dos emigrantes, que, só no estrangeiro, quase atingiram, em 1965, 3 320 000 contos, pesam também consideravelmente sobre a procura interna de bens e serviços, pois que, deste acréscimo de meios de pagamento, só uma parte será efectivamente poupada e, depois, investida com efeitos reprodutivos apreciáveis . . .

Mais adiante, a propósito das tendências inflacionistas e o aumento dos preços em que elas se traduzem para o consumidor, o Sr. Ministro da Economia enunciou o antídoto a ser-lhes aplicado, e, discreteando, em seguida, sobre os pontos de estrangulamento do nosso desenvolvimento económico, teve ensejo de declarar que:

... a crise da actividade agrícola foi agravada e antecipada por um factor que não é inteiramente dominável - o comportamento do clima a determinar maus anos consecutivos e, ainda, pela perturbação imediata resultante da emigração . . .

Com vista aos pontos restritos essenciais que nos permitimos focar nesta modesta intervenção, decerto abaixo do nível da relevância própria do contexto em que se inserem, mas a que, aliás, já soube e pôde corresponder o somatório de apurados conhecimentos de tantos Srs. Deputados, servimo-nos ainda das altamente esclarecidas c avisadas palavras de V. Ex.ª, Sr. Presidente, aqui pronunciadas aquando da apreciação do I Plano de Fomento:

. . . sabe-se que, em vista das ideias e das necessidades que hoje dominam o Mundo, não podem deixar-se áreas capazes de contribuir substancialmente para a economia e alimentação da humanidade sem renderem o que se lhes pode pedir. Sabe-se que os espaços africanos são necessários à economia dó Mundo, eles hão-de ser convenientemente explorados. Sabe-se que esses espaços começam a ser cobiçados para absorver os excessos de população dos países de raça branca.

E depois:

. . . precisamos de marcar a nossa presença no ultramar através de obras que denunciem que estamos n continuar a seguir os caminhos da civilização. A afirmação dessa presença faz-se, sem duvida, pela realização de obras materiais, mas estas morrerão, invadidas pelo capim, se lá não estiver a fazê-las reviver o homem capaz, com exigências que vão além daquilo que a terra pode dar espontaneamente e aguçam o espírito empreendedor, levando-o a produzir, não apenas para o consumo do meio, mas para o consumo dos mercados . . .

Neste forragiar, Sr. Presidente e Srs. Deputados, de válidos depoimentos revestidos de autoridade indiscutível, conducentes a uma perfeita consciencialização de algumas questões de primeira plana, interessando sobremaneira a primaciais capítulos da vida actual e vindoura da Nação, de aquém e de além-mar, é axiomático que não pode estar ausente a palavra reveladora do Sr. Presidente do Conselho, mais que nenhuma outra rica de um claro sentido de orientação, apontando, com a habitual luminosidade e segurança de sempre, as veredas que devem ser trilhadas. Dita na progressiva cidade de Braga, em 28 de Maio de 1966 - Braga, a bela capital desse Minho encantador, histórica por tantos títulos e ainda pelo que lhe advém de haver sido a cidade santa da Revolução Nacional - explicitou-se deste modo:

. . . nós fomos, de facto, um país essencialmente agrícola, mas enquanto não pudemos ser outra coisa. Durante séculos e ao lado de um artesanato modesto, a agricultura foi a grande criadora de riqueza e esse facto dominou todos os espíritos neste País. Hoje podemos dizer que só potencialmente somos ricos dos produtos da terra, mas que viremos a sê-lo de facto pêlos dois caminhos que nos estão abertos: a libertação de grande parte do trabalhador rural em favor das indústrias e do ultramar; maior produção de produtos agrícolas industrializáveis ou comerciáveis com nações estrangeiras. Continuo a pensar que a agricultura nacional deve ser acima de tudo orientada no sentido de assegurar o sustento da Nação, mas para isso não precisa absorver toda a sua força de trabalho. E quando pela mecanização e pelo regadio conseguirmos aqueles fins, deixa de ter razão de ser a lamentação de Severim de Faria quando atribuiu às "conquistas", digamos, na linguagem de hoje, ao ultramar, a primeira causa da falta de gente que se padecia e, assim, por não existir, empobrecia o reino. Posta deste modo a questão, é evidente que o primeiro destino de mais intensa capitalização deveria ser a agricultura, não só para a conversão dos meios de trabalho, como para a irrigação dos campos, sedentos e precisados de água . . .

Tentámos fixar a nitidez da linha do pensamento enunciado no que acabamos de reproduzir, para, no desenvolvimento das nossas singelas considerações, mais adiante, nos abonarmos com a essência das ideias nela contidas.

Sr. Presidente: As contas gerais do Estado de 1966 não nos criam um estado de optimismo quando abordam o capítulo referente ao comércio externo. Averiguou-se ter o problema das importações apresentado um cariz preocupante, pois agravou-se para 29 406 000 contos, de 26 553 000 contos em 1965. Analisando as secções pautais conclui-se que, quanto à natureza das importações, os produtos alimentares tom o efeito de uma sobrecarga apreciável.

A título meramente exemplificativo. diremos que em relação aos produtos de origem vegetal o deficit existente piorou, de 1965 para 1966, cerca de 837 000 contos; de trigo,, milho, arroz e batata importaram-se 829 000, 566 000, 148 000 e 214 000 contos, respectivamente. Se é motivo de lamentação verificar-se a necessidade de importação de 801 000 t de cereais, implicando um dispêndio de cerca de l 653 000 contos, não menos se deplora que os mercados fornecedores se situem, regra geral, fora das nossas províncias ultramarinas e, aos demais, pertencentes a países que procuram sorver o sangue da nossa mocidade gloriosa e chacinar os nossos irmãos de além-mar, ou, mesmo que assim não seja, cabendo-lhes, por forma que nos dói, uma posição de subalternidade.

Militam, Sr. Presidente, muitas e ponderosas razões a fim de que naquele jeito, já historicamente consagrado, de rapidez e em força, se procure, se continue a procurar revitalizar a nossa agricultura.

Por circunstâncias naturais e outras que o não são, tem a lavoura penado uma vida difícil, numa concorrência de motivos perturbadores que se seguem em cadeia e, em muitos casos e diversidade de situações, se sobrepõem e até agravam, transcendendo, pois, a vontade dos homens e quantas vezes repulsivos à acção atenta e vigilante do Poder Central.