O Sr. Colares Pereira: - Sr. Presidente: Preside V. Ex.ª hoje a esta sessão por dever do honroso cargo em que foi investido, e também por uma obrigação, que, essa muito lhe pesa: a doença do Prof. Doutor Mário do Figueiredo, a quem eu, por intermédio de V. Ex.ª, e certamente com a concordância de todos os Colegas, peço qua transmita, com o respeito e amizade, que lhe tributamos, o nosso sincero desejo das suas rápidas melhoras.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E agora são para V. Ex.ª os meus melhores cumprimentos, que vão cheios da admiração que tenho pelo seu alto espírito, e com a grande, amizade que lhe tributo e de que muito me honro.

Sr. Presidente: Pedi a palavra para uma vez nesta Assembleia, falar de alguém que a morte levou.

É o triste jus da minha idade que me fez ainda desta vez ser eu a invocar aqui um colega desaparecido.

Sou do tacto, o mais antigo entre os Deputados que têm tido a honra do representar, nesta legislatura, o círculo de Leiria.

É assim que me tem cabido como hoje a triste obrigação de em

nome deles, recordar um Deputado pelo nosso círculo, infelizmente desaparecido.

Só esta obrigação é sempre triste, hoje ainda o é mais pois vou falar-vos do nosso colega, que foi meu querido amigo, o Deputado engenheiro Mário Galo.

Estão todos VV. Ex.ªs a vê-lo, além, Daquela bancada, nas suas últimas filas.

Alto, moreno vigoroso e de uma simpatia e educação invulgar e esmerada.

A sua inteligência ura profunda, e a sua lealdade jamais conheceu limites.

A dedicação pelos princípios que servia nunca sofreu sombra de sombra que pudesse diminuir a sinceridade, pois, de outra forma, já ele não saberia servir.

Sr. Presidente: Não estou preparado para trazer aqui um curriculum vitac do engenheiro Mário Galo, nem tão-pouco uma biografia, nem muito menos ainda uma resenha perfeita e sem omissões do muito que fez como engenheiro, industrial e político.

Limito-me a dizer-vos que o Deputado Mário Galo nasceu na Marinha Grande, estudou em Leiria e se formou em Lisboa no Instituto Superior de Agronomia, em Silvicultura, e nessa modalidade muito se evidenciou e largamente ocupou a sua actividade, quer no continente, quer na ilha da Madeira e nos Açores, onde ficou bem vincada a sua orientação em trabalhos da especialidade, todos do maior interesse, e alguns de extrema dificuldade.

Valiosos foram também os seus trabalhos de silvicultura e de engenharia no Pinhal D'El-Rei o seu sempre tão querido Pinhal de Leiria.

Espírito lúcido, carácter de excepcional honestidade mental, profissional e política, tinham forçosamente de levar o engenheiro (Mário Galo, no decurso da sua vida, a ser admirado por todos, e disputado por muitos, para lugares cimeiros na vida industrial portuguesa.

Presidente da comissão distrital de Leiria da União Nacional, procurou sempre fazer o que entendia ser o espirito da sua missão - estender, com cuidado e segurança, uma ponte para ligar, se possível, as duas margens do inevitável riu que teima em separar os homens.

Como governador civil, substituto, procurou sempre fazer reverter para a pessoa que substituía o governador civil Olímpio Duarte Alves, que muito considerava e estimava, todos os êxitos que lhe granjeavam, a ele Mário Galo - sem os procurar -, o seu espírito de justiça, a sua simpatia e afabilidade, generosamente distribuídas.

Sr. Presidente: Foi propositadamente que deixei para o final desta minha invocação, a sua actuação como Deputado, nesta Assembleia.

Atento aos problemas, quando se sentia já seguro de bem os conhecer, nunca hesitou em pedir a palavra para louvar ou criticar, mas sempre com palavras judiciosas e uma sinceridade comunicativa e aliciante.

Era um prazer escutá-lo; havia sempre nas suas intervenções motivo de reflexão, e quase sempre de aplauso, tão grande se mostrava a razão de ciência na crítica ou no louvor.

Foi esse o colega que nós perdemos, e eu, um amigo de há longos anos e que não esqueço.

Sr. Presidente: Pobres palavras foram as, minhas para o recordar, mas pobres e pequenos somos todos os que estamos em vida quando nos pomos a falar na morte.

É sempre ela que nos vence, como muito bem o sabem, sentem e sofrem, todos os que vão perdendo os seus amigos mais queridos.

A vida é lâmpada acusa: vidro e chama: vidro que um sopro faz, e chama que outro sopro apaga.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. José Manuel da Costa: - Sr. Presidente: Iniciamos o Ano Novo na transcendente presença do nosso Grande Ausente e, no nosso íntimo, deploramos o estarmos por algum tempo privados da direcção sábia, firme e amiga do nosso presidente da Assembleia Nacional, o companheiro e mestre querido e respeitado de todos nós que é o Prof. Mário de Figueiredo.

Possa Deus atender os nossos fervorosos votos pela saúde e pela vida de ambos, tão unidos sempre na vida e nos trabalhos, e agora quase em tempo próximo atingidos pela amarga contingência da humana condição, para todos implacável, hoje por ti, amanhã por mim, qualquer que tenha sido o ponto de ascensão na vida, mas igualados todos no drama da existência, todos vergados à fragilidade do ser e do não ser e ao poder imponderável da divina vontade.

Por mais intenso que seja o alcance da nossa mágoa, que Deus seja por tudo louvado, pois são os Seus desígnios bem mais altos e profundos do que os nossos sentimentos, as nossas forças ou as nossas vontades.

Sr. Presidente: Não é de minha índole nem do meu gosto ser habitualmente nesta Assembleia uma voz amargurada e dolorida que evita sempre louvar os vivos por pudor moral, mas entende não abandonar os mortos entregues à sua própria morte, mesmo sabendo que aqueles que partiram primeiro mais pedem, as nossas orações por