razão pela qual temos de defender a Guiné. No nosso próprio interesse, é certo, mas também no interesse do Ocidente europeu e das próprias Américas.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Aplausos.

O Orador: - Anos de coexistência pacífica, embora precária, criaram nos nossos espíritos a ideia de que a União Soviética renunciara a qualquer propósito agressivo e se dispunha a colaborar numa Europa «do Altântico aos Urais».

A invasão da Checoslováquia acordou-nos dessa ilusão, que a anterior intervenção no Mediterrâneo já profundamente abalara. A U.R.S.S. continua a ser uma superpotência com largas ambições imperialistas que procura satisfazer com a ajuda da expansão da ideologia comunista. É uma realidade que não podemos ignorar.

Somos, os Portugueses, sinceramente amantes da paz. Sou-o pessoalmente - nem compreendo que homem bem formado possa desejar, aplaudir, provocar, a solução de diferendos desencadeando com efeitos de extensão e intensidade imprevisíveis hecatombes de vidas e aniquilamento de valores.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mas, por isso mesmo, o dever daqueles que desejam manter a paz é desencorajar os agressores.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Como é seu dever reprimir e castigar os que a perturbarem.

Em África defendemos a paz. E bem desejaríamos que cessassem os combates, que deixassem os terroristas de encontrar o apoio graças ao qual penetram nos nossos territórios e aí inquietam e afligem as populações. Enquanto tal não sucede, a acção das autoridades e das tropas é conduzida cada vez mais no sentido de conquistar almas em lugar de ceifar vidas.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - De fazer frutificar culturas, e não de desolar o chão. Mas não podemos afrouxar perante um adversário que se mostraria, à maneira tradicional africana, intolerante e implacável, que ressuscitaria todos os ódios rácicos, sacrificaria vidas e bens sem hesitar e implantaria em. pontos vitais para o futuro da África austral posições inimigas de Portugal e do Ocidente.

Vozes: - Muito bem!

Aplausos.

O Orador: - É corrente na Assembleia Geral das Nações Unidas falar-se em aliança secreta de Portugal com a União Sul-Africana e com a Rodésia. Escuso de dizer que não existe a ligar os três países qualquer aliança secreta ou ostensiva. Praticamos, aliás, políticas raciais distintas, e sabe-se quanto estamos empenhados em prosseguir e aperfeiçoar a nossa política de não discriminação e de franca convivência. Em muitos pontos, porém, coincidem os nossos interesses na África austral, a partir da convicção de que o progresso dessa zona do continente carece da presença estável do homem branco, que se radique, ambiente e afeiçoe à terra africana e nela se associe ao nativo. Daí que, por exemplo, não possamos ser indiferentes à sorte da Rodésia, cuja principal saída para o mar está no nosso porto da Beira. No nosso interesse, no interesse da África meridional, no interesse da paz do Mundo, desejaríamos vivamente que a Eodésia e Grã-Bretanha encontrassem uma fórmula de honroso ac ordo, a fim de pôr termo à grave situação existente.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Aplausos.

O Orador: - Posso dizer que nem um só momento, a partir da hora em que assumi as responsabilidades do Governo, os problemas do ultramar deixaram de estar presentes no meu espírito e de ter larga cota nas minhas preocupações. Para, aliás, o tornar bem patente, projectei fazer uma breve visita a três capitais de província, visita de cortesia que fosse afirmação viva de solidariedade e de apoio às populações e às forças que as defendem. Entendi, porém, que não devia afastar-me daqui enquanto o Doutor Salazar estivesse em perigo de vida. Ã viagem teve, por isso, de ser adiada para mais tarde, mas espero vir a fazê-la no próximo ano.

Vozes: - Muito bem!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mas se as razões que já expus explicam esses encargos, a que não podemos fugir, deles resultam inevitáveis limitações para as finanças do Estado.

Todo o esforço militar no ultramar tem sido, e terá de continuar a ser, suportado com recursos provenientes das receitas ordinárias que dantes eram em larga escala aproveitadas para cobrir despesas de fomento. Agora terá de se fazer face a muitas destas despesas com dinheiro obtido por empréstimo.

Sendo as despesas de fomento reprodutivas, por serem feitas em investimentos cujos benefícios serão produzidos no futuro, justifica-se que não caia o seu peso exclusivamente nos que pagara agora as contribuições e que o respectivo custo seja repartido em sucessivas anuidades. O apelo ao empréstimo está, pois, perfeitamente justificado.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Um país não pode, porém, endividar-se acima de certo limite, pois amortização e juros passam a ser encargo do orçamento ordinário. Por outro lado, o crédito interno não é inesgotável e o crédito externo tem de estar sempre longe do esgotamento, porque país largamente devedor a estranhos cessa, na realidade, de ser independente.

Vozes: - Muito bem, muito bem!