O Orador: - Não mudara, entretanto, a essência das coisas nem o valimento dos, valores.

Mas um conceito novo, totalizante, de guerra subversiva, que se fere, ao mesmo tempo, nas linhas avançadas e no decurso permanente e geral da vida do País, obrigou a nova e mais desperta vigília da governação.

Da inspiração distante dos que comandam a guerra subversiva imposta a Portugal decorrem muitas vezes certos factos de inocente aparência, que uns promovem por obediência e. outros aceitam por ingenuidade, mas que trazem oculta a virulência das mais poderosas armas de combate.

Desprezá-los ou ignorá-los é dispormo-nos a pisar, cegamente, as minas que nos hão-de destruir.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Deixar perder, na normalidade da vida quotidiana, as vitórias que os soldados ganham na frente de batalha seria não merecermos os mortos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - O mérito de tê-lo compreendido e a coragem de ter enfrentado o inimigo em toda a extensão nacional que escolheu para a luta fazem de Salazar o primeiro dos combatentes portugueses nesta guerra.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: -Esta guerra, por cujo esforço heróico se renova a legenda, que deu Mouzinho de Albuquerque ao seu príncipe, de ser Portugal «obra de soldados».

Julgo ter sido uma das derradeiras compensações que lhe encheram a alma, a consagração de Nuno Alvares, na estátua erguida junto ao Mosteiro da Batalha, «à estribeira do rei, como sempre estivera em vida».

Eu sei bem quanto, em seu íntimo, mais do que monumento ao maior herói da Pátria, aquele era o monumento que ele queria ver erguido ao heroísmo; mais do que ao santo da Igreja, aquele era monumento à virtude; mais do que ao Condestável leal ao seu rei, era monumento à lealdade. Memória de quantos portugueses, naquele rincão estremenho ou nas províncias de África, onde nossa Pátria for e em todas as batalhas pelos séculos além, com sua vida e morte guardam Portugal livre, independente e íntegro.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Este português, honra de portugueses; pertence em verdade à vida de nós todos.

Desde aquela manhã de 7 de Setembro em que o País teve notícia da doença de Salazar, a romagem do povo à Cruz Vermelha tem sido uma consagração.

As lágrimas dos velhos, as flores das crianças, os votos de todos buscavam erguer, perante a adversidade, a barreira intransponível dos nossos corações.

Os grandes da Terra: o Papa, soberanos e chefes de Estado, príncipes de sangue e governantes acompanhavam-no na hora da provação.

O País, contradizendo a anunciada previsão dos mentores comunistas, acolheu a notícia com profunda emoção, sim, mas mantendo completa serenidade.

E, perante o respeito e carinho de Portugal inteiro, nove dias decorreram de esperança crescente na sua plena recuperação. Nove dias a que já se atribuiu, e bem, valor de um plebiscito.

Ao décimo dia nova doença põe em risco, então muito mais grave, a sua vida. Rodeado de cuidados médicos inultrapassáveis um qualquer parte do Mundo, estes, com a ajuda da sua grande coragem e força de vontade, permitiram-lhe sobreviver e com seu espírito indomável dar luta e levar lentamente de vencida a sua grave doença.

O País, que já se afizera à ideia de vê-lo regressar ao leme, ao seu lugar, reagiu ainda uma vez comovida mas serenamente e, dando exemplo admirável de maturidade política - fruto da obra de Salazar -, soube viver, com dignidade irrepreensível e lúcida confiança, essas jornadas de tanta e tão dolorosa preocupação.

Nunca a gente portuguesa naufragou na confusão do rumo perdido ou se diminuiu de cepticismo do desespero; fintes, como já aqui foi dito, se firmou na fé e se engrandeceu na esperança do milagre. Que só o poder de Deus não tem limites.

E nas horas intensas que temos vivido, mais forte que. na austeridade do bronze, mais. vincado que no talhe da pedra, o querer dos Portugueses esculpiu de Salazar o perfil que, dele. outro dos maiores homens deste século, Pio XII, há vinte e oito anos definira: «um chefe que soube conquistar o amor do seu povo».

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - Nós nem sabemos que contraditório destino, melhor direi, que profundo desígnio da Providência terá permitido a este homem (inacessível à vaidade e à glória, que nunca sentiria, como confessou «nem desânimo, nem ódio, nem sequer o amargo travor que dizem ser o da ingratidão») conhecer, em vida, o mais alto monumento à sua obra de génio - o respeito geral e o reconhecimento . sentido dos corações portugueses.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Desígnio da Providência que há-de permitir-lhe, até, vir a conhecer como confirmaram os factos a previsão, que sempre fizera, sobre a normalidade com que decorreria a mais dura das provas a que o sistema constitucional que ideou estava sujeito: a opção mais difícil podia, na verdade, ser feita pelo Presidente da República, perfeitamente livre de obedecer apenas à sua consciência, ainda que a dor que nos feriu a todos nessa hora ficasse, para sempre, bem patente na expressão angustiada do Sr. Almirante Américo Tomás na imagem que o Puís teve da sua própria dor.

Vozes: - Muito bem!