do Regime", que outra coisa não é senão o plágio, à distância de séculos, das estrofes do "tetravô do Restelo"?

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente, seja em boa e breve hora o Governo servido de decretar a celebração do duplo centenário de Vasco da Gama e de D. Manuel I - o rei da "idade de ouro" do Descobrimento, como governante tão mal tratado pela crítica jacobita dos vindouros.

Para o distrito de Setúbal - cuja representação me transcende - o ano que vem' constituirá, por certo, hora alta de exaltação.

Pois não nasceram no seu território, em Alcochete e em Sines, os dois maiores vultos da sua glória?

A Nação, porém, tem a sua palavra a dizer.

Há pecados de omissão a redimir no ostracismo a que se votou o Bei Venturoso.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Não que o seu lugar não esteja assegurado, a par do Gama e do Cabral, na própria história do Ocidente. Ainda que um absurdo cataclismo apagasse do mapa da Nação Portuguesa e delisse a memória dos arquivos, mesmo assim seria possível reconstruir o seu passado, peça por peça, pois ele está registado a letras de ouro em todos os livros da humanidade culta.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mas é altura de reparar pela criteriosa revisão histórica a omissão indecorosa e perpetuar no bronze e na toponímia a sua memória, legando às gerações vindouras monumento condigno.

Vozes: - Muito bem!

Lagos, Viseu e Porto saldaram dívida com o Infante. Afonso Henrique defende o castro de Guimarães, D. Duarte segura nas mãos. O Leal Conselheiro no jardim de Viseu, Coimbra tem o seu D. João III e D. Dinis, que vela pela Universidade.

Ligados ao ambiento ou à gesta que os imortalizou, cavalgam em soberana majestade D. João IV, em Vila Viçosa, D. José, no Terreiro do Paço, e D. Carlos I, na Ajuda, enquanto o Condestável montará em breve o seu fogoso corcel corre-fadário no átrio de Santa Maria, na Batalha.

Porque não erguer a D. Manuel I o monumento que lhe é devido, frente aos Jerónimos, que erigiu, e junto à praia aonde acompanhava os seus capitães da Descoberta?

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mas Lisboa, que os teve em vida - e até um viu cair banhado em amigue . . . -, parece avessa a glorificar seus reis. Nisso não segue o exemplo do Porto, que soube ser generoso e grato a quantos monarcas lhe tocaram o coração.

Pois se Lisboa enjeitar o encargo, porque não construir o monumento do Venturoso na torra onde nasceu, junto da capela que ainda resta do seu palácio de Alcochete, que o terramoto de 1755 destruiu, ou entre as palmeiras do belo Largo do Rossio, gémeas das trazidas da índia nas naus das especiarias quando o estuário do Tejo eru o "porto da Europa"?

Sr. Presidente, Srs. Deputados: Pêlos novos espaços que deu à Nação Portuguesa, D. Manuel I teve jus a acrescentar aos títulos de "Bei de Portugal e dos Algarves, de Aquém e de além-mar em África, Senhor da Guiné", herdado dos seus antepassados, o de "Senhor da Conquista, Navegação, do Comércio, da Etiópia, Arábia. Pérsia t: índia".

Um título lhe falta - e esse não já para o enobrecer - o titulo de "Senhor da gratidão dos vindouros" . . .

Mas semelhante título, se o Governo lhe o acrescentar em obras, só nobilitará esta geração!

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem! O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Vai passar-se à

O Sr. Presidente: - Continua o debate sobre as contas gerais do Estado (metrópole e ultramar) e as conta dita Junta do Crédito Público relativas a 1966.

Tem a palavra o Sr. Deputado Bocha Calhorda.

O Sr. Rocha Calhorda: - Sr. Presidente: O ano de 1966, cujas contas gerais do Estado estão a ser apreciadas por esta Assembleia, teve um comportamento favorável no que respeita à economia da nossa província de Angola.

Se é certo que o valor das importações excedeu em G. l por cento o montante atingido no ano anterior, a verdade é que as exportações ultrapassaram de 10,6 per cento o correspondente número do ano de 1963. E aumentar mais fortemente o nível das vendas do que o das compras não pode deixar de constituir, na base de uma economia-de Estado, um sintoma positivo e muito salutar.

Neste caso de Angola, o menor crescimento nas compras do que nas vendas permitiu a obtenção de um saldo positivo de 412 000 contos na sua balança comercial, bastante superior ao de 1905, que foi apenas de 140 000 contos, ou seja cerca de uma terça parte do valor agora atingido. Esta melhoria, objectiva na fria expressão dos números, deve ser, porém, apreciada à luz da análise da composição das rubricas que integram a importação e a exportação. Gostaríamos de encontrar, na importação verificada em 1966, valores apreciáveis de matérias-primas para laborar no nosso território, de bens de equipamento ou de produção, e, por outro lado, encontrar valores modestos nas rubricas de artigos não reprodutivos a de bens de consumo. Semelhantemente, no que se refere à exportação, o panorama que mais nos agradaria ver era o de uma larga disseminação por diferentes produtos e artigos.

Não é isso, infelizmente, o aspecto que ressalta da discriminação das verbas de importação e de exportação, mas, conforme assinala o ilustre relator das contas, Angola mostra indícios de caminhar, embora lentamente, para aspectos que se assemelham a países mais evoluídos.

Nota-se uma diminuição do- incidência percentual dos produtos do reino vegetal na exportação, verificando-se uma maior e mais saudável distribuição pêlos restantes sectores.

Ë este o caminho progressivo das economias em vias de desenvolvimento. Mas é preciso que a Administração facilite, encoraje e fomente; e não o contrário.

A caminhada ainda será muito grande, mas está inteiramente ao nosso alcance, pois não nos faltam alimentos e condições naturais. O capital também conta, é certo, e em grande medida, mas sobretudo o que será preciso que não nos falte, como alicerce fundamental, será a capacidade de prever, de planear, de executar e de administrar.