tempo ao verificarmos que o médico das caldas recebia por dia, para comedorias a choruda quantia de 150 réis.

A estas termas vinham então procurar alívio, não só os ricos e remediados, mas também grande número de pobres que ali eram tratados e assistidos com maior sentido da caridade cristã.

Cerca de 250 em cada época termal, número muito superior ao daqueles que tem sido possível socorrer nestas últimas duas décadas, em que tanto se fala em assistência médico-social.

O tempo foi correndo e com ele se foi desactualizando o equipamento, envelhecendo as instalações, que tinham também cómodos, para albergar doentes.

Apesar das exigências da vida moderna, que pede mais comodidades e melhor higiene, e do aparecimento de novos medicamentos e processos de tratamento no sector da reumatologia, as caldas de Monchique vieram, até aos nossos dias, mantendo uma frequência anual de cerca de 1 milhar de doentes, impressionante, se tivermos em consideração o grau de incomodidades de que se revestem os tratamentos, por longas esperas e os alojamentos, por deficientes.

Não diferem muito os ataques em número de ano para ano, mas diferem em qualidade. Os mais exigentes e os espanhóis, que em grande número as frequentavam, deixaram de vir, por terem procurado outras termas que lhes oferecem melhores condições e mais atractivos.

Até 1932, as comissões administrativas que sucederam a um período de gerência de concessionários têm-se limitado a manter e a conservar o existente, com os magros recursos próprios e únicos de que tem disposto.

O Governo muito solicitado, deu então conta de que tinha nas Caldas do Monchique um património maternal e espiritual a defender, dando disso público testemunho no preâmbulo do decreto n.º 20 816, de 1932, que deu novos poderes à comissão administrativa, que por sua delegação administra as termas, aos escrever:

...achando-se em lamentável atraso, sob todos os aspectos, essa estância termal de velhas tradições terapêuticas e com larga clientela, não só nacional mas também estrangeira, urgindo em consequência, modernizá-la e engrandecê-la tanto quanto ela merece pelos seus dons naturais e tão depressa quanto isso imposta aos interesses nacionais.

Depois e obedecendo a este pensamento, o saudoso Ministro Engenheiro Duarte Pacheco, insigne algarvio, depois de visitar as Caldas do Monchique, defendeu e obteve, em Conselho de Ministros a aprovação de medidas destinadas a modernizar e a valorizar a estância termal, não por bairrismo, mas como homem de rara intuição por tudo o que representava verdadeiro interesse nacional.

Seguiu-se o planeamento das obras. Na sua execução foi dada prioridade à construção de uma oficina de engarrafamento de água termal, segundo a mais aperfeiçoada técnica e em razão do merecimento das águas. Isto porque se contava conseguir um apoio financeiro, por meio da colaboração no mercado das excelentes águas medicinais embaladas nas melhores condições, para alivias deste modo o Estado do custo das obras.

Até hoje esse apoio não se processou substancialmente por falta de provada capacidade comercial da firme concessionária do exclusivo da distribuição e venda da água engarrafada, mesmo depois de um ajustamento do contrato inicial, que tinha sido aceite em condições incomportáveis.

Terminada a concessão e conhecidos todos os inconvenientes do sistema, é oportuno medir as dificuldades e rever os acontecimentos para estabelecer as normas que devem orientar a administração das águas engarrafadas, a fim de que se tire delas o maior rendimento, inclusive o sistema de administração directa exercida pela comissão administrativa das Caldas do Monchique.

Assim evitaria que ficassem mãos dos intermediários tão fartos lucros que resultam do facto - por exemplo - de uma garrafa de litro de água mineral natural, que sai da oficina por $80 e mais $50 de importo, se vender correntemente nos restaurantes e hotéis doa Algarve por 6$ e 7$.

Não se compreende facilmente que nesses hotéis e restaurantes raramente se dê conta da presença de água das Caldas e que os distribuidores se encontrem irregularmente abastecidos, quanto se verifica em toda a província um elevado consumo de águas minerais das mais distantes proveniências que não as superam em qualidade e apresentação.

Não é inteiramente destituída de fundamento a ideia de procurar no rendimento de comercialização das águas uma receita apreciável que ajude a Administração a encarar de vez e com êxito a solução dos problemas que afligem as Caldas de Monchique.

Depois de instalada a oficina de engarrafamento da água termal e posta a funcionar com o mais moderno equipamento e melhores preceitos higiénicos, iniciou-se a construção de um hospital para manter e melhorar a tradição assistêncial das antigas termas.

Este ficou concluído nos primeiros meses de 1966, mas ainda não funciona como hospital, apesar de ter sido devidamente apetrechado para tal, desde as roupas e utensílios de toda a ordem até aos especializados equipamentos médicos, como sejam:

Raios X.

Câmara escura.

Fisioterapia.

Ar comprimido.

Hidroterapia.

O caso deste hospital, onde se gastaram milhares de contos e que se destinava a substituir aquele que foi demolido e tinha sido fundado por provisão régia de 1691, é digno de uma viva referência, porque é único dentro de uma administração que se tem revelado operante e bem orientada.

Como presidente que fui da comissão administrativa das Caldas de Monchique, logo me apercebi, seguidamente à minha posse de que pari passu com a construção do hospital, se deveria assentar na finalidade que os tempos actuais exigiam e preparar o seu funcionamento.

Diligenciei pessoalmente junto do Ministério das Obras Públicas, que o estava a construir do Ministério das Finanças, em cujo património se localizava do Ministério da Saúde, responsável pela política da saúde pública interessar estes departamentos para que se chegasse ao fim sem se saber o que lhe havia de fazer.

Foi infelizmente, o que de facto aconteceu.

Para o evitar, a comissão administrativa pôs a seguinte questão aos Ministérios das Obras Públicas e das Finanças:

Ignora-se se e em que termos, a administração do hospital lhe será entregue. Dadas as dimensões da construção, natureza de equipamento e quantidade e categoria de pessoal exigido, não dispõe a comis-