sua alma do que qualquer oratória profana perante os vivos, que nada afinal, acrescentaria a quanto é transitório e vão neste curto lapso de tempo em que o homem nasce, estuda, trabalha, se agita e vive no estreito pedaço de infinito que é a sua passagem no mundo das realidades.

Num breve lapso de tempo foram cortados da vida alguns camaradas e companheiros, os quais, cada um em seu campo de acção e segundo seu modo e temperamento, nunca afrouxaram no entusiasmo, não reduziram energias e não se afastaram da linha de atitude mental que se foi traçado nos anos dramáticos anteriores a 1926 e puderam ser assim obreiros certos e teimosos, nos riscos e nos perigos, do Movimento Nacional de 28 de Maio, e em consequência, soldados até à morte da Revolução Nacional que vai agora prosseguindo seus caminhos sob o mando, patrocínio e responsabilidade de um mais salientes e consagrados pensadores dessa geração e companheiro indómito dessas horas já longínquas muito graves, mas sempre empolgantes e inolvidáveis: Marcelo Caetano.

Chamo aqui à nossa presença política quatro companheiros que o meu coração comovidamente relembra sem saudosismo mórbido, mas com humana e sentida saudade e mais: com plena consciência política de que a sua perda enfraqueceu as fileiras do nacionalismo português e as suas vidas eram ainda positivos valores de acção, não obstante o desgaste dos tempos e a usura de vidas cedo começadas e sempre perigosamente vividas, porque esses companheiros não vieram nas horas doces e afortunadas, porque já lá estavam antes nos tempos sombrios, inquietos e trágicos da vida nacional.

Estou referindo-me a Fernando Amado, a Álvaro da Rocha Cabral, a Rogério Vargas Moniz, a Luís Quarlin Graça.

Agiram eles de modos vários e em campos diversos de actividades, mas todos obedeceram sempre ao ideário social e político, que veio, afinal, a ser a essência em que se consubstanciaram os proveitos fundamentais da orgânica jurídica e política sobre que ainda assenta a vida colectiva da Nação.

Fernando Amado preferia viver a vida no puro plano intelectual e artístico; o aparentemente robusto Rocha Cabral não o deixou a saúde dar voos maiores à sua integridade de convicções; Vargas Moniz e Quarlin Graça foram excelentes pessoas e excelentes profissionais e puderam estar sempre prontos a servir lá onde o interesse nacional o exigia e impunha e sempre que a estrita obediência política o determinava. Ambos membros do Governo, Vargas Moniz foi Deputado nesta Casa, e Quarlin Graça, procurador, ali ao lado, na Câmara Corporativa e a um e outro nunca ninguém os viu ausentes nas horas duras e incertas, ninguém os via descrentes dos propósitos ideais por que sempre se nortearam, ninguém os viu especialmente acarinhados pelos serviços que iam prestando e também verá as famílias que deixaram viverem mais além daquela mediania material em que é lícito viver a descendência de qualquer bom técnico nesta nossa acanhada e humilde sociedade burguesa.

A todos eles devia esta evocação o meu fraternal sentimento de amizade e camaradagem, mas penso que a Câmara não ficará insensível ao intuito político que me moveu em plena consciência das realidades e sem juízos subentendidos.

A mim me basta, com estas modestas palavras de emoção e de respeito, ter podido com elas reivindicar e reafirmar fidelidade e lealdade a tudo e a todos com quantos venho desde há já longos anos compenetrado e unido no que sou e no que penso. E tanto mais consciente o faço quanto é certo que, nos tempos que correm, os mortos vão cada vez mais depressa! E cada vez nos fazem mais falta!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Fernando de Matos: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: A mensagem do venerando Chefe do Estado dirigida a todos os portugueses no começo do novo ano contém uma relevante e honrosa passagem relativa à cidade do Porto e no seu município, a qual justifica plenamente uma memoração nesta Assembleia, feita por quem durante oito anos de vereador, acompanhou a fase intensa dos empreendimentos focados.

No entanto, dado que estou usando da palavra pela primeira vez após o impacto tremendo da doença que prostrou implacavelmente o Doutor Salazar e provocou a vocação do Doutor Marcelo Caetano à chefia do Governo, não se me compadece o ânimo nem a sensibilidade com o prosseguimento de quaisquer considerações sem que, antes de tudo, deixe transbordar uma breve meditação de homenagem, de justiça e de confiança.

Tudo quanto já foi dito e escrito, laudativamente, a respeito do Doutor Salazar é digno e justo.

É por todos os que tiveram uma palavra ou albergaram um sentimento de consternação, de estima, de ternura ou de veneração exprimiram-se inexcedivelmente SS. Ex.ªs o Chefe do Estado e os Presidentes do Conselho da Assembleia Nacional, da Câmara Corporativa, por suas próprias pessoas e em representação, quer geral, quer diferenciada de toda a Nação Portuguesa.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Apesar disso, parece inerente à responsabilidade assumida perante o distrito que me honrou com o mandato parlamentar, e perante esta Assembleia que benevolamente me acolheu deixar consignada uma palavra sentida que, para todos os efeitos confirme uma incansável e desinteressada dedicação e uma comprovada coerência e que escape à lei uniforme da diluição a que estão sujeitas as reflexões avulsas e meramente orais.

E como a idade outonal me vai fornecendo maior poder reflexivo e a posse de mais elementos de confronto, quer vivenciais, quer históricos, não poderá ser levada à conta de mera vibração apologética ou sentimental, mas de fundamentado produto de operação intelectiva a inexcedível admiração que outro pelo homem que á Pátria deu o seu génio e a sua vida.

Disse, numa entrevista, Boris Pasternak que os passos de Deus contam pela medida dos séculos. É uma observação agudíssima que muito me impressionou e algumas vezes tenho citado.