3.º Evitar ou reprimir com a firmeza e equilíbrio aconselháveis a subversão académica, cujas causas e objectivos nada têm que ver com as deficiências do ensino oficial, as quais são, contudo, * frequentemente utilizadas na enganosa dialéctica .dos agentes fomentadores daquela subversão.

Aguardo e confio.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Gazal Ribeiro: - Sr. Presidente: Neste último período legislativo da actual legislatura, última também, naturalmente, da minha breve e inexpressiva actuação como Deputado, hesitei longamente antes de usar da palavra nesta Assembleia, onde tanto aprendi e tão pouco produzi, sobre a matéria a que, afinal, adiante me referirei.

Não desejaria, com efeito, poder ser acusado de tirar conclusões precipitadas, nem, sobretudo, dar a impressão de que, por mim, quer como Deputado da Nação, quer como português atento e patriota, recusava o crédito pedido ao País pelo Sr. Presidente do Conselho, aquando da sua investidura, no dia 27 do passado mês de Setembro. Longe de mim tal ideia! Por todas as razões, o crédito pedido justifica-se amplamente, e, quando não bastassem as provas já dadas e as qualidades pessoais, humanas e de estadista do Prof. Marcelo Caetano, haveria o aval dado pelo supremo magistrado da, Nação, chamando-o à chefia do Governo. Quero aproveitar esta oportunidade para, publicamente, apresentar ao Sr. Presidente da República a mais calorosa homenagem, testemunhando-lhe a minha profunda e incondicional gratidão pela extraordinária clarividência e firmeza de que mais uma vez deu provas, na difícil e ingrata emergência que o País atravessou.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Aquele facto, porém, só por si bastaria para tornar b crédito pedido numa obrigação indiscutível para todos os portugueses que se prezam de o ser, sejam quais forem as suas tendências políticas. O que é necessário, para o efeito, é que todos mantenham no seu peito, bem arreigado, um indispensável e salutar portuguesismo.

Tenho lido e ouvido atentamente muito do que se tem escrito e dito, nestes últimos tempos, sobre o actual momento político - exactamente desde que a doença prostrou de forma fulminante e irreversível esse português admirável, esse estadista genial que foi o Presidenta Salazar.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mas nem a circunstância de ser indefectível admirador da sua obra me inibe de crer na capacidade e na isenção de quem aceitou a ingrata tarefa de o substituir, numa hora particularmente difícil e numa tarefa eriçada de dificuldades, nem a esperança, mais, a confiança que ponho no actual Chefe do Governo me fará jamais esquecer tudo quanto o País deve, em todos os sectores da vida pública, a quem, durante quatro décadas e através das maiores dificuldades e múltiplas vicissitudes, esteve sempre, atenta e genialmente, ao leme desta grande o gloriosa nau que é a Pátria Portuguesa!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E será talvez a altura de recordar, mais uma vez desta tribuna, a certas memórias menos fundadas e em breve síntese, o restauro financeiro efectuado; a recuperação da dignidade e do prestígio nacional, de há muito perdidos; o ressurgimento económico de um país pobre, embora rico de exemplos e de atitudes, mas onde tudo quanto por ele se faz requer trabalho intenso, tenacidade constante, serena análise das reacções encontradas e devotada e permanente atenção aos fenómenos produzidos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Parece tornar-se ainda indispensável, e infelizmente lembrar a alguns, a extraordinária percepção de um estadista que, contra- «ventos da história» que então sopravam fortes numa Europa hostil e à beira, do descalabro político, chamou a si a responsabilidade, numa hora de dúvida e de, receio, de alinhar com as forças de ordem contra o caos que caíra sobre a nobre nação vizinha, que se debatia numa sangrenta guerra civil, desencadeada pelo comunismo internacional e com a conivência criminosa de algumas nações ocidentais.

Combatia-se ali não por uma civilização em perigo, mas pela civilização de, que fomos pioneiros no Mundo, e se encontrava agonizante.

Portugal inteiro tem de recordar de joelhos a heróica atitude de Salazar, cheia de serena firmeza e lucidez inigualável, assumida perante o conflito mundial de 1939-1945, que abalou a Humanidade, não se deixando arrastar pelos cânticos de uma vitória que parecia iminente, nem mais tarde, pela reviravolta que o tempo e os deuses da guerra operaram quase miraculosamente.

Sem trair nunca compromissos assumidos, quando ainda se podia acreditar na palavra dos estadistas das grandes potências mundiais e na dignidade de certas nações, Portugal foi o vencedor incontestável dessa terrível provação que abalou o Mundo, sem sacrificar pelo interesse de terceiros, nem a sua juventude, nem a sua economia laboriosamente reorganizada.

E a gratidão que na altura, até no campo internacional, muitos demonstraram, foi bem a consagração do acerto de uma política genialmente conduzida e que bem pode afirmar-se ter constituído a pedra de toque da política peninsular seguida na emergência. Sem Salazar, o que se teria passado?

Ninguém deve esquecer, e muito menos ignorar, a extraordinária firmeza e a lucidez com que se governou, num pós-guerra explosivo, em que se sucediam golpes e contragolpes, numa guerra de nervos arrasante e que, por mais de uma vez, abalou as potências vencedoras, colocando-as à beira- de nova e catastrófica conflagração mundial. O prestígio alcançado por Portugal impunha-o ao Mundo, e a sua moeda era das mais fortes e das mais estáveis no campo económico e financeiro internacional.

Nem o poder do dólar, nem a força das doutrinas vindas do Leste, tinham conseguido abalar a posição deste país, que, na Europa e no Mundo, continuava a dar um salutar exemplo de unidade e constância política, que, não esquecendo um passado de mais de oito séculos, nos permitia enfrentar confiantemente o presente, trabalhando para o futuro.

E os acontecimentos vieram sempre a dar razão e clarividência da política externa seguida por esse homem admirável, que, na história do Mundo, e em pleno século XX, soube tomar uma posição que se sobrepôs àqueles que, governando impérios, embora episodicamente vencedores, haviam de vir a destruir-se, quase que completamente, nos escolhos por eles criados e colocados na rota que inevitavelmente haviam de trilhar.