Os passos das pátrias contam-se por décadas e por séculos também. A entrada do Doutor Salazar para o poder representou um passo dessa medida.

Que o foi, não pode sofrer objecção de nenhum espírito que, serena e objectivamente, pondere a profundeza e vastidão da obra realizada sob a sua direcção, inspiração e chefia, não só nos seus aspectos positivos, como na sua valia premonitória das desgraças a que a nossa pátria sacrossanta poderia eventualmente ser arrastada pela acção negligente de alguns dos seus filhos sugestionados por inadequados figurinos políticos e ideológicos estrangeiros, em preterição das puras essências das nossas tradições históricas.

Em suma, há sempre que considerar a que foi feito e o que foi evitado.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Não é preciso relembrar o vastíssimo e omnímodo repositório da obra encetada em todos os domínios da vida nacional.

Está a vista de toda a gente.

É a própria evidência.

A evidência, de per si, é um argumento.

Argumento avassalador, porque se impõe a quem tenha os olhos abertos e o espírito desanuviado, sem necessidade de demonstrações, raciocínios ou artifícios dialécticos de persuasão.

Por isso se pode afirmar que a evidência se mostra, não se demonstra.

E, porque se mostra, todos os sectores da população a podem analisar, independentemente, de cultura e de condição social o económica.

Através de Salazar, a Pátria reencontrou-se na sua dignidade, na sua glória, e na sua missão no mundo, apesar de submetida a dramáticas provações, a temíveis e artificiosas pressões e a diabólicas conjuras.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Discriminar pouco e em pouco tempo é diminuir.

A história há-de ser feita, ordenada e sistematizada, de harmonia com os seus específicos métodos.

E quanto mais se alargar na indagação, se aprofundar na interpretação e se demorar nos horizontes da repercussão, mais avultará a estatura insigne de quem foi centro dela nos últimos quarenta anos.

Não resisto, porém, a exarar três ligeiras anotações relativas às estruturas políticas internas, às enérgicas medidas de repercussão internacional e à elaboração e expressão de um pensamento verdadeiramente antológico.

Nos sectores visíveis da administrarão pública, através da laboriosa edificação de uma estrutura político-administrativa inspirada no nosso peculiar modo de ser e de estar no mundo, foi possível dar aos Portugueses a tranquila sensação de viverem habitualmente, elaborando planos de vida de longo prazo, trabalhando e progredindo, sem receio de convulsões, de sobressaltos, de bombas e de incerteza, que constituíam as notas predominantes do regime anterior.

Essas estruturas reflectiram-se favoravelmente, não só nos interesses materiais do conjunto da Nação, como também no dúctil condicionalismo psicológico, moral e social, que determina as atitudes conscientes ou intuídas de um povo, perante um regime, o seu ideário e os seus governantes.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Salazar disse, como já aqui foi idoneamente relembrado, que a obra do Regime podia ser realizado com outros homens, mas não com outros princípios.

É que não há política sem princípios. Sem estes, as determinantes da conduta pública dos homens serão os interesses ou as paixões, ou aquela gama de sentimentos indefinidos que vagueiam entre o cérebro e o coração, como belamente escreveu Teixeira de Pascoais.

Ora, que os princípios pré-vigentes eram inadequados e perniciosos, já Almeida Garret o deixou subentendido profeticamente, embora manifestando a esperança de progressiva adaptação posterior e de consequente utilidade geral.

No entanto, é sabido que essa generosa esperança sempre se mostrou frustrada.

Com efeito, o que o ilustre escritor disse em 1854 foi mil vezes repetido posteriormente até 1926:

Devemos acreditar [escrevia o vaté de D. Branca]. com muitos filósofos e secretários modernos, que pertencemos a uma raça degenerada e incapaz, por sua condição e carácter, do sistema representativo, cuja beleza e perfeições nos não seja dado senão admirar, mas jamais praticar e gozar?

E disse ainda:

É facto espantoso e tremendo que com o sistema representativo liberal é impossível que nenhum estado seja pior governado do que o nosso.

E sintetizava:

O que está é péssimo, insuportável, intolerável. Os juizes queixam-se dos jurados, os jurados dos juizes, os administradores de ambos, todos das leis, e o povo de tudo. E todos têm razão.

Note-se que intencionalmente me abstenho de referir depoimentos dos tempos que precederam o 28 de Maio, pois só confirmariam os que ficam expressos. O que pretendo frisar é que a história demonstra apodìticamente que os juízos do visconde de Almeida Garrett se devem reportar ao regime e não aos homens que o consubstanciavam, pois muitos deles eram honrados e inteligentes.

E, incidentalmente, direi que é erradíssimo supor que a época actual é outra, no sentido de dirimir aquela conclusão, porquanto é realmente diferente o condicionalismo contemporâneo, mas com pior cariz, por inserção dos condimentos vermelhos fortemente intoxicantes.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - É que o postulado liberal com que se embeveciam os intelectuais e políticos é falso.

Não pode ser aplicada ao homem, com todas as suas consequências, a exacta noção do ser livre como no-la dão os mais profundos filósofos e sociólogos e que Spinoza tão bem define na sua Ética, pois o homem não existe exclusivamente pela necessidade da sua natureza, nem é determinado a agir unicamente por si, isto é, com absoluta autonomia.

O erro nos princípios, mesmo pequeno, torna-se sempre grande nas aplicações. Em sentido lato, é o que os Latinos já diziam sensatamente: Parras error in principio maximas est in fine.

É certo que nem só os princípios importam, mas também os homens. Aqueles só rendem plenamente quando os governantes de todos os escalões possuem a adequada formação e idoneidade, isto é, quando estão revestidos