pois de longo repouso, com outra daquelas abadas de azeitona, como em 1061, como ainda em 1968, capazes de criarem dores de cabeça aos lavradores afogados na fartura e aos governantes para quem logo eles se tornarão.

Mas, se e quando assim suceder, ou mesmo com safras mais comedidas - segundo ponto! -, a posição ganha no mercado pelos óleos concorrentes introduzirá novo factor no equacionamento dos problemas, em que importa pensar, e desde já!

Eis as considerações que me movem a tomar a atenção de V. Ex.ª, pura que se repercutam na do Governo, e na opinião pública suscitem pareceres mais seguros e procurem a compreensão dos interessados.

Na portaria reguladora do corrente regime de comercialização do azeite salienta-se adequadamente a importância da cultura da oliveira entre nós, com relevo acertado do facto de dificilmente se poder encontrar outra mais adaptável às condições naturais de vastas regiões, que lhe são altamente propícias.

Mas não se mencionam ali nem seria o caso, as verdadeiras dimensões desta actividade, que convirá recordar para se lhe avaliar o peso.

Segundo a carta de distribuição da oliveira, concluída, em 1960, sobre levantamentos de cerca de uma dezena de anos, isto é, já bastante antigos para que as consecutivas novas plantações e posteriores arranques não lhe hajam provavelmente diminuído muito o significado actual, teremos mais de l 100 000 há com oliveiras plantadas, dos quais cerca de 500 000 em verdadeiro olival de densidade igual a 80 ou mais pés por hectare.

Só estes olivais densos são objecto, único ou variada-mente importante, de 87 000 explorações agrícolas, enquanto em outras 47 000 se aproveita o rendimento de oliveiras dispersas.

Ao todo, a produção de azeite cobriu a média anual de 79 800 000 l nos últimos dez anos, incluindo, pois, aquela fase degressiva de que já fiz menção: pêlos preços ora correntes representa nesta média à roda de l 200 000 contos de valor na origem, não sendo de mais estimar em perto de metade disto os salários pagos em trato, colheita e fabrico do azeite.

Aos preços de 1963, o azeite e as azeitonas contribuíram no decénio de 1956 a 1065 com 7,3 por cento para a formação de todo o produto bruto agro-pecuário, com 12 por cento da parte atribuída aos produtos vegetais apenas.

Quer como capital fundiário, quer como fonte de rendimentos e do ganhos para a população, quer como aproveitamento - difícil de substituir! - de uma sexta parte do solo agricultarei (falo sempre, e somente, do nosso território continental europeu), o olival continua a ser uma riqueza substancial, que cumpro não abandonar só por ser antigo e ter o investimento amortizado, por não se ter adaptado ainda às novas condições do trabalho ou sofrer com ris do gosto deformado pela publicidade!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - O velho olival, nimbado da aura clássica de paradeiro de deuses e jardim de filósofos, pêlos séculos fora aplicado a revestir-nos os montes e enriquecer as veigas, em termos de pura materialidade, actualmente constitui para nós capital contabilizável em muitos milhões de contos, modo de vida de dezenas de milhares de portugueses, base alimentar insubstituível sem alienação às contingências externas e forte sangria das correntes de divisas, justificando, pois, atenta dedicação dos Poderes Públicos e conformidade geral à conveniente resolução dos problemas que o afectem.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Quando tão grandes esforços se estão aceitando para instalar novas indústrias, com sujeição do público às consequências de proteccionismo em graus nunca atingidos em favor da agricultura - não citarei exemplos, que ocorrerão facilmente -, seria indefensável desfalcar, por outro lado, a riqueza nacional, deixando perder por falta de mais modestos apoios valores já criados, riquezas certas e fontes de trabalho ainda vitais para vastas regiões.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Acresce que ao mesmo lançamento e- desenvolvimento da industrialização é indispensável, como cada dia se reconhece melhor e cem novas provas, o suporte dos consumos rurais, sem cujo fortalecimento lho faltará mercado importantíssimo nas nossas condições presentes e próximas futuras; a prosperidade continuada s crescente dos homens do campo é certamente dos mais sólidos penhores do progresso que buscamos, e impõe a defesa e valorização de todas as suas produções, e, portanto, a do azeite, que pesa entre as mais ricas e estimadas.

Rica, estimada e, verdadeiramente, basilar para a alimentação.

Com efeito, a gordura culinária própria dos povos mediterrânicos e ibéricos é o azeite, que, naturalmente, melhor se cria no seu clima, tal como os europeus das zonas atlânticas, do rica pecuária, fundaram a sua cozinha no uso da manteiga.

E estas são as verdadeiras gorduras alimentares das populações de civilização ocidental.

Os defensores e propagandistas dos óleos concorrentes do azeitei gostam muito de citar a aceitação destes, e a relativa ignorância daquele, nos países que nos afizemos a tomar por mais apurados em gostos e fartos em recursos; mas aí tais óleos são elementos de molhos aos quais só se pede emprestem a viscosidade se dá o sabor que não têm com variados condimentos, ou então são banhos de fritura: o que vai para as bons fornalhas, porém, verdadeiramente, é mas é a manteiga.

Colza, soja, algodão e quejandos lá são para saladas ou fritos; para sabor, a manteiga.

Do mesmo modo, os meridionais, com climas mais favoráveis às árvores do que às ervas, pobres de prados e, portanto, de leites, fui no azeite que fundamentaram a sua cozinha; ele é a gordura sápida de que dependem.

Esta ó a realidade económica-social a ter em conta: para concorrencial o azeite não basta reclamar pureza, que aliás, se aceita sem desconfiança, porque . . . uma mediocridade pura é apenas puramente medíocre!

Postas de parte as considerações de preço, e mais adiante deste me ocuparei, o azeite vem ao de cima, tal a verdade, como alimento essencial e como valor económico de primeiro plano.

Não é, pois, fácil de aceitar, nada fácil! . . ., que se poupem esforços para lhe sustentar a produção, nem que se pretenda destinar a azeitona, como lamentavelmente vem escrito no relatório da Portaria n.º 23 092, a que já aludi, «muito mais em direcção à conserva e menos ao lagar».