Misericórdia da Lourinhã. Recordo esse esplêndido burgo de Marialva, que é, no seu todo, um magnífico exemplar de vila antiga, só por si susceptível de interessar os mais exigentes turistas ou amadores de arte. O Convento de S. João de Tarouca, onde se guardam quadros e outras peças de valor incalculável. O Mosteiro da Flor da Rosa, espécime raro de mosteiro fortificado. O Santuário de Nossa Senhora do Cabo, junto ao cabo Espichei, outrora centro de grandes peregrinações desta região de Lisboa. As termas romanas de S. Pedro do Sul. A Capela do Mileu na encosta da Guarda. A Igreja de Santa Cruz de Coimbra, cuja fachada, corroída pela chamada «lepra da pedra», está a meter dó. O Mosteiro de Grijó, com seus claustros a carecer de reforma.

Enfim, seria longa a enumeração de monumentos urgentemente necessitados de protecção. E isto sem referir as inúmeras espécies de talha, azulejaria, pintura, imagística, joalharia e outras artes que estão na iminência de se perderem ou inutilizarem.

Quando se discutiu nesta Assembleia o III Plano de Fomento, reparei que apenas no capítulo IX, o referente ao turismo, se fazia alusão à conservação e recuperação de monumentos nacionais, e que para tal fim se destinavam 30 000 contos, ou sejam 5000 centos por ano, prevendo-se desde já a recuperação do Castelo de Leiria e a instalação do Museu de Alcobaça. Temos de convir em que é pouco, mesmo muito pouco, pois só na inventariação, que se impõe, do património artístico público e particular, desde o arqueológico ao contemporâneo, gastar-se-ia aquela verba, mesmo contando já com os trabalhos realizados por diversas instituições, como a Academia Nacional de Belas-Artes e a Fundação Calouste Gulbenkian. O referido Plano de Fomento não foi, portanto, pródigo neste aspecto.

Estamos, assim, perante um problema sério, que urge encarar resolutamente, pelo alto interesse moral, artístico, histórico, científico e até económico que envolve.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E, já que o Estado não pode fazer tudo, deve pelo menos estimular e subsidiar a criação de museus regionais, e os esforços das autarquias, ligas de melhoramentos, associações de arte, comissões paroquiais e outros muitos agrupamentos de boa vontade que pelo País além vão preservando e defendendo, com mística devoção, as relíquias do nosso património artístico.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Seria grave erro abrandar, um só momento que fosse, esta linha geral de protecção, restauro e aproveitamento das obras de arte, e um pecado contra o espírito, descurar, ainda que nos mais insignificantes elementos, os pedaços de história da arte ou dos homens que as gerações passadas nos legaram.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Impõe-se, portanto, como já disse, uma vasta acção, uma autêntica campanha de patrocínio e valorização que empolgue em todos os cantos de Portugal as entidades públicas e particulares e nos tranquilize quanto a este aspecto da recuperação e preservação de todo o nosso precioso espólio de arte.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Nunes Barata: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Vai para dez anos, quando o Sr. Prof. Doutor D. Manuel Gonçalves Cerejeira proferiu na Universidade de Coimbra a sua «última lição», permiti-me salientar, nesta tribuna, tão significativo acontecimento, enaltecendo o labor intenso e profícuo de um homem notável pela doutrina, piedade e prudência.

Ao completar agora 80 anos de idade e 40 de episcopado, vê o Sr. Cardeal Cerejeira concretizar-se o maior sonho da sua juventude: a inauguração da Universidade Católica Portuguesa.

Julgo que o aniversário de tão ilustre purpurado e a inauguração da Universidade Católica, com que particularmente foi assinalado, merecem igualmente realce nesta Câmara.

O nome do Cardeal Cerejeira liga-se a uma idade de reparação, de promessa e de triunfo, não só da história da Igreja, mas ainda da história de Portugal.

Se neste momento nos fosse dado folhear o livro da vida, quantas páginas, escritas a letras de ouro, não seriam outras tantas memórias da actividade inteligente e generosa do Sr. D. Manuel Gonçalves Cerejeira!

As minhas palavras, Sr. Presidente, seriam sempre descoloridas na evocação da trajectória luminosa do seminarista de Braga, do estudante de Coimbra, do professor universitário, do arcebispo de Mitilene, do patriarcade Lisboa, logo elevado à dignidade cardinalícia.

E, se particulares ligações a Coimbra e à sua gloriosa Universidade justificaram-que, na oportunidade já referida, tivessem evocado, nesta Assembleia, principalmente os tempos em que o Prof. Gonçalves Cerejeira foi mestre egrégio, alma orientadora de almas, de tantas gerações coimbrãs, permito-me agora enaltecer a doação do Cardeal-Patriarca de Lisboa à Igreja e a Portugal.

Nas missões de cardeal-legado, em congressos internacionais e actos comemorativos de grandes figuras ou acontecimentos da Igreja; no centenário de S. Francisco Xavier, na inauguração de Brasília ou da catedral de Lou-renço Marques; nas

Sr. Presidente: Quando o Sr. D. Manuel Gonçalves Cerejeira tomou posse da Sé de Lisboa, a Igreja em Portugal tentava erguer-se das ruínas causadas por um doloroso período de perseguições religiosas.

Sobre o novo patriarca recaía a ingente tarefa de refazer mentalidades, combater hábitos perniciosos, formar novos e dedicados obreiros.

A Obra dos Seminários e a instauração da Acção Católica foram dois pilares na renovação operada em quarenta anos de fecundo episcopado. Agora, a inauguração da Universi-