Não dizer ser deputado vir ver no trabalho nos Postos Medicos ser tratado nosso irmão cor.

Nosso irmão cor.

Por estas duas cartas, entre tantas recebidas, reconhece-se que não há ódios raciais, mas sim ressentimentos acumulados de que nos devemos desembaraçar para evitar mal-entendidos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A solução consiste em encontrar o grau de integração suficiente para permitir que a economia se desenvolva em bases humanas, com a consequente descarga da tensão psicológica acumulada de parte a parte.

Houve muitas preocupações com instituições e poucas com os homens!

O pensamento de todos deve partir do conceito de que o homem é a razão da história.

No decorrer das minhas viagens tive o prazer de conhecer espíritos lúcidos e compreensivos de diversas latitudes e raças. E, como se fala agora muito de independências, estive tentado a perguntar-lhes o que entendiam por independência. Porém, aceitei, para mim, que os países serão tanto mais independentes quanto melhores forem as suas dependências, direi mesmo, quando maior for a liberdade para a escolha dessas dependências.

E como não há liberdade sem disciplina, há que disciplinar a população facultando-lhes as indústrias de base: educação e instrução, desanuviando assim os horizontes que ainda se mostram muito sombrios.

O destino do Mundo está cada vez mais ligado ao fenómeno da interdependência das nações. As distâncias e as fronteiras são, de dia para dia, cada vez mais ilusórias! É necessário fazer comunicar os universos e escutar o testemunho de cada um deles! Os homens não perdem nem o sentido da Nação, nem o gosto da liberdade!

Sr. Presidente: Cumprindo o meu dever perante a Nação e procurando interpretar os anseios das populações de Moçambique, por três vezes ocupei a atenção da Assembleia expondo algumas deficiências básicas da nossa orientação ultramarina e sugerindo providências capazes de solucionar, em meu entender, os mais instantes problemas de Moçambique.

Usei uma linguagem simples - a única que está ao meu alcance e se coaduna com a minha maneira de ser e com os hábitos que adquiri num género de trabalho em que se cultivam no máximo grau, a eficiência, a exactidão, a rapidez e a clareza.

Talvez a falta de um estilo trabalhado e a ausência de atractivos tornais subtraindo todo o mérito literário às minhas exposições distraíssem a atenção dos ouvidos mais exigentes; talvez também as soluções que apontei - e julgo intuitivas - pecassem por excessiva singeleza perante a mentalidade de profundos conhecedores do mecanismo governativo do ultramar afeiçoados a complexas lucubrações, cujo limiar de sensibilidade não logrei atingir.

Não me custará reconhecer o insucesso que possa imputar-se à minha falta de qualidade aliás logo confessada no início desta missão quando era ainda tempo de ser entregue em melhores mãos.

Penso, porém que a importância verdadeiramente excepcional dos temas versados, só por si deveria bastar para atrair a atenção geral e despertar as maiores preocupações nas consciências bem formadas e verdadeiramente devotadas ao interesse nacional.

Fica comigo o convencimento de que no desempenho do meu cargo cumpri o meu dever e em questões de mais elevado patriotismo não foi ultrapassado.

Seja como for, sem dotes oratórios, sem exaustivas e inúteis demonstrações de verdades históricas e axiomáticas, sinto-me feliz pela oportunidade de nesta Casa - onde tantos homens ilustres mostraram o seu patriotismo -, ter podido erguer a minha voz com o mesmo propósito de contribui com toda a dedicação e entusiasmo para o engradecimento de Portugal.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Veiga de Macedo: - Peço a palavra.

O Sr. Presidente: - Tem V. Ex.ª a palavra.

O Sr. Veiga de Macedo: - Ao abrigo do n.º 3 do artigo 50.º do Regimento, requeiro a V. Ex.ª a generalização do debate dada a transcendente importância e flagrante actualidade do problema que o nosso ilustra colega Dr. Manuel Nazaré entendeu por bem tratar nesta Assembleia o que fez com superior eritério.

O Sr. Presidente: - Mesmo sem atender à fundamentação, que não era necessária, defiro o requerimento de V. Ex.ª

A conclusão da discussão deste aviso prévio, cujo debate foi agora generalizado, poderá talvez fazer-se na próxima semana. Seguir-se-á depois a discussão do projecto de lei do Sr. Deputado Abranches de Soveral sobre a alteração à base XII da Lei n.º 2114. Suponho que esta discussão não ocupará mais de uma sessão pelo que penso marcar a seguir para ordem do dia o aviso prévio dos Srs. Deputados José Alberto de Carvalho e Elísio Pimenta sobre a defesa da língua portuguesa. Ex.ªs sabem que sou partidário do funcionamento o mais frequente possível das comissões porque ali os problemas podem ser examinados e discutidos com o à-vontade indispensável a trabalho profícuo. Como o nosso Regimento não permite que as comissões se reúnam durante o funcionamento efectivo da Assembleia, é aconselhável quando há algum problema de especial interesse e as circunstância: o permitam, não haver sessão plenária para que o problema possa ser devidamente estudado na respectiva comissão. É o caso do aviso prévio dos Srs. Deputados José Alberto de Carvalho e Elísio Pimenta sobre a defesa da língua. A matéria é de si mesma delicada e tenho notícia de que há muitos Srs. Deputados desejos de participarem no debate.

Nestas condições, não darei sessão amanhã convocando para a hora regimental a Comissão de Educação Nacional, a fim de se ocupar daquele aviso prévio.

A próxima sessão será, assim na terça-feira próxima à hora regimental tendo por ordem do dia a discussão do aviso prévio do Sr. Deputado Manuel Nazaré.

Está encerrada a sessão.

Eram 17 horas e trinta minutos.

Srs. Deputados que entraram durante a sessão:

André da Silva Campos Neves.

Antão Santos da Cunha.

António Augusto Ferreira da Cruz.

António Calheiros Lopes.

António Magro Borges de Araújo.