurança ou aplicou doses muito acima das recomendadas. Nas maçãs da certa região pomicola do nosso país também foram encontradas certas percentagens de dioxatião (duas partes por milhão) nas cascas de frutos que tinham sido tratados dois meses antes.

Que medidas tomaram os serviços de saúde dessa região para aconselhar a população a não comer a casca dos frutos? A propaganda excessiva das vitaminas levou muita gente a comer a casca dos frutos. Os pesticidas de agora põem em risco a vida de quem a ingira.

Também nos citrinos foram feitos estudos dos resíduos existentes.

Em certas zonas do Sul do País, agora na parte cimeira das' nossas quase exclusivas preocupações turísticas, usa-se muito a dieldrina para combater certa mosca da fruta. É, como se sabe, um produto altamente tóxico, com tendência para se acumular e persistir nas substâncias gordas dos nossos tecidos. Houve justificado interesse para ali realizar um estudo sobre os citrinos que em Agosto e em Outubro haviam sido sujeitos a tratamentos com caldas, respectivamente, a 0,05 e a 0,1 por cento. Entre 15 e 63 dias após os tratamentos foram feitas, em datas diferentes, sete colheitas de amostras.

O insecticida havia penetrado até ao interior do fruto, atingindo o opicarpo, o mesocarpo e até o endocarpo. Em todas as amostras, mesmo nas de 63 dias depois do tratamento, havia dieldrina.

Nove semanas depois do tratamento ainda as taxas eram superiores às da tolerância dos Estados Unidos da América, da Suécia e da Holanda. O nosso intervalo de segurança é de seis semanas. Os citrinos são habitualmente consumidos em natureza e são muito aproveitados para sumos.

Além de tudo isto. vale a pena recordar o que se passa com certos adubos. Como se sabe, os adubos aldrinizados são frequentemente aplicados em Portugal na fertilização dos solos.

Têm, em geral, l por cento de aldrina. Está calculado que na fertilização de cada hectare ficarão 3,5 kl de aldrina.

Ora o problema da persistência nos solos de resíduos tóxicos clorados tem sido objecto de investigação nos últimos anos.

Mercê disso, tem-se verificado a persistência de aldrina, dieldrina, heptacloro e heptacloro epóxido em solos de aluvião que tinham sido tratados nove anos antes com aldrina e heptacloro, à razão de 5 Kl a 6 Kl por hectare. As plantas podem absorvê-los e levá-los na sua seiva a todos os seus tecidos.

A cenoura é das que mais facilmente o faz. Mas igualmente os incorporam a batata, a alface, o rabanete e outros vegetais.

Também o nosso Laboratório já vem realizando investigações neste sentido desde há dois anos a esta parte. Nos solos de uma florescente vila do Ribatejo foram encontrados fortes resíduos de aldrina e de dieldrina, embora só tivessem sido aplicados adubos com aldrina - é que a aldrina sofre oxidação nos solos e dá origem à dieldrina, que depois persiste neles durante muitos anos. E nos solos de uma formosa cidade do nosso Alentejo foram também encontrados resíduos de dieldrina.

Nem num nem noutro caso se pôde apurar a data da aplicação dos adubos aldrinizados.

Deixo de lado todo o problema da poluição das águas de consumo pelos pesticidas e das substâncias cancerígenas que entram como aditivos em algumas rações do gado - problemas da maior actualidade no campo da saúde pública de muitos Estados progressivos.

Quais são os produtos que compõem a gama dos pesticidas?

Desde 1940 o seu número tem aumentado, e agora conhecem-se mais de duzentos produtos básicos que foram criados para matar insectos, roedores, ervas daninhas e outras pestes. São vendidos, porém, sob diversos milhares de nomes e marcas diferentes.

Quais são os que existem em Portugal?

Em Novembro de 1963 foi iniciada a série de pedidos de homologação facultativa no nosso Laboratório de Fitofarmacologia.