O Orador: - Sr. Presidente: Se entendo não valer a pena trazer para aqui o relato circunstanciado da luta heróica travada entre o velho pesqueiro armado em caça-minas, denominado Augusto de Castilho, contra o poderoso submarino alemão que o haveria de sepultar no mar dos Açores, feito tão recentemente lembrado na imprensa, e já página imorredoura da história da nossa epopeia marítima, outro tanto não sucede com o que julgo ser meu dever, evocando-o. E que, nem o Português, nem o Transmontano, nem o Deputado poderiam esquecer nesta Casa o que, tendo tido aqui assento, bem mereceu da Pátria o ser relembrado para que conste dos seus anais o exemplo de perfeito servir que nos legou ao arremeter corajosamente, quando já sem munições, peito a descoberto, contra as balas que o não derrubaram sem que primeiro proclamasse:

Hei-de, morrer como Português!

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Agostinho Cardoso: - Sr. Presidente: Concedeu-me Deus o privilégio de ser Deputado à Assembleia Nacional no momento histórico que vivemos: o da sucessão de Salazar adentro de uma normalidade constitucional que ele genialmente adivinhara, que o alto civismo do povo português possibilitou, a firmeza, dignidade e prestígio do Venerando Chefe do Estado garantiram, e se polarizou na figura prestigiosa do novo Chefe do Governo, o homem que a Nação esperava, mestre estudioso que bem tem amado e servido a juventude de Portugal, homem honrado pelo trabalho infatigável e pela experiência e coerência de uma longa vida pública e a quem a comunidade nacional outorgou imediatamente uma confiança só igualada pela fé nos destinos da Pátria sob o seu governo.

Confiança da Nação e uma compreensão ou expectativa rodeada de simpatia, ou pelo menos de respeito, que nos chega do estrangeiro, eis dois elementos importantes do clima do actual momento político.

Sr. Presidente: Se me permito a liberdade de fazer da actual conjuntura política do País o motivo das poucas e simples palavras que estou dizendo é porque quero afirmar a presença confiante nesta hora o apoio seguro ao Sr. Presidente do Conselho da gente do arquipélago da Madeira que me elegeu, a primeira terra que, para lá do mar, veio prolongar a escassa metrópole, na primeira etapa da procura das terras, de África, onde nos firmaríamos como nação adulta, que só nesse sentido podia realizar-se.

Dos dois discursos fundamentais do Sr. Presidente do Conselho permita-se-me que aqui saliente alguns conceitos e linhas de rumo que particularmente me interessaram: a continuidade na renovação da Revolução Nacional, a autenticidade e austeridade do Regime como permanente e indispensável testemunho a dar à Nação, o cerco à Europa, que há tanto se desenhara e agora mais se aperta em pleno mar Mediterrâneo, ao lado da posição equívoca de certos países ocidentais que apoiam ou pactuam com as que nos atacam lá onde defendemos o Ocidente, a clareza objectiva das razões expostas quanto à nossa intangível presença nas províncias ultramarinas e a evidente especificidade do caso da Guiné, guarda avançada dos cobiçados portos e aeródromos de Cabo Verde.

Permito-me ainda salientar a prioridade ao que se deseja chamar «os problemas da juventude e do ensino», de raízes tão profundas» e perspectivas tão vastas, que são apenas localização de problemas de um século e de um mundo onde se não pode e não quer viver sozinhos. A promoção social, sobretudo das massas rurais, as correcções de desequilíbrios de desenvolvimento regional, a preocupação de coordenar actividades, acelerar o ritmo do progresso e o rendimento e eficiência da orgânica administrativa, eis outros aspectos.

Estas as notas que mais me apaixonaram nas palavras do Sr. Prof. Marcelo Caetano, como também a denúncia e o reconhecimento dos óbices que diante delas se levantam para quem - e o País compreendeu-o - vem fazer o maior dos sacrifícios, doando-se à Nação quando assume às responsabilidades do Poder na actual conjuntura nacional e internacional.

Mas se o Sr. Presidente do Conselho soube exprimir nos seus dois discursos as principais aspirações nacionais e vir ao encontro do que muitos de nós já pensávamos e sentíamos, essa identificação de pensamento obriga-nos, por espírito de coerência - na profissão e na vida pública. no trabalho u nas atitudes pessoais, no lugar que cada um ocupe ao serviço da comunidade -, obriga-nos, dizia, a franca e militante colaboração. E ainda à consciencialização do que as realizações desejadas se condicionam inevitavelmente por factores em parte não dependentes da vontade dos governantes, como sejam as necessidades da defesa nacional, o tempo que requer o estudo e o desenrolar dos planos, programas e decisões, a preparação ou a escolha dos homens que os executem, o equilíbrio indispensável na criação de riqueza, as reservas e capacidade financeiras do País coordenadas com a defesa da moeda e os imprevisíveis factores da vida internacional.

Vozes: - Muito bem!

ticidade do Regime desse tempo em sua actuação e ao descrédito dos princípios do liberalismo político quando entre nós tentou realizar-se. Hemos de cuidar que nunca este divórcio aflore o actual Regime, que em quarenta anos também se vem realizando, sem temer o que houvesse a corrigir ou reprimir em erros ou desacertos de homens ou organismos que o comprometessem, só pelo receio infundado de desprestigiar perante o público as instituições. Por mim nunca recusei entender, a lição que regimes diferentes do nosso possam dar-me em sua actuação, seus métodos, seus êxitos e fracassos, sem esquecer que após cinquenta anos de doutrinação em círculo fechado, o totalitarismo soviético vê-se obrigado a regressar à pressão com seus