resultava de mera teimosia pessoal do Doutor Salazar. A verdade, porém, é que a posição de Portugal não podia ser outra.

Vozes: - Muito bem, muito bem! Aplausos.

O Orador: - Em Angola e em Moçambique residem, labutam, seguem o seu destino centenas de milhares de brancos. Muitos deles nasceram lá, alguns mesmo na terceira, na quarta, até na quinta geração de famílias há muito radicadas nessas províncias. São africanos. E a par destes há milhões de negros, que durante séculos só conheceram a vida tribal, com seus gregarismos e suas rivalidades, e que no seio da Nação Portuguesa encontraram um lar comum, uma base de convívio social e as condições para, evolutivamente, irem adquirindo as possibilidades de enfrentar os problemas e de utilizar os recursos próprios dos tempos correntes.

Portugal é responsável pela segurança das populações e pela preservação de tudo o que elas criam e de que elas vivem.

Portugal não pode abandonar aos caprichos da violência, aos furores dos ressentimentos, aos ódios dos clãs ou aos jogos malabares da política internacional os seus filhos de todas as raças e de todas as cores que vivem nas províncias ultramarinas, ...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Aplausos.

O Orador: - ... nem lançar aos dados de uma sorte incertíssima os valores que à sombra da sua bandeira fizeram de terras bárbaras promissores territórios em vias de civilização.

A consciência dessa impossibilidade é tão viva no espírito de todos nós que nem um só momento se hesitou em enfrentar a subversão.

Pois poderiam os Portugueses assistir impassíveis à selvagem destruição da vida civilizada?

Poderiam os Portugueses deixar avolumar a hostilidade racial e cavar um abismo entre duas etnias cujo convívio e colaboração íntimos são indispensáveis ao progresso da África austral?

Poderiam os Portugueses ver arruinar uma obra que, com todos os. defeitos inerentes à humana natureza, traduz positivamente a criação de sociedades multirraciais queridas e aceites por negros e brancos, num exemplo de entendimento e colaboração que infelizmente não tem muitos similares noutras regiões?

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Não declarámos guerra a ninguém. Não estamos em guerra com ninguém. A subversão não tem nome e os seus atentados partem não se sabe de quem. Defendemo-nos. Defendemos vidas e haveres. Defendemos, não uma civilização, mas a própria civilização.

Vozes: - Muito bem!

Aplausos.

O Orador: - Defendemos, contra os improvisos trágicos que têm atrasado a marcha das populações africanas e comprometido a paz no Mundo, a evolução firme e segura, mediante a qual os territórios vão amadurecendo para o pleno desenvolvimento económico e cultural, de modo a permitir a participação progressiva dos nativos nas tarefas da administração e do governo.

Defendemos, afinal, os verdadeiros interesses dos povos integrados na Nação Portuguesa e que dentro dela podem, sem sobressaltos, prosseguir os seus destinos, contra desastrosas ficções encobridoras de formas irresponsáveis e detestáveis de neocolonialismo.

Que o digam os portugueses de Goa cativa, donde nestes últimos dois meses recebi tantas e tão tocantes mensagens amigas mensagens significativas de constante presença, mensagens de saudade da Pátria, mensagens de solidariedade nas alegrias, nos pesares, nas preocupações, nas esperanças de Portugal!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Aplausos.

O Orador: - Não foi a vontade das populações que integrou Goa na República da índia. Foi a ambição dos governantes desta, foi o espírito expansionista do novo Estado, que sob aparências pacíficas oculta um novo imperialismo asiático.

Pois haverá quem duvide de quê por detrás dos grupos que se apresentam como paladinos dos direitos das populações nativas se movem interesses imperialistas que se digladiam na disputa da supremacia mundial?

Temos desse facto provas constantes. Mas em nenhuma região são tão flagrantes como na Guiné.

A Guiné Portuguesa é um pequeno território, densamente povoado por uma laboriosa população rural, com a qual estabelecemos comércio desde o século XV. Não dispondo dos largos espaços próprios para o povoamento europeu que se encontram em Angola e Moçambique, a presença portuguesa na Guiné não podia ser senão o que tem sido: de unificação política e pacificação das numerosas raças que a habitam com diferentes costumes e religiões; d e fomento da economia na base de protecção ao trabalho nativo; de assistência social, que entre as diversas formas revestidas conta os êxitos da missão de estudo e combate à doença do sono e da subsequente missão de combate às endemias.

A grande maioria da população da Guiné luta contra o terrorismo ao lado das forças regulares. Mas o terrorismo aparece nesse território muito mais larga e eficazmente apoiado pelas potências socialistas, sobretudo a União Soviética, do que noutras províncias. Dir-se-ia que se está aí a fazer um esforço insistente e apressado, para a qual se não regateiam armas e outros auxílios. E a razão desse interesse especial não é secreta: os responsáveis não escondem que a Guiné constitui a base necessária para o assalto a Cabo Verde ao arquipélago que constitui uma posição-chave nas comunicações entre o Norte e o Sul do oceano Atlântico e até entre as duas margens deste.

Numa altura em que a esquadra soviética cresce de dia para dia no mar Mediterrâneo e em que a Rússia procura instalar bases militares e consolidar alianças no Médio Oriente e no Norte de África, não pode escapar à atenção de qualquer pessoa a importância que representaria para ela a posse do arquipélago de Cabo Verde em mãos amigas. A Europa está a ser cercada.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A segurança dos países não pode hoje em dia ser defendida nas suas fronteiras. As nações estão integradas em grandes espaços de cuja sorte partilham. A liberdade e a independência dos países da Europa ocidental jogam-se não só na própria Europa, como na África. Eis a