carência de emprego, mas a raridade e carestia da mão-de-obra.

De tal modo que sobre o conjunto macroeconómico pesa, oprime e alastra, como um manto de tinta que se distende, a massa monetária quase a par do produto bruto e um recurso ao crédito comercial, que não se sabe bem se representa longitude de negócios se apertos demasiados.

Então o deficit comercial, pertinaz e insidioso, proclamando artifício e falta de regularização, já excede 11 milhões, um número absurdo, arrastado pela importância de matérias-primas para o sector fabril ou para o comércio urbano.

Entretanto as finanças seguem marcha vitoriosa, quase ininterrupta.

As receitas, embora, subavaliadas como coeficiente de segurança, atestam disponibilidades desmesuradas, embora algo menos do que seria preciso para as exigências de investimento.

As despesas militares crescem e ultrapassam o plafond legalmente fixado, e os créditos adicionais seguem-se, mas abertos com prontidão e sem hesitações de nenhuma ordem.

As despesas extraordinárias parecem-me exageradas em relação às receitas. Aconselharia a sua revisão e mudança de sector, se isso não resultasse um compromisso irremissível quanto à sua altura e persistência.

As alterações orçamentais surgem constantemente - com constância e em número exagerado.

Mas é uma técnica de segurança. Decerto que se trabalhou na concentração do investimento, através do orçamento e dos créditos.

Quanto ao investimento intelectual, é de lastimar que sobrassem verbas avultadas no Ministério da Educação Nacional, decerto não preparado para rapidamente acudir ao critério da Lei de Meios.

Quanto à proclamação da regionalização do investimento, representou apenas uma afirmação relevante do Ministério das Finanças e não uma deslocação orçamental, como se esperava, permanecendo a sua verba sem a utilização prevista.

As despesas de investimento coroaram na fase final da Ponte Salazar e na 1.ª fase da irrigação alentejana.

O orçamento e a gestão são instrumentos políticos de primeira ordem ë mostraram potencialidade para conter uma parte da vaga inflacionista e força para ajudar as capacidades expansivas da nossa economia geral.

Torna-se bastante difícil seguir o desenvolvimento dos princípios inovadores, no mare magnum das rubricas, secções, capítulos e grandes divisões orçamentais.

Há, se valer a pena, um ajustamento a fazer entre os dois documentos ministeriais, embora a Conta Geral, minuciosa, detalhada, completa, folheada em horas, acabará por dar resposta a muita coisa - às dúvidas, interrogações e reparos mais fáceis.

A Lei de Meios foi utilizada regularmente, fielmente. A execução dada correspondeu aos intuitos postos. E certas afirmações de princípio, novas e características, se tiveram menos expressão isso não se deveu às autoridades financeiras.

«Esse ano de 1966 ...»

Esse ano de 1966 ergueu-se sobre os augúrios funestos e tendo como berço uma conjuntura sombria das grandes nações ocidentais.

A crise da Bolsa de Nova Iorque .alastrou aos centros europeus. O Dow-Jones, mais que nervoso, traduzia a ansiedade e o pessimismo constritivo dos negócios mal parados. A Inglaterra adoecia já de diversos males. A Alemanha, a França e a Itália enfrentavam novas e crescentes dificuldades.

As balanças de pagamento deterioravam-se e as transferências ofereciam novos problemas, barrando os caminhos.

Surdira a questão do ouro e das liquidações convencionadas como ponto de partida de esquemas de revalorização e de tentativas de direitos especiais.

A Europa então preconiza unidade e intimidade colaboradora, mas, praticamente, divide-se mais e dá largas a desentendimentos de toda a ordem.

A Inglaterra bate à porta do Euromercado, mas os de dentro não ouvem nem correm para a entrada.

Todos reclamam maiores juros e - num mundo keynesiano - as altas taxas acastelam e enriquecem os que podem, empobrecendo Finanças, pelo Fundo de Desemprego, pelo crédito da Caixa, por um esforço adicional das câmaras e juntas, a capacidade colectiva do País excedeu-se a si própria.

Que importa que as verbas específicas tenham baixado esse ano?

Que importa certas quebras de créditos iniciais quando se realizaram as obras da Madeira e Açores?

Que importa que a ponte tenha custado um pouco mais do que se previra?

Mas atrás do visível tem de descortinar-se os efeitos sucessivos, as altas de consumo, o jogo de multiplicadores financeiros, a aceleração em zonas de estagnação e atraso.

sem dúvida - e é pena - faltou ainda o aproveitamento do Mondego e do Tejo e deve ser criticado o abandono a que foram nesse ano votados ainda os distritos de Bragança, Guarda, Vila Real e Viseu, que pareciam ainda enteados de uma tutora solícita mas imponente.

Faltava em 1966 o plano do Nordeste, um plano que há-de ser precavido e sério.

Seja como for, o quadragésimo ano foi um ano faustoso, copioso de realizações acabadas, e não de promessas fagueiras, de enleios inconsistentes, de tristes sinais de ineficiência e de paralisia.

Não pode a sucessão das contas deixar de registá-lo e a sucessão de balanços revelou um trabalho colectivo árduo e proveitoso que os números não podem impugnar, antes confirmam, e que .em 1966 tiveram, em parte, epílogo feliz.

Não podemos esquecê-lo.