quem se disponha a colaborar, principalmente, com o seu grémio: deixando de o considerar apenas como uma loja que pode dar crédito vendendo mais barato, mas antes como o catalisador da boa vontade dos agricultores do concelho, afinal, como a sede de uma «cooperativa de ideias»; exercendo os cargos para que se for eleito; tendo o firme propósito de eleger os mais capacitados e que se interessem activamente pelos assuntos.

Nunca se negou o digno Procurador à Câmara Corporativa, agora falecido, a exercer os cargos para que fora eleito e, neles, fazia-o com esforço total da sua inteligência, dos seus vastos e largos conhecimentos das coisas que com a lavoura se prendiam, não esquecendo nunca, na sua actuação, os legítimos direitos dos trabalhadores rurais, não só através da Casa do Povo da sua terra, como também daqueles que com ele trabalhavam na exploração da sua grande casa agrícola, onde se fazia uma exploração racional e actualizada da cultura cerealífera e de produção pecuária adequada.

E ainda, numa ânsia de ser mais útil aos seus pares na lavoura, não raro colaborava em jornais e revistas ou expunha o resultado das suas observações noutras terras, como o atestam numerosa colaboração no Diário do Alentejo e o seu «Relatório de uma viagem de estudo em França».

Sr. Presidente, Srs. Deputados: Não é a voz de um amigo muito querido, quase que um amigo, que aqui está a fazer um elogi

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Vai passar-se à

O Sr. Presidente: - Continua em discussão na generalidade a proposta de lei de autorização das receitas e despesas para 1968.

Tem a palavra o Sr. Deputado Cutileiro Ferreira.

O Sr. Cutileiro Ferreira: - Sr. Presidente: Ao iniciar a minha modesta actuação nesta última sessão legislativa, começarei pelo grato dever de apresentar a V. Ex.ª, Sr. Presidente, as minhas efusivas saudações.

Cumprido este agradável imperativo de cortesia, rogo-vos, Sr. Presidente, me seja consentido que anteceda as ligeiras considerações que pretendo fazer à proposta de lei de autorização das receitas e despesas para 1969 com alguns breves comentários de carácter político, que, bem o creio, são inteiramente pertinentes nesta Câmara.

Começarei por render a homenagem do meu maior respeito ao homem que a desdita prostrou, vítima de inclemente doença, quando ao findar uma vida de intenso trabalho, ao serviço exclusivo da Nação, todos desejaríamos fosse poupado às agruras de um sofrimento atroz. Deus teve outros desígnios. Salazar há muito que pertence à História. Ela, melhor do que nós, o julgará. É certo, porém, que tanto na história pátria como na história do mu ndo dos nossos dias. o seu lugar será cimeiro. Que todos... todos sem excepção... saibamos ser dignos do exemplo que nos lega na defesa, intransigente defesa, dos superiores interesses da Nação.

Devo agora, Sr. Presidente, uma palavra de respeitosa saudação ao venerando Chefe do Estado, que, numa hora difícil, decisiva até, foi o timoneiro firme no rumo certo das conveniências da Pátria. Ajudado e servido por todos os órgãos constitucionais, agiu, no momento exacto, com visível mágoa, segundo o mais são critério e na compreensiva realidade dos factos.

Teve que decidir... e decidiu... Teve que escolher... e escolheu bem. Bem haja.

A escolha do venerando Chefe do Estado recaiu na pessoa ilustre do Prof. Marcelo Caetano.

Todos aplaudimos a escolha. S. Ex.ª tem a formação política conveniente, tem a noção perfeita dos problemas, tem a consciência dos ciclópicos trabalhos que o esperam. Com estes atributos, e muitos outros mais, será o digno sucessor de Salazar. aceitando, eu, que tenha ópticas diferentes e soluções igualmente diferenciadas.

É próprio dos homens inteligentes, como S. Exa., um sentido pessoal que marca, indelevelmente, as suas atitudes e acções sem afectar o que é imutável: a defesa da Pátria e da ordem.

Quero assegurar no novo Presidente do Conselho a minha leal colaboração, tanto nesta Câmara como, e decerto mais prolongadamente, na minha posição de simples homem da oficina, do trabalho e da família. Nesta Câmara estarei pronto a colaborar nos projectos de lei que o Governo nos enviar e, se me fosse permitido formular um pedido, folgaria que entre essas propostas figurasse a de uma lei de imprensa em que as responsabilidades sejam judiciosamente proporcionais às liberdades a conceder. Sei que o Sr. Presidente do Conselho foi brilhante jornalista e, por isso, melhor que muitos, estará em condições de elaborar essa proposta de lei.

Com jubilosa esperança a fico aguardando.

A terminar, Sr. Presidente, estas ligeiras considerações políticas, quero deixar bem vincado o muito orgulho que tenho sentido, como português, pelo exemplar comportamento do nosso bom povo na emergência que nos últimos três meses temos vivido. Contrariando os augúrios de todos os estrangeiros, e muitos portuguesas, esse bom povo foi digno... foi exemplar... foi grande.

Passarei agora, Sr. Presidente, a ocupar-me da proposta de lei de autorização das receitas e despesas para 1969. Com a regularidade que a Constituição estabelece e nos precisos termos que a mesma impõe, mais uma proposta de lei de autorização das receitas e despesas é presente a esta Câmara para estudo, discussão e votação.

Como é tradicional, salutarmente tradicional, mais uma proposta de lei em que o fantasma do déficit não existe. E pena que a exiguidade do tempo para estudo da proposta e do consequente parecer da Câmara Corporativa não deixe que esse estudo seja profundo, como convinha.

Contentar-me-ei, Sr. Presidente, de salientar algumas notas mais prementes ou que mais feriram a minha sensibilidade.

Compreendo, sem esforço, que haja na proposta de lei em discussão uma ligeira generalização no programa do