peso na balança de poder dos ocidentais, a justiça e a política social, a esquematização corporativa :- para não engrandecer totalmente o Estado nem endeusar o homem -, parecem-me os traços vivos, nítidos, rigorosos, imponentes dessa obra que veremos adiante, não como uma complexidade patrimonial, mas como uma herança moral para as gerações - porque foi gizada, acalentada e esculpida com os olhos postos no futuro.

O Sr. Virgílio Cruz: -Muito bem!

O Orador: - A esperança refloriu do cepticismo, a dignidade antiga refluiu nas correntes, o crédito e a reputação colectiva sucederam às apreensões e dúvidas lá de fora e esse singularíssimo educador de nações ensinou ao País uma perfeita, mas singela, noção de dignidade histórica que, se não se havia perdido, estava pelo menos obliterada.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - «A obra financeira de quarenta anos.» Essa «obra financeira de quarenta anos»! Se eu tentar condensar numa síntese esses quarenta anos, lentos, inçados de dificuldades, reparadores da inércia ou de uma administração precária, nas formas e nos resultados, direi apenas: puderam ser feitas grandes coisas, talvez nunca sonhadas, obviando-lhes com pequenos meios, aplicados necessariamente com parcimónia.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Quando se dispõe da largueza e do crédito da América do Norte ou da Inglaterra pouco custará erguer e construir e todos os milagres colectivos são permitidos.

Fez-se essa obra, pois, com mínimos custos, para repartir justamente os encargos de despesas públicas, já de si imponentes, mas sujeitas a movimento ascensional.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Uma série de reformas corajosas e francamente inovadoras na tributação, nos orçamentos, na contabilização e controle financeiro, acompanhadas das reorganizações institucionais e burocráticas, confirmaram os credores e contribuintes na sua. confiança indesmentida e nas esperanças, autorizáveis em dar por findo o ciclo histórico do desvario e do desperdício. Melhoraram os padrões monetários, foram acrescentados os seus poderes compradores e as suas reciprocidades e aos outros governos e aos capitalistas foram dadas seguranças, podendo sanear-se o crédito e a banca; melhoraram-se ainda as balanças e logrou alargar-se o domínio do fomento e das trocas.

Um sistema, fiscal de moderação e minúcia, baseado nos rendimentos presumidos, começou a ser actualizado e modernizado com novos instrumentos de tributação subjectiva e de indirecta colecta dos negócios e dos actos jurídicos da circulação.

Medidas de alta moralidade pretenderam ainda moderar ambiciosas pressões e corrigir os desvios nas relações macroeconómicas e nas administrações, isentando o corpo social das tendências e pressões que só o comprometiam.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - «As colunas do tempo.»

O templo erguido sustentou-se sobre as suas colunas, no meio de guerras, crises e devastações.

Quando das primeiras campanhas de difamação internacional contra o 28 de Maio; quando das ameaças e lances da guerra de Espanha, da crise de 1929 e da guerra mundial e partilha do Mundo; quando dos «satyagrahis», da espoliação de Goa e da eclosão do terrorismo africano; quando das compras maciças no estrangeiro e dos saques formidáveis sobre as caixas centrais do Tesouro, com suas fugas e levantamentos - o Ministério das Finanças, os seus órgãos e institutos, os seus colaboradores, permaneceram como as colunas do templo, de pé, serenas, inabaláveis, no meio das desvastações mundiais e da tríplice ameaça, quando pareciam chegados os horrores visionados em Patmos pelo evangelista S. João.

Vozes: -Muito bem!

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - «A sucessão!»

Muitas vezes eu disse que os condutores excepcionais de povos são, além de homens mais que superiores, construtores singularíssimos, que deixam uma herança sem deixar herdeiros.

Mas é forçoso reconhecer que, sem testamento, nem delfinato, surgiu um herdeiro mais do que representante legítimo, não por recolhei a sucessão, mas por querer rejuvenescê-la, nestes novos tempos, e conservá-la assim viva, no meio dos naturais desgastes do tempo e da fortuna.

«Os pontos capitais da ordem financeira da oração do Sr. Presidente do Conselho.»

Falando de herança, continuo, pois, a ter de me referir aos «pontos capitais de política financeira».

Produziu, aqui, nesta tribuna, o Sr. Presidente do Conselho, Prof. Marcelo Caetano, afirmativas lúcidas, directas, poderosamente sugestivas, mas sem deixarem de ser literariamente recortadas, em que o sentido das realidades se pauta por um mais que consciente sentimento das responsabilidades do homem de Estado, de capacidade múltipla.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Destacarei, apenas, para as enumerar, as de alcance financeiro, que não podemos dissociar da política financeira a renovar e empreender, nem da marcha-geral das orações e decisões.

Começarei, pois, por aqui.

A defesa, é desenvolvimento e a promoção ultramarinas, pesando embora sobre o conjunto, carregam inexo-