Portugal e o Brasil e em geral os núcleos populacionais de expressão portuguesa espalhados pelo Mundo.

Mais do que isso, paule apurar que foi aprovada uma proposta do ilustre presidente do mesmo Congresso para a criação de um "Instituto Leste-Oeste... dependente dos Estudos Gerais Universitários de Moçambique", o qual, na sua forma inicial, deveria ocupar-se do seguinte: Ensino das grandes línguas veiculares, incluindo o chinês, o japonês, o árabe, o swahli, o português, o francês e o inglês;

Para além da estranheza que possa provocar o ver-se a língua portuguesa arrolada em pé de igualdade com os mais exóticos idiomas, com menosprezo de uma prioridade que se me afigura clamorosamente realçável, esta proposta traz em si o reconhecimento de que o ensino da língua portuguesa constitui uma preocupação dos mais notáveis espíritos. E perfilha também a ideia de que tal ensino poderia acolher à sombra tutelar, e já vasta da jovem Universidade moçambicana.

É também de um ilustre congressista este passo digno de realce:

A língua portuguesa tem de ser o veículo por excelência, único veículo, pelo qual alcancemos o sentimento de unidade que nos fará irmãos unidos dos outros, irmãos mais conscientes uns dos outros.

Sr. Presidente: Nas três exposições que fiz a esta Assembleia nada trouxe que não seja do conhecimento de V. Ex.ª, a minha contribuição limita-se a demonstrar que os caminhos seguidos não os mais eficientes, nem económicos, nem rentáveis, nem satisfatórios. Porque o problema habitacional o ruralato africano ligado no cooperativismo agrário e de formação (escolas, desperto, serviços de saúde) e a difusão da língua têm sido largamente debatidos e até esboçada a sua solução. Porém, improvisadamente, quando o que se pretende é um planeamento geral e regional, um planeamento real, com aproveitamento dos municípios já conhecedores das implicações regionais, que receberiam as directrizes do grupo de planeamento sem necessidade de burocracias entorpecentes. Portugal é rico de cérebros, mas é necessário estimulá-los e fazê-los produzir.

Há bem pouco tempo contactei, em Paris, com uma personalidade de um estado africano independente, que, entre outras coisas me disse o seguinte:

Os povos africanos estão desmoralizados. Eles notam diariamente cavar-se o fosso entre os beneficiários da assistência ocidental e as populações miseráveis. Isto é verdade, meu caro, não só nos países socialistas, como nas repúblicas. Nuns, como noutros, os grupos de militares deitaram a baixo os regimes estabelecidos. Que é que mudou? Mudaram os que habitavam os palácios de mármore; mas são sempre os mesmos os que estão na rua. Rasgar canais, estradas e vias férreas no solo adusto dos sertões, construir portos, navios, fábricas e cidades, criar indústrias, desenvolver e comércio e adoptar formas superiores de administração pública, sem previamente ter promovido, por intensivos processos educativos e pedagógicos a consolidação dos alicerces sociais - a moralidade e a instrução -, é edificar um templo grandioso sobre a areia movediça da boçalidade e da ignorância. A ajuda é um divertimento. Não representa grande coisa, nem para os dadores, nem para os receptores, serve, sobr etudo, para desenvolver os defeitos dos regimes africanos e vermos as democracias a manter sem vergonha as ditaduras militares, e vice-versa. Não há dúvida, a corte que se fazem mutuamente as figuras gradas dos campos aparentemente contrários é talvez o espectáculo mais divertido e mais triste do século. A balcanização da África não cessa de se acentuar. Regressamos a uma forma avoenga da história, muitos estados, muitas assembleias, muitos governos, ministros e embaixadores... Para quê? Um dia será necessário recomeçar, mas a partir do zero!

Estas as palavras da referida personalidade, cheias de amargura e tristeza.

Não resisto também à tentação de ler a V. Ex.ª duas cartas, uma de um português evoluído, outra de um menos evoluído:

O problema habitacional que ainda hoje, infelizmente, não teve a solução que todos esperam, bem assim o do ruralato, questão basilar para a estabilidade das populações nativas nas suas respectivas regiões originárias, são assuntos que merecem a melhor atenção de todos aqueles que pretendem ver esta terra progredir.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:

Ao contrário do que sucedeu nas regiões do Norte, deste Inhambane, no Sul não se conhece, por assim dizer, preto proprietário de umas terras; no entanto, antigamente, eram de pretos todas as terras baixas e de machongo, onde os nossos avós cultivam arroz, batata e outros produtos, e nunca havia fome, mas todas as baixas foram objectos de concessão a chineses gregos e asiáticos, que são hoje os senhores dessas terras ricas, sendo o Africano empurrado para a terra solta onde a agricultura é difícil por causa da irregularidade das chuvas. Não existe, no Sul, uma única propriedade que seja antiga e que se diga esta é da família tal, como, por exemplo, em Inhambane e em Quelimane. Foi, portanto, oportuna a sua intervenção. [Etc.]

Dotor Manuel Nazaré - Falou Assembleia Nacional dar enchada boi arado a nosso irmão de cor, nosso não ter coroa fazer casa como branco, terra não aguenta pagar nosso, vem contrato trabalhar plantação chá, nosso é xuabo não ser especionado per dotor, nosso irmão cor cem duente trabalhar, dotor não vê gente, nosso mal comer mal palhota mal, lenha agua não nos compondes de trabalho zambesia plantações fabricas. Patrões tratam mal, dotor não dá gessão remedio doenças. Falar dotor do trabalho cá. Ver cá no trabalho da Zambesia, tudo dizer assembleia ouvir consulta Postos Medicos, plantações empresas fabricas, não falar patrões, falar dotor enfermo, o nosso doente, casa mato, vai lenha agua fazer comer. Manta não tira frio, malata cabedula não aguenta trabalho.